A riqueza combinada dos indivíduos mais ricos do mundo aumentou em US$ 2 trilhões (R$ 12,2 trilhões) no último ano — três vezes mais rápido do que em 2023 — de acordo com um novo relatório publicado na véspera do Fórum Econômico Mundial, encontro anual de bilionários realizado nos Alpes suíços.
O relatório, produzido pela Oxfam, organização que trabalha para reduzir a pobreza e a desigualdade global, revelou que 204 novos bilionários surgiram em 2024. Somente nos Estados Unidos — onde a concentração de riqueza é particularmente alta — o patrimônio líquido dos bilionários cresceu, em média, cerca de US$ 3,9 bilhões (R$ 23,8 bilhões) por dia no último ano, e 74 novos bilionários foram registrados.
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“A captura da nossa economia global por um grupo privilegiado atingiu níveis antes considerados inimagináveis”, afirmou Amitabh Behar, diretor executivo da Oxfam International. “O fracasso em conter os bilionários agora está dando origem aos futuros trilionários. Não apenas a taxa de acumulação de riqueza entre bilionários triplicou, mas também o poder deles”, acrescentou.
A Oxfam destacou que o poder dos bilionários será particularmente visível não apenas no Fórum Econômico Mundial em Davos esta semana, mas também em Washington, D.C., onde Donald Trump iniciará seu segundo mandato presidencial na segunda-feira.
Segundo a Oxfam, a equipe de Trump será a mais rica da história dos Estados Unidos, com um patrimônio total estimado em mais de US$ 450 bilhões (R$ 2,7 trilhões). Até agora, pelo menos 13 bilionários foram nomeados para cargos em sua administração. Mesmo excluindo Elon Musk—que, segundo relatos, gastou mais de US$ 250 milhões (R$ 1,5 bilhão) para ajudar Trump a vencer a eleição de novembro—o gabinete ainda seria o mais rico da história.
Musk, atualmente, tem um patrimônio estimado em US$ 427 bilhões (R$ 2,6 trilhões), o que o torna a pessoa mais rica do planeta, seguido pelo fundador e presidente executivo da Amazon, Jeff Bezos, com cerca de US$ 237 bilhões (R$ 1,4 trilhão), e pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg, com cerca de US$ 211 bilhões (R$ 1,3 trilhão). Os três devem comparecer à posse de Trump.
De acordo com a Forbes, o patrimônio líquido de Trump cresceu de cerca de US$ 2,5 bilhões (R$ 15,2 bilhões) para um valor estimado de US$ 6,1 bilhões (R$ 37,2 bilhões) ao longo de 2024, impulsionado, em parte, por sua participação majoritária na empresa controladora da Truth Social.
“Apresentamos este relatório como um alerta contundente de que pessoas comuns ao redor do mundo estão sendo esmagadas pela enorme riqueza de uma minoria ínfima”, disse Behar.
A pesquisa da Oxfam também descobriu que mais de um terço da riqueza bilionária agora é herdada. No ano passado, um relatório do banco de investimentos UBS sobre os super-ricos revelou que, na última década, bilionários de múltiplas gerações herdaram um total de US$ 1,3 trilhão (R$ 7,9 trilhões).
“Os ultrarricos gostam de dizer que enriquecer exige habilidade, determinação e muito trabalho. Mas a verdade é que a maior parte da riqueza é adquirida, não conquistada”, afirmou Behar. “Muitos dos chamados ‘self-made’ (bilionários que se fizeram sozinhos) na verdade são herdeiros de fortunas imensas, passadas de geração em geração através de privilégios não merecidos.”
Preocupação crescente
No início deste mês, uma grande pesquisa realizada em 36 países mostrou que a desigualdade econômica é uma preocupação pública grave em todo o mundo, com muitas pessoas particularmente alarmadas com a influência que os super-ricos exercem sobre políticas e decisões empresariais que ampliam a disparidade de riqueza.
A pesquisa, conduzida pelo Pew Research Center no ano passado e publicada no início de janeiro, entrevistou mais de 40 mil adultos e revelou que, em média, 54% dos entrevistados nesses países consideram o abismo entre ricos e pobres um problema muito sério em suas nações. Outros 30% disseram que veem a desigualdade como um problema moderadamente grande. Além disso, 60% acreditam que a influência política dos mais ricos é um fator determinante para a desigualdade econômica.
Essas percepções foram especialmente comuns entre os entrevistados que se identificam com a esquerda ideológica, embora muitos que se consideram de direita também concordem com essa visão. Nos Estados Unidos, em particular, a pesquisa mostrou que as divisões ideológicas sobre o tema são bastante acentuadas.
O Fórum Econômico Mundial deste ano acontece de 20 a 24 de janeiro, com o tema “Colaboração para a Era Inteligente”. Criado em 1971 para promover o capitalismo de stakeholders, o evento de Davos, ao longo das décadas, tornou-se alvo de críticas de defensores da justiça social, principalmente devido à extrema riqueza de muitos dos participantes.
Este ano, com diversos conflitos armados em andamento pelo mundo, as guerras devem dominar a agenda e as discussões durante os quatro dias do encontro nos Alpes. Donald Trump deve discursar no evento em 23 de janeiro.