Investir em arte é uma das alternativa mais tradicionais de diversificar um portfólio, visando proteção contra a inflação no longo prazo. Porém, esse é um investimento mais sofisticado e arriscado do que os demais. Ganhar dinheiro requer conhecimento e tempo. As obras de arte não seguem padrões de mercado, não têm liquidez e não pagam dividendos. Só se ganha com a valorização da própria obra, comprando e vendendo por um valor maior. Assim, o melhor negócio é comprar obras no início da carreira de um artista e esperar retorno.
Aqui é possível contar com a ajuda do mercado financeiro. Os fundos de investimento dedicados ao setor compram e vendem obras, e os lucros são divididos entre investidores. Comprar obras de arte com avaliação e curadoria de especialistas e por meio de um fundo reduz o risco de adquirir falsificações e facilita o acesso, pois os valores são menores.
A fintech Hurst Capital está voltando ao mercado com uma estratégia de diversificação semelhante à do mercado de ações. Lançada em 2017, a Hurst Capital já estruturou R$ 3 bilhões em operações financeiras com ativos alternativos e líquidos, e foi uma das primeiras a criar investimentos dedicados a obras de arte.
Perfis diferentes
No início de dezembro ela lançou a operação financeira “Fine Art IV – Portfólio Consolidado”. A ideia é investir em artistas brasileiros com perfis de mercado e estratégias diferentes. Há obras de Luiz Sacilotto, considerado um artista conhecido e com nome estabelecido. Obras de Maria Polo e Walter Levy (reemergentes) e de Bernardo Liu, ultra contemporâneo e com maior potencial de valorização
Isso permite que a operação tenha performance em diferentes prazos e cenários econômicos. O aporte mínimo é de R$ 10 mil. As obras estarão bloqueadas para venda nos primeiros dois meses após o lançamento. A partir do terceiro mês, a fintech vai monitorar o mercado à espera de oportunidades. Após 24 meses, prazo final da operação, as obras serão oferecidas em leilão, nacional ou internacional.
“Essa operação é uma diversificação da carteira, até porque ativos alternativos não são correlacionados com o mercado financeiro tradicional e não estão sujeitos às oscilações comuns na Bolsa de Valores”, diz Ana Maria Carvalho, diretora da artk, empresa da Hurst Capital especializada em obras de arte.
Blue chips e startups
Luiz Sacilotto é um artista concretista. Suas obras têm alta demanda, reconhecimento e estabilidade no mercado de arte. Por isso, o artista é uma “blue chip”, termo do mercado de ações que significa empresas conhecidas e de alta liquidez. O mesmo vale para Victor Fidelis, cujo quadro “Petit Comite”, de 2023, ilustra esta reportagem.
Os reemergentes, como Maria Polo e Walter Levy, são artistas vivos ou falecidos que tiveram reconhecimento no mercado, mas suas obras perderam visibilidade e agora estão voltando a interessar os investidores devido à organização de exposições e retrospectivas. Quando as obras são adquiridas nesta fase é possível obter grande valorização nos próximos anos, diz Carvalho. A comparação é com ações menos negociadas e subvalorizadas.
Os ultra contemporâneos são artistas jovens em ascensão. A análise da artk foi realizada a partir do monitoramento de artistas entre o período de surgimento no mercado e inserção em galeria jovem, até o lançamento em feiras internacionais e entrada em galerias médias e grandes. “Todas as obras do artista Bernardo Liu estão destinadas a feiras e exposições em 2025, daí sua inclusão no portfólio”, diz Carvalho. Na comparação com o mercado acionário, as obras são startups com potencial de crescimento exponencial. Segundo a fintech, a operação Fine Art prevê rentabilidade base de 19,07% ao ano.