Depois de mais de 25 anos de negociações, o acordo Mercosul e União Europeia (UE) foi concluído. A informação foi divulgada pela Comissão Europeia, o braço executivo da UE, nesta sexta-feira (6), durante a reunião do bloco sul-americano, em Montevidéu. O acordo entre os blocos facilitará o comércio e os investimentos entre os países, que representam praticamente um quarto de todo o PIB mundial, com US$ 22 trilhões (R$ 132 trilhões).
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, classificou o acordo como uma “vitória para a Europa”. A assinatura do acordo ainda em 2024 era uma luta do Brasil e até uma briga pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Como mostrou a Forbes, o acordo não é considerado o ideal, mas o melhor que poderia ser feito diante de um forte e intenso lobby. A exigência de cotas para proteger o agronegócio europeu ou a indústria sul-americana diminui o impacto da liberalização da economia que o texto poderia trazer.
Próximos passos do acordo
Agora, com a versão final do acordo apresentada pelo Mercosul, ele deverá ser aprovado pela União Europeia. O que exigirá que todos os membros do bloco do velho continente aprovem a assinatura do acordo. Só então ele começará a valer. Durante essa segunda fase, que também contará com diversas traduções do texto e revisões legais, os países contrários ao acordo poderão travar a tramitação.
Mas, mesmo que o acordo seja ratificado pelos europeus resistentes, sua implantação plena pode levar até uma década. A UE terá, por exemplo, 10 anos para zerar a taxação de 92% das importações no agronegócio.
A oposição e o apoio à ratificação
A principal voz contra o acordo vem da França, onde o agronegócio pressiona por protecionismo. Protestos de agricultores e pecuaristas atacam a produção sul-americana, principalmente a brasileira. No fim de novembro, o Carrefour chegou a boicotar a carne brasileira, dizendo que não compraria mais o produto. Diante de uma represália da pecuária brasileira contra as lojas no país, a companhia pediu desculpas e disse se tratar de um mal-entendido.
A França não está sozinha na oposição. Polônia a apoia fortemente, assim como Itália e Holanda, que também apresentam resistência à ratificação do texto. Após o anúncio, o governo francês indicou que mantém sua postura, mesmo diante de reclamações dos agricultores de que o acordo já devia ter sido barrado.
À Forbes, Marcelo Vitali, diretor da consultoria de internacionalização How2Go, explicou que o agronegócio francês representa aproximadamente 3% do PIB do país. “Uma parcela pequena em relação aos consumidores franceses, que seriam beneficiados pelo acordo.”
Do outro lado, a Alemanha é uma das principais vozes a favor do acordo, mesmo estando fragilizada. O chanceler alemão, Olaf Scholz, pode ter que antecipar as eleições para fevereiro de 2025, diante de crises internas.
Logo após o anúncio da conclusão do texto, as associações alemãs de comércio e indústria comemoraram. “Em tempos de crescente fragmentação do comércio global, o acordo comercial envia um sinal claro e estratégico para o comércio livre e baseado em regras”, declarou Siegfried Russwurm, chefe da associação industrial BDI da Alemanha. A única crítica foi em relação aos 25 anos para a conclusão.
Segundo Vitali, o mesmo sentimento se apresenta na península Ibérica, onde, principalmente, empresas espanholas torciam pelo acordo. “O sentimento é de que seria um desperdício não assinar depois de tanto esforço.”
Os ganhos e os recados do texto apresentado
O acordo facilitará que os países americanos vendam matéria-prima e os europeus exportem seus bens industrializados. Por exemplo, a venda de etanol brasileiro será beneficiada, desde que permaneça na cota estabelecida pelos negociadores.
Em nota, o governo brasileiro reforçou suas expectativas que o parque industrial do país possa receber fomentos de modernização, ao ser incluído na cadeia produtiva da UE.
Um acordo multilateral de tanto peso (e dinheiro) pode ser encarado como um recado a ondas nacionalistas de isolamento econômico. Movimento este que ganhou força com a vitória de Trump nas eleições americanas. O presidente eleito prometeu medidas que priorizariam os Estados Unidos, em detrimento da globalização.