A empresa de private equity Lead Edge tem utilizado sua rede de investidores bilionários como seu ponto forte desde que Mitchell Green, 43 anos, a fundou em 2009. A Lead Edge foca em investimentos de crescimento, aplicando entre US$ 25 milhões (R$ 152,5 milhões) e US$ 300 milhões (R$ 1,83 bilhão) por vez em um portfólio de negócios voltados para software e internet. A maior parte dos US$ 5 bilhões (R$ 30,5 bilhões) em ativos sob gestão vem de mais de 700 investidores individuais.
Dessa forma, a companhia busca retornos anualizados na faixa dos 20%, esperando multiplicar de duas a cinco vezes seu capital em cada investimento ao longo de três a sete anos. Esses resultados têm sido bons para atrair parceiros limitados (LPs) e chamaram a atenção de compradores de participações em gestores, como Blue Owl Capital e Bonaccord Capital Partners, que adquiriram participações minoritárias na firma desde 2022.
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Entre os LPs da Lead Edge estão bilionários como Steve Cohen, Adam Foroughi e David Blitzer, além de executivos do alto escalão de empresas como Dell, Target, eBay e Bank of America. Green e sua equipe constantemente solicitam ajuda aos investidores, seja para introduções a novas empresas, seja para mentoria e aconselhamento aos negócios já presentes no portfólio.
“Conhecemos todas essas pessoas através umas das outras. Foi tudo boca a boca”, afirma Green. “Se você cumpre o que promete, gera confiança, e as pessoas te apresentam aos seus amigos.”
Quando a Lead Edge Capital, estava considerando investir na Toast, que desenvolve software de pagamento no ponto de venda para restaurantes, em 2017, Brian Neider, sócio da empresa desde 2012, pediu à sua rede de parceiros que o conectasse com pessoas da indústria de restaurantes para ajudá-lo a avaliar o negócio.
Com isso, um dos investidores da Lead Edge, que possuía uma cadeia de restaurantes em Connecticut, organizou uma demonstração com um vendedor da Toast e convidou Neider para participar. Ele ficou convencido a migrar os seus sistemas tradicionais para o software da Toast, e seu entusiasmo levou Neider a fazer o investimento, co-liderando uma rodada de financiamento de US$ 101 milhões (R$ 616,1 milhões) em 2017. Isso levou a empresa a uma avaliação em torno de US$ 500 milhões (R$ 3,05 bilhões). O investimento se mostrou um grande sucesso quando a Toast abriu capital quatro anos depois, com uma avaliação de US$ 20 bilhões (R$ 122 bilhões).
Rede de conexões impulsionam investimentos
Atualmente, a Lead Edge identifica empresas para investir com o apoio de cerca de 20 analistas, que entram em contato com aproximadamente 10 mil negócios por ano, buscando aqueles que atendem pelo menos cinco de seus oito critérios rigorosos. O “Lead Edge 8” inclui exigências básicas, como pelo menos US$ 10 milhões (R$ 61 milhões) em receita e crescimento anual de 25%, além de critérios mais complexos, como retenção bruta de pelo menos 90% e eficiência de capital, garantindo que a receita anual seja igual ou superior ao consumo de caixa desde a fundação.
Exigir que uma empresa atenda a cinco dos oito critérios elimina todos, exceto os 10% mais promissores. Após uma diligência adicional, a Lead Edge acaba fazendo apenas de cinco a dez investimentos por ano. Cada decisão de investimento precisa ser unânime no comitê de votação, formado por Green, Neider e Nimay Mehta.
Se uma companhia não responde às investidas da Lead Edge, a firma recorre a um de seus investidores mais conhecidos na mesma região ou setor para intermediar a apresentação. Após o investimento, a Lead Edge mobiliza sua rede de bilionários para ajudar os CEOs dessas companhias. As solicitações podem variar desde conselhos sobre expansão para novos mercados até indicações para contratar um novo CFO.
As 39 empresas no portfólio da Lead Edge estão distribuídas pelos EUA e também em partes da Europa e Ásia, indo de empresas menos conhecidas, como a SafeSend, de automação fiscal e contábil em Ann Arbor, Michigan, até a Bytedance, controladora do TikTok na China. Green tem conexões com algumas empresas chinesas desde seu envolvimento na Alibaba antes do IPO, por meio da Eastern Advisors, e a Lead Edge fez seu primeiro investimento na Bytedance na rodada de 2022, quando a empresa foi avaliada em US$ 180 bilhões (R$ 1,1 trilhão).
Se há algo que está freando a Lead Edge no momento, é o lento mercado de IPOs e fusões e aquisições desde o pico de transações em 2021. A situação pode mudar com uma nova administração Trump e um novo presidente da FTC, especialmente se o mercado de ações continuar em alta.
A firma também tem se tornado mais ativa no crescente mercado secundário de participações em empresas privadas. Mehta explica que a maioria dos negócios realizados nos últimos dois anos tem ocorrido na forma de saídas, proporcionando liquidez para investidores iniciais ou fundadores, em vez de investir diretamente nas empresas. Green, sempre otimista, não está particularmente preocupado com o futuro. “O mercado de IPOs está bem. Eu só acho que muitas empresas têm dinheiro demais, e se você tem US$ 300 milhões (R$ 1,83 bilhão) em caixa e cresce 50% ao ano, abrir capital parece ser muito trabalhoso”, diz Green. “Eventualmente, os investidores vão exigir isso.”
Uma trajetória de sucesso
Mitchell Green cresceu em Grand Rapids, Michigan. Ele é neto de um negociante de títulos da Paine Webber que mais tarde se tornou corretor de ações e filho do CEO de uma empresa de manufatura. Seu primeiro emprego após uma breve experiência em banco de investimentos foi na empresa de venture capital Bessemer, em 2005. Na época, segundo ele, o setor tinha uma abordagem “estilo Shark Tank”, na qual a maioria dos empreendedores fazia apresentações para captar recursos. A Bessemer contratou Green e Brian Neider como seus primeiros operadores de ligações frias (cold callers), trabalhando em uma única sala, onde deixaram cerca de 20 mil mensagens de voz em dois anos para diversas startups. “Aprendemos rapidamente que, se a empresa te liga de volta, ela não é boa”, diz Green. “É o CEO que você liga a cada dois dias durante um mês que eu quero atender ao telefone.”
Em 2007, Green já havia construído uma sólida rede de contatos com CEOs quando deixou a Bessemer para se matricular na Wharton School da Universidade da Pensilvânia. Ele frequentou a escola enquanto trabalhava meio período em um fundo de hedge, o Eastern Advisors, financiado por Julian Robertson, da Tiger Management. Após o fundo enfrentar dificuldades durante a crise financeira, seu fundador, Scott Booth, disponibilizou capital inicial para que Green adquirisse alguns ativos privados e iniciasse a Lead Edge.
No início, Green levantou veículos de propósito específico (SPACs) para realizar um negócio por vez, aproveitando sua rede de empreendedores da Bessemer, membros de conselhos de Williams e Penn, pais de colegas de sua turma de negócios e qualquer pessoa que pudesse ser convencida a investir. Ele conseguiu reunir mais de US$ 10 milhões (R$ 61 milhões) para o primeiro negócio da Lead Edge, a Bazaarvoice, que fornece soluções de avaliações de produtos para sites de e-commerce. Mais tarde, a empresa abriu capital em uma IPO que levantou US$ 114 milhões (R$ 695,4 milhões) em 2012. Desde então, a Lead Edge já levantou seis fundos, incluindo o Fundo VI, de US$ 1,95 bilhão (R$ 11,9 bilhões), fechado em abril de 2022.