O dólar fechou a quarta-feira em queda firme ante o dólar, abaixo dos R$ 6,00 pela primeira vez desde dezembro do ano passado, com o mercado eliminando prêmios de risco das cotações e acionando ordens de stop loss (parada de perdas), em meio à percepção de que o novo governo dos EUA será moderado na adoção de tarifas sobre produtos estrangeiros.
O dólar à vista fechou em queda de 1,41%, aos R$ 5,9463 — a menor cotação desde 27 de novembro de 2024, quando encerrou em R$ 5,9141. Desde 11 de dezembro a moeda não terminava o dia abaixo dos R$ 6,00.
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Em janeiro, o dólar acumula baixa de 3,77%. O Ibovespa não conseguiu acompanhar os seus pares no exterior e encerrou o dia em queda de 0,30%, aos 122.971 pontos.
O dólar engatou baixas ante o real já no início da sessão, com investidores se apegando às notícias de que o governo de Donald Trump não adotará novas tarifas de importação em um primeiro momento, ainda que o presidente dos EUA ameace a China com uma taxa de 10% em 1º de fevereiro e o México e o Canadá com uma tarifa de 25% até 1º de fevereiro.
A perspectiva de tarifas não tão altas favorece a leitura de que a inflação norte-americana pode não ser tão pressionada, o que permitiria ao Federal Reserve adotar taxas de juros menos elevadas no futuro. O resultado seria um dólar mais fraco ante moedas de emergentes e exportadores de commodities, como o real.
“Após os primeiros dias do novo mandato Trump nos Estados Unidos, o mercado passou a se sentir mais confortável em assumir que a retórica do presidente será mais firme do que suas atitudes”, disse Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, em comentário enviado a clientes.
“Com alguma demora em apresentar medidas concretas relacionadas a parte das promessas de campanha, os ativos de risco passaram a precificar um cenário mais benigno.”
No Brasil, isso se traduziu na baixa das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) e na queda do dólar para abaixo dos R$ 6,00 — um ponto técnico e psicológico importante, que vinha sustentando as cotações.
Profissionais ouvidos pela Reuters ponderaram, no entanto, que a manutenção do dólar abaixo dos R$ 6,00 reais no curto prazo dependerá não apenas do noticiário externo, mas também da capacidade de o governo Lula convencer o mercado de que o ajuste fiscal é viável.
“Na agenda do governo estão medidas adicionais de contenção de gastos, mas há também a reforma do Imposto de Renda — que é uma discussão meritória, mas da forma em que foi colocada criou aversão ao tema”, pontuou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Em entrevista a uma rádio pela manhã, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que o governo está fazendo o balanço das alterações nas medidas de contenção de gastos aprovadas pelo Congresso no fim do ano passado. Segundo ele, novos projetos serão apresentados se for necessário.
Também pela manhã o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.