Após anos de confrontos com a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), os fundos negociados em bolsa (ETFs) de bitcoin e ether chegaram ao mercado. Segundo a K33 Research, sediada na Noruega, em 16 de dezembro, os ETFs de bitcoin nos EUA detinham US$ 129 bilhões (R$ 783,52 bilhões) em ativos, superando os US$ 125 bilhões (R$ 760 bilhões) dos ETFs de ouro.
O preço do Bitcoin em 2024 foi estimulado pela euforia do mercado pós-eleitoral, as promessas de Donald Trump de transformar os EUA na “capital mundial das criptomoedas” e de estabelecer uma reserva estratégica de bitcoin. Tudo isso fez o ativo ultrapassar os US$ 100 mil (R$ 608 mil).
Leia também
A Solana está em alta, impulsionada pelo hype dos memecoins e por novas categorias como os dePINs—redes que utilizam a tecnologia blockchain para descentralizar o controle e a propriedade de infraestruturas físicas. Algumas plataformas como a Polymarket, onde os usuários apostam no resultado das eleições presidenciais dos EUA, e o jogo de batalha real Off The Grid também conquistaram sucesso no mainstream. Além disso, uma nova onda de “degens” está apostando em tokens como o fartcoin e o dogwifhat, ambos agora com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão (R$ 6,08 bilhões).
Para Rob Hadick, sócio-geral da Dragonfly, uma empresa de capital de risco focada em cripto, sediada em São Francisco, este foi o ano em que as criptomoedas ganharam destaque na consciência coletiva de uma forma que não acontecia desde 2021, e agora são uma classe de ativos sustentável a longo prazo. “Se você observar apenas o impacto que as criptomoedas tiveram na eleição — tanto como doadoras quanto ao serem trazidas à tona nos legislativos e pelos candidatos presidenciais — isso nunca havia acontecido antes e é, obviamente, um grande passo para a legitimação”, afirma Hadick.
A narrativa de cripto virou de sobrevivência para euforia, com as apostas parecendo mais altas do que nunca. Ainda mais com Trump e um grupo de autoridades favoráveis às criptos prestes a assumir o cargo, o cenário está preparado para o que os especialistas já estão chamando de “a era de ouro das criptomoedas”. Por isso, a Forbes listou as 7 Razões para 2025 revolucionar as moedas digitais:
1- Novos recordes e a reserva de Bitcoin dos EUA
A gestora de ativos de cripto Bitwise projeta valores entre US$ 200 mil (R$ 1, 216 milhões) e US$ 500 mil (R$ 3,040 milhões) por bitcoin, caso os Estados Unidos criem uma reserva estratégica semelhante às de petróleo ou ouro. A lógica é que um estoque oficial de bitcoin dos EUA desencadearia um FOMO (Fear of Missing Out – medo de ficar de fora) global.
O presidente eleito, Donald Trump, sugeriu durante a conferência Bitcoin de Nashville em julho, usar 200 mil bitcoins confiscados de criminosos (avaliados em US$ 21 bilhões, ou R$ 127,68 bilhões) para dar início à reserva. No entanto, o caminho legal é nebuloso — será necessária aprovação do Congresso ou o Poder Executivo pode agir unilateralmente?
A senadora pró-cripto Cynthia Lummis propôs, em julho, uma reserva operada pelo Tesouro. No entanto, os céticos argumentam que a volatilidade do ativo poderia comprometer a estabilidade financeira. Dessa forma, o silêncio de Trump sobre se os EUA comprariam mais bitcoin no mercado aberto adiciona outra camada de mistério.
2- Redefinição regulatória das criptos: um Washington favorável
A próxima administração promete ser a mais pró-cripto até agora. As principais nomeações incluem:
- Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC): Paul Atkins, ex-comissário da SEC e apoiador das criptomoedas, está prestes a substituir Gary Gensler, considerado o maior inimigo da indústria, cujo mandato foi marcado por processos judiciais e repressões regulatórias.
- Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC): Brian Quintenz, chefe de políticas da Andreessen Horowitz e ex-comissário da CFTC, é o favorito para liderar a agência.
- Tesouro: Scott Bessent, bilionário gestor de fundos de hedge e defensor do bitcoin, é a escolha de Trump para secretário do Tesouro.
- Comércio: Howard Lutnik, CEO da Cantor Fitzgerald (o principal administrador das reservas de USDT da Tether), está cotado para liderar o departamento.
- Czar de IA e Criptomoedas: David Sacks, veterano do capital de risco que trabalhou com Elon Musk no PayPal, supervisionará as políticas em duas áreas-chave da estratégia de Trump para aumentar a competitividade nacional.
- Comitê de Serviços Financeiros da Câmara: o deputado French Hill, republicano do Arkansas, que trabalhou ao lado do presidente Patrick McHenry (R-N.C.) para defender legislações favoráveis às criptomoedas, planeja priorizar um projeto de lei sobre estrutura de mercado cripto nos primeiros 100 dias e investigar a chamada Operação Choke Point 2.0, que muitos acreditam ter alvejado injustamente o setor cripto por meio de práticas de desbancarização.
Kristin Smith, CEO da Blockchain Association, com sede em Washington, D.C., que representa mais de 100 empresas de cripto, afirma que existe uma grande oportunidade de estabelecer políticas adequadas para o setor. “A Casa Branca indicou que isso é uma prioridade. Acho que veremos um esforço em todo o governo, com uma iniciativa legislativa focada na estrutura de mercado e nas stablecoins”, ela acrescenta.
3- Novas aberturas de capital
A fila de IPOs de empresas cripto está esquentando. A Bitwise cita cinco empresas que provavelmente abrirão capital no próximo ano:
- Circle: emissora da segunda maior stablecoin, a USDC, que apresentou confidencialmente uma solicitação de IPO em janeiro.
- Figure: conhecida por serviços financeiros baseados em blockchain, como empréstimos hipotecários, empréstimos pessoais e tokenização de ativos. A empresa estaria explorando uma abertura de capital desde o ano passado.
- Kraken: a exchange de cripto dos EUA tem ambições de IPO desde 2021.
- Anchorage Digital: seu status como banco autorizado a nível federal pode abrir caminho para uma listagem pública.
- Chainalysis: líder em serviços de conformidade e inteligência de blockchain, pronta para uma possível listagem.
Além disso, Rob Hadick, da Dragonfly, diz que espera que o mercado de LPs melhore. “Eles vão querer investir mais capital em cripto e já estamos começando a ver isso em áreas específicas, como stablecoins e pagamentos”, diz. Mas ele também acredita que os investimentos de capital de risco tendem a seguir os aumentos de preços do mercado público com um atraso de um ou dois trimestres.
4- Inclusões importantes em índices
As ações da MicroStrategy subiram mais de 400% neste ano. Agora parte do Nasdaq 100, analistas preveem que a próxima etapa será sua inclusão no S&P 500, graças a novas regras contábeis que permitem refletir os investimentos em bitcoin pelo valor de mercado nos demonstrativos financeiros. Essa mudança poderia inserir a MicroStrategy em fundos que acompanham índices e, consequentemente, nos portfólios de inúmeros investidores nos EUA.
A estratégia de “Tesouro Bitcoin” do cofundador e presidente executivo Michael Saylor — vendendo títulos e ações para acumular o ativo — impulsionou sua empresa, avaliada em US$ 86 bilhões (R$ 522,88 bilhões), ao grupo das 100 principais empresas do S&P 500. De acordo com analistas a Coinbase, com alta de 70% neste ano, também pode ingressar no cobiçado índice.
5- Surto das Stablecoins
O setor de stablecoins está prestes a experimentar um crescimento explosivo, com potencial para dobrar seu valor de mercado para US$ 400 bilhões (R$ 2,43 trilhões), à medida que os EUA se aproximam da tão esperada legislação sobre stablecoins.
