Divulgada na manhã desta terça-feira (17), a Ata da 267ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é um texto austero, que mostra o Comitê “desconfortável” com o cenário econômico e a trajetória para a inflação. “A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, é uma advertência clara.
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É possível notar que a Ata foi cautelosa com a parte fiscal e evitou críticas mais intensas à gestão das contas públicas. Diplomático, o Comitê disse que “manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”, que “desacelerações são parte essencial do processo de suavização e reequilíbrio da economia”.
Apesar de afirmar que “a conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito amplo segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada”, o Comitê defendeu apenas “a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”.
Consumo e crédito
No entanto, passada a parte diplomática, o texto não deixou dúvidas. “O cenário prospectivo de inflação mostra-se mais desafiador em diversas dimensões”, informa a Ata. “Em função da materialização de riscos, o Comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior.”
As razões são várias, e todas inflacionárias. “O ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo indica uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso, apesar da política monetária contracionista” são dois fatores importantes.
Para além disso, o vigor do crédito também é um ponto de preocupação. “Os mercados de crédito e de capitais têm surpreendido ao longo do ano, com crescimento de volume acima do que era esperado, apesar de taxas de juros elevadas”, informa o texto.
E isso tem consequências. “Ressalta-se que, apesar da resiliência da atividade, um ambiente de alta de juros, com nível de inadimplência e comprometimento de renda elevados, requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito”, informa a Ata. Em sua linguagem neutra e cautelosa, o Comitê está advertindo para os riscos de um aumento da inadimplência devido à alta dos juros.
Risco cambial
Outro fator de risco é o dólar. “A conjunção de uma taxa de câmbio mais depreciada com a elevação das curvas de juros nominal e real torna o ambiente mais complexo” e que “o repasse do câmbio para os preços aumenta quando a demanda está mais forte, [quando] as expectativas estão desancoradas ou [quando] o movimento cambial é considerado mais persistente”, informou o texto.
Daí a decisão não só de elevar a Selic em 1,00 ponto percentual para 12,25% ao ano, como também de contratar mais duas altas da mesma magnitude nas reuniões agendadas para janeiro e março de 2025. “A magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta”, informa o texto.