O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que as atuações da autarquia no câmbio visam mitigar disfuncionalidades do mercado, e não fazer frente a pioras em prêmios de risco, gerir a dívida pública ou fazer política monetária, ressaltando que a autarquia não busca um determinado nível para o dólar.
Junto de Campos Neto em entrevista coletiva em Brasília nesta quinta-feira (18), o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que o cenário de um ataque especulativo não representa o que está atualmente acontecendo no mercado financeiro brasileiro.
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“Não é correto tratar o mercado como se fosse um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só e coordenada… Eu acho que a ideia de ataque especulativo como algo coordenado não representa bem o movimento que está acontecendo no mercado hoje”, afirmou.
Galípolo, que assumirá o comando do BC em janeiro com o término do mandato de Campos Neto à frente da autoridade monetária, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe econômica concordam com essa avaliação.
Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o BC e o Tesouro Nacional atuam para coibir movimentos especulativos de mercado, defendendo que o trabalho do governo na política econômica é consistente.
De acordo com Campos Neto, o movimento recente de desvalorização do real pode ser explicado por uma saída atípica de recursos do país neste fim de ano, fruto de uma maior remessa ao exterior de lucros de empresas, que vêm apresentando resultados melhores, além de uma ampliação do envio de moeda por pessoas físicas.
O presidente do BC explicou que as intervenções da autarquia buscam contrabalancear esse fluxo de saída para mitigar disfuncionalidades nas negociações de câmbio.
Segundo Campos Neto, o BC não busca “mudar o rumo” do câmbio ou defender um patamar para o dólar ante o real com suas intervenções, mas “organizar o processo”.
“Não tem nenhum desejo do BC de proteger um nível de câmbio. O Banco Central tem muita reserva e vai atuar se necessário e a gente entende que este fim de ano tem um fluxo atípico muito grande”, disse.
Campos Neto argumentou que a intervenção no câmbio não pode ser pequena demais para que disfunções permaneçam e nem grande demais para que pessoas sintam que houve perda de capacidade de proteção.
O presidente do BC ainda pontuou que as intervenções não buscam combater uma percepção de mercado de que o prêmio de risco aumentou no país, justificando que em outros momentos de elevação da avaliação sobre risco pelo mercado a autarquia não atuou no câmbio e foi criticada por isso.
Ele também afirmou que o segundo leilão de câmbio realizado pela autoridade monetária na sessão desta quinta-feira ocorreu devido à demanda bem maior do que a esperada no primeiro leilão do dia realizado pela autarquia.
Mais cedo, o BC vendeu US$ 3 bilhões (R$ 18 bilhões) à vista em leilão anunciado na véspera e, uma hora depois, fez novo certame vendendo 5 bilhões de dólares à vista no mercado.
Após os leilões desta quinta, que elevaram o total vendido desde a semana passada pelo BC para mais de US$ 20,75 bilhões (R$ 127 bilhões), incluindo vendas à vista e leilões de linha, finalmente houve um alívio para o real diante de sua recente desvalorização.
Às 15:42, o dólar à vista caía 2,52%, a R$ 6,1099 na venda.