Com uma alta de quase 70% no ano, as ações do Nubank podem encontrar um caminho mais difícil pela frente. Pelo menos é o que apontam as primeiras leituras do mercado após a divulgação dos números do terceiro trimestre da companhia na última sexta-feira (15).
Nesta segunda-feira (18) as ações NU, negociadas na bolsa de Nova York, chegaram a cair quase 10% pela manhã, mas reduziram a queda para cerca de 3%. Apesar do lucro de US$ 553,4 (R$ 3,1 bilhões) milhões — alta de 82,6% ante o mesmo período do ano anterior —, analistas mostram preocupação com o crescimento das avenidas de receita da fintech, o que pode levar a um pé no freio nos planos de expansão.
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A inadimplência que assombrou outros trimestres parece estar sob controle e em patamares saudáveis, mas novas preocupações surgem no horizonte.
Nos últimos meses, o Nubank intensificou sua atuação nos segmentos de alta renda, pessoa jurídica e contas para menores de idade, mas o Itaú BBA aponta uma desaceleração forte de empréstimos e cartões que não foi compensada pela aposta de diversificação. O banco de investimentos cortou as suas recomendações para os papéis de “compra” para “neutro” e reduziu o preço-alvo para 2025 de US$ 17 (R$ 96,9) para US$ 15 (R$ 85,5) por papel.
“O Nubank segue tendo méritos que continuamos a admirar, mas temos que ter disciplina na avaliação dos papéis. Esse terceiro trimestre será um gatilho para uma revisão negativa das expectativas de lucro e, em nossa opinião, irá pausar estratégias de expansão”, explica o banco em relatório divulgado hoje.
Para o Itaú BBA, o vilão do momento são as margens financeiras menores, com os rendimentos de empréstimos e cartões caindo de forma sequencial, o que indica um fluxo positivo de receita menor do que o anteriormente projetado. O banco fez um corte de 17% em sua projeção para o lucro do próximo ano, a US$ 2,8 bilhões (R$15,96 bilhões), refletindo o que os analistas apontam como “cenário operacional desafiador”.
O que acontece com o Nubank?
O Itaú BBA aponta que a diminuição da receita do Nubank pode estar relacionada à “composição da carteira, limites regulatórios sobre cartões ou ao crescimento da carteira de empréstimos renegociados”. Argumento reafirmado pelo JP Morgan, que vê a taxa de renegociação virtualmente sem alterações após registrar 11,8% no semestre anterior. Isto se soma a um aumento dos custos de captação de clientes.
O banco americano vê a desvalorização do Real em relação ao Dólar também pode achatar as margens do banco nativo digital. Ainda assim, os analistas ressaltam que os benefícios da Lei do Bem, que dá descontos para empresas que promovem inovação e pesquisa, auxiliaram os resultados da empresa. O mesmo argumento é resgatado pelo BTG.
Para o Itaú, é necessário novos produtos, tempo e mais risco para que o balanço volte ao patamar anterior e uma atenção especial à carteira de crédito: como o banco investiu na ampliação da oferta e do tíquete médio, pode entrar 2025 (um ano que deve ser marcado por juros mais altos e um cenário mais desafiador) com problemas.
Número do trimestre
Receita operacional: US$ 2,9 bilhões (R$ 16,53 bilhões), ante a US$ 1,88 bilhão (R$ 10,71 bilhão) em 2023 no terceiro trimestre
Lucro líquido: US$553,4 milhões (R$ 3,15 bilhões), ante a US$303,0 milhões (R$ 1,72 bilhões) no mesmo período de 2023
ROE: 30.4% ante a 21% no terceiro trimestre de 2023