Em 2024, o volume de transações com stablecoins atingiu US$ 8,3 trilhões (R$ 50,5 trilhões), quase igualando os US$ 9,9 trilhões (R$ 60,2 trilhões) de volume de pagamentos da Visa, segundo a Bitwise. A Tether e a Circle continuam dominando, aproveitando a onda das altas taxas de juros. No entanto, Hadick alertou que se continuarem operando mais como gestoras de ativos do que como empresas de pagamento, o crescimento delas pode em breve desacelerar.
A aquisição de US$ 1,1 bilhão (R$ 6,688 bilhões) da plataforma de stablecoin Bridge pela Stripe, em outubro, enviou uma mensagem clara — as stablecoins podem se tornar pilares das fintechs. A Stripe as considera supercondutores para serviços financeiros, destacando sua velocidade incomparável, baixo custo e alcance global. A Robinhood não fica atrás, com ambições de criar uma rede global de stablecoins.
Enquanto isso, modelos de “stablecoin 2.0” de próxima geração estão ganhando força silenciosamente. Segundo Ceteris, chefe de pesquisa da Delphi Digital, empresa de análise de cripto com sede em Nova York, existem novos modelos de stablecoin que estão retornando receita para os detentores do token, ou, na verdade, para as aplicações que incorporam os usuários. “Eu vejo esses modelos como disruptivos”, afirma o executivo.
6- Tokenização acelerada
O CEO da BlackRock, Larry Fink, tem promovido a tokenização há anos. De imóveis a arte, em breve, tudo pode ter um token. Os grandes benefícios são a liquidação instantânea, custos mais baixos do que a securitização tradicional, liquidez 24 horas por dia e transparência.
Três anos atrás, o setor de cripto havia tokenizado apenas US$ 2 bilhões (R$ 12,16 bilhões) em ativos do mundo real (RWAs), incluindo crédito privado, dívida dos EUA, commodities e ações. Hoje, esse valor está próximo de US$ 14 bilhões (R$ 85,12 bilhões). A empresa de capital de risco ParaFi prevê que o mercado de RWAs tokenizados possa disparar para US$ 2 trilhões (R$ 12,16 trilhões) até 2030, sinalizando uma transformação na propriedade e negociação de ativos.
7- Novos apps e melhor infraestrutura
A palavra da moda do mês é “agentes de IA”. Prepare-se para testemunhar a fusão da inteligência artificial com a cripto de maneiras que parecem mais com ficção científica. Os primeiros sinais dessa tendência já estão surgindo. Por exemplo, o TruthTerminal — um agente de IA que não apenas arrecadou US$ 50 mil (R$ 304 mil) de Marc Andreessen, mas também se tornou milionário ao alavancar as redes sociais no X. Seu sucesso veio da promoção de uma moeda baseada em um meme absurdo dos anos 2000 – os criadores anônimos do token transferiram uma quantia significativa para a carteira do TruthTerminal, gerenciada pelo criador Andy Ayrey.
No entanto, os analistas estão cautelosos. Os agentes de IA práticos — por exemplo, aqueles que tentam executar transações complexas entre blockchains em nome dos usuários — são escassos e ainda estão em estágio inicial. “Os agentes são empolgantes porque são novos, mas provavelmente serão a maior bolha deste ciclo, tanto para o bem quanto para o mal”, diz Ceteris, da Delphi.
Enquanto a indústria de blockchain continua fragmentada e a maioria dos aplicativos descentralizados ainda não se tornou mainstream, o trabalho em uma infraestrutura robusta segue em frente. Para Ceteris a Solana estabeleceu a tendência para a era das blockchains de alto desempenho (termo criptográfico para blockchains capazes de processar milhares de transações por segundo, de maneira semelhante ao Visa e MasterCard). “Você está vendo quase todas as novas blockchains sendo lançadas sob esse tipo de guarda-chuva, então haverá muito espaço de bloco barato,” explica.