Quando Justin Baldoni saiu sorrindo de uma van preta durante a estreia de É Assim que Acaba, em 6 de agosto, na cidade de Nova York, sua colega de elenco Blake Lively estava ausente. A disputa privada entre os atores estava se intensificando, com Lively, além de outros membros do filme, recusando-se a acompanhá-lo em qualquer aparição promocional.
No entanto, uma pessoa estava presente. O seu parceiro no Wayfarer Studios, a produtora por trás do filme: o bilionário fundador da empresa de software de folha de pagamento Paylocity, Steve Sarowitz.
Leia também
A atriz alegou, em uma denúncia vazada em meados de dezembro e novamente em um processo judicial apresentado na véspera de Ano Novo, que Sarowitz disse a um público não especificado que estava disposto a gastar US$ 100 milhões (R$ 608 milhões) para arruinar a vida de Lively e de sua família. Além disso, quando questionado sobre o assunto, o advogado de Sarowitz, Bryan Freedman, confirmou que seu cliente está preparado para gastar o que for necessário para defender Baldoni, o Wayfarer Studios e a si mesmo.
Lively afirma, no processo contra a Wayfarer, Baldoni, Sarowitz e outros associados, que Baldoni, que também dirigiu o filme, a assediou sexualmente no set e que ele e a equipe da Wayfarer trabalharam para arruinar sua reputação pública depois que ela denunciou o abuso.
Em sua primeira declaração pública sobre a batalha legal, Sarowitz enviou um e-mail à Forbes afirmando que “o verdadeiro assédio e a campanha de difamação ocorreram e continuam ocorrendo contra nós”, chamando as acusações de Lively de “mentiras cruéis sobre meus parceiros de negócios.”
Construção do império X filantropia
Sarowitz possui um patrimônio estimado em US$ 2,5 bilhões (R$ 15,2 bilhões), dos quais US$ 1,8 bilhão (R$ 10,9 bilhões) estão vinculados a ações da empresa de software de capital aberto que ele liderou como CEO até 2011 e na qual ainda ocupa um assento no conselho. De acordo com estimativas da Forbes, o restante, US$ 700 milhões (R$ 4,2 bilhões), está em dinheiro e outros investimentos.
O empresário cofundou o Wayfarer com Baldoni em 2019. A dupla imaginava o estúdio como um lugar para produzir filmes com mensagens positivas que ajudassem a tornar o mundo um lugar melhor. Esse é um objetivo para o qual Sarowitz vem direcionando seus recursos desde que o IPO da Paylocity, em 2014, o deixou com um montante de US$ 560 milhões (R$ 3,4 bilhões) em ações. Desde então, o preço dos ativos já aumentou cerca de oito vezes o valor inicial. Também, ele contribuiu com quase US$ 250 milhões (R$ 1,5 bilhão) para suas duas fundações de caridade e afirmou que pretende doar quase todo o seu dinheiro antes de morrer.
Ainda, esse foi o ano em que Sarowitz disse ter tido uma epifania. O bilionário começou a estudar a fé Bahá’í por recomendação de um amigo, por volta da época em que deixou o comando da Paylocity, ele comentou que passou por uma transformação espiritual de quatro dias enquanto visitava o santuário do profeta Bahá’u’lláh em Akko, Israel.
A fé Bahá’í, que conta com cerca de 5 milhões de adeptos e foi fundada na Pérsia do século XIX, ensina que todas as religiões derivam de uma religião fundamental e defende a igualdade universal. Um ano depois, ele se converteu formalmente do judaísmo.
Sarowitz conheceu Baldoni por volta de 2018, enquanto produzia o documentário The Gate, sobre as origens da fé Bahá’í. Sarowitz, que lidera grupos de estudo Bahá’í como hobby, pediu conselhos a Baldoni, que também pratica a religião, sobre o projeto. Os dois se tornaram amigos, unidos por um idealismo compartilhado de ver o cinema como uma ferramenta para transformar vidas e por uma aversão à mentalidade do lucro de Hollywood.
O empresário do cinema é responsável por todo o financiamento da Wayfarer, enquanto Baldoni — que ganhou destaque na série de TV Jane the Virgin—fornece um rosto conhecido para a empresa e assume a maior parte do trabalho criativo, incluindo a direção de vários de seus filmes. Para É Assim que Acaba, que teve um orçamento superior a US$ 25 milhões (R$ 152 milhões) e arrecadou US$ 351 milhões (R$ 2,1 bilhões) nas bilheterias, o estúdio dividiu os custos com a distribuidora Sony.
No total, Sarowitz afirma já ter investido mais de US$ 140 milhões (R$ 851 milhões) em filmes inspiradores, principalmente através do Wayfarer Studios, como The Garfield Movie, que arrecadou US$ 257 milhões (R$ 1,5 bilhão). Além disso, ele e a Wayfarer se uniram a Zhang Xin — outra bilionária Bahá’í, que fez fortuna no mercado imobiliário na China—para ajudar a produzir o filme Ezra em 2023, baseado em uma história real sobre criar um filho com autismo. Também em desenvolvimento, se tudo correr bem, está a estreia de Scarlett Johansson como diretora com Eleanor the Great, uma história sobre amizade intergeracional.
Baldoni x Lively: no tribunal
O processo de Lively alega que ele, Baldoni e outros associados da Wayfarer retaliaram contra ela por denunciar o assédio que sofreu no set, que supostamente incluiu Baldoni improvisando cenas de beijo sem seu consentimento e entrando no trailer de maquiagem dela sem convite enquanto ela estava despida e amamentando.
Já o processo da Wayfarer contra o New York Times – o primeiro veículo a relatar os detalhes da denúncia de direitos civis de Lively – responde a algumas dessas acusações; por exemplo, inclui como evidência uma mensagem de texto em que Lively convidou Baldoni para entrar em seu trailer em uma ocasião enquanto ela bombeava leite materno.
Em julho, no meio da promoção do filme, Baldoni contratou a estrategista de comunicação de crise Melissa Nathan. Ele afirma ter feito isso para se proteger das medidas que Lively e seu marido, o ator Ryan Reynolds, já estavam tomando contra ele, incluindo a suposta pressão sobre sua agência para que o dispensasse.
Depois, a empresa, WME, realmente deixou de representar Baldoni como cliente após as acusações de Lively virem à tona, mas nega que tenha feito isso devido à pressão do casal de estrelas. O processo da Wayfarer contra o New York Times afirma que Nathan e Jennifer Abel, outra especialista em relações públicas, ajudaram Baldoni a gerenciar defensivamente a narrativa pública em torno dele e do filme, utilizando métodos padrão da indústria.
Enquanto isso, o processo de Lively alega que a equipe da Wayfarer utilizou estratégias anormais e ultrajantes para prejudicar sua reputação. Entre elas, o astroturfing, prática de publicar conteúdo que aparenta vir de membros do público, mas que, na verdade, é colocado por profissionais de marketing, relações públicas ou outros patrocinadores. A ação também observa que a cobertura sobre Lively passou de amplamente neutra para predominantemente negativa a partir de agosto.
Sarowitz é mencionado nominalmente apenas algumas vezes na denúncia. O documento indica que ele estava entre aqueles no set assistindo a uma cena de parto em que Lively estava quase nua, enquanto a cena era simultaneamente filmada e transmitida em monitores. No entanto, o advogado de Sarowitz disse à Forbes que ele não estava no set nesse momento e que Sarowitz teve pouca participação no filme além de fornecer seu financiamento, visitou o set apenas duas vezes e não esteve envolvido no trabