Os registros bancários apresentados no julgamento de fraude do ex-presidente, no início de 2024, sugerem que o presidente eleito Donald Trump e magnata do setor imobiliário gasta US$ 1 milhão (R$ 6,08 milhões) por mês em despesas pessoais. Somando todos os seus patrimônios e investimentos, Trump gastou, em média, mais de US$ 130 milhões (R$ 790,4 milhões) por ano, ou US$ 11 milhões (R$ 66,88 milhões) por mês, de 2010 até o primeiro semestre de 2019, de acordo com dados financeiros.
As despesas variaram a cada ano, ultrapassando US$ 200 milhões (R$ 1,216 bilhão) antes de ele concorrer à presidência pela primeira vez, e caindo para US$ 60 milhões (R$ 364,8 milhões) quando ele se estabeleceu na Casa Branca. Agora, a um mês de retomar à Casa Branca, Trump está em uma encruzilhada, com pouca clareza sobre quanto dinheiro precisará nos próximos quatro anos.
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Expandindo seu império
Para entender como Trump chegou a este momento, é preciso voltar à Grande Recessão, quando o dinheiro estava escasso para quase todos. A crise atingiu Trump em projetos em Chicago e Las Vegas, porém ele tinha uma vantagem que outros empreendedores não tinham: The Apprentice. O programa, lançado em 2004, gerava tanto receita de entretenimento quanto oportunidades de licenciamento. Em 2010, Trump ganhou US$ 50 milhões (R$ 304 milhões) por ano dessas fontes, mais do que arrecadava com seus edifícios.
Em 2010, ele desembolsou US$ 37 milhões (R$ 224,96 milhões) para modernizar sua frota aérea, adquirindo um Boeing 757 e personalizando-o ao seu gosto. Foi seu maior gasto em dinheiro naquele ano, representando mais de um terço do total de US$ 101 milhões (R$ 614,08 milhões) em despesas. Logo depois, Trump pagou US$ 25 milhões (R$ 152 milhões) em um helicóptero, com a ideia de transportar pessoas por alguns quilômetros entre o aeroporto de Miami e seu novo resort de golfe, o Trump National Doral.
Ele também usou parte do dinheiro para adquirir uma nota promissória de US$ 130 milhões (R$ 790,4 milhões) relacionada à sua torre em Chicago por US$ 48 milhões (R$ 291,84 milhões) e pagando outro empréstimo em Las Vegas. Dessa forma, para equilibrar suas finanças, Trump precisou de US$ 75 milhões (R$ 456 milhões) em liquidez no período de 12 meses encerrado em 30 de junho de 2012, seu maior gasto em dinheiro em um ano no qual desembolsou US$ 203 milhões (R$ 1,233 bilhão).
Depois disso, ele iniciou uma onda de construções. De meados de 2012 a meados de 2016, Trump gastou US$ 600 milhões (R$ 3,648 bilhões) em aquisições e desenvolvimento imobiliário, o que representou cerca de 80% do dinheiro que saía de seus cofres. Ele reformou o resort de golfe em Miami e adquiriu outros dois na Europa. Também transformou o edifício Old Post Office, em Washington, D.C., no Trump International Hotel.
Além disso, gastou US$ 65 milhões (R$ 395,2 milhões) em sua campanha presidencial. Na Casa Branca, as despesas de Trump diminuíram mais de US$ 100 milhões (R$ 608 milhões) por ano. No entanto, a política trouxe outros custos. Em 2016, logo após vencer a eleição, Trump concordou com um acordo de US$ 25 milhões (R$ 152 milhões) para resolver um litígio envolvendo a Trump University, um golpe que o levou a pegar um empréstimo secreto na época de sua primeira posse.
As despesas em dinheiro de Trump caíram para US$ 83 milhões (R$ 504,64 milhões) no ano encerrado em 30 de junho de 2018, seu nível mais baixo desde pelo menos 2012, e depois diminuíram mais 30%, para cerca de US$ 60 milhões (R$ 364,8 milhões) no ano seguinte, de acordo com os registros.
Com o tempo, a maior parte de seus gastos em dinheiro foi direcionada para sustentar empreendimentos, já que tanto o hotel em Washington, D.C., quanto os campos de golfe na Europa enfrentavam dificuldades para gerar lucro. As perdas se multiplicaram quando a Covid-19 chegou em 2020. “Eu não diria que você está prosperando quando decide fechar seus hotéis e seus negócios,” Trump declarou a uma multidão de repórteres na sala de imprensa da Casa Branca.
Dessa maneira, Donald Trump vendeu seu hotel deficitário por US$ 375 milhões (R$ 2,28 bilhões) em 2022, repassando o problema a outros investidores, que não conseguiram cumprir suas obrigações de dívida e acabaram perdendo a propriedade. Enquanto isso, o negócio de golfe de Trump prosperou à medida que o mundo se recuperava da pandemia. Alguns doadores continuaram a injetar dinheiro nos grupos políticos de Trump, poupando-o de ter que usar mais de seu próprio dinheiro em sua campanha presidencial de 2024.
Próximos passos…
À beira de retornar à Casa Branca, Trump encontra-se em uma posição financeira imprevisível. As operações da Trump Organization estão em boa forma, mais enxutas e lucrativas do que durante seu primeiro mandato. Com menos fragilidades em seu império, Trump talvez consiga gastar menos de US$ 50 milhões (R$ 304 milhões) em 2025, o que faria do próximo ano um dos mais baratos em sua memória recente.
No entanto, esse cenário é assumindo que tudo corra como o planejado, o que pode não acontecer. Em 6 de julho de 2025 irá vencer um empréstimo de US$ 117 milhões (R$ 711,36 milhões) contra uma das propriedades de Trump em Nova York. O presidente eleito, que ainda não refinanciou a dívida, pode ter que recorrer ao próprio bolso para pagar o credor. Alguns problemas legais também estão à espreita, já que Trump deve um total de US$ 578 milhões (R$ 3,51 bilhões), incluindo juros, decorrentes de três casos judiciais, todos atualmente em apelação. As perdas podem forçar os subordinados de Trump a vender ou refinanciar ativos enquanto ele serve como presidente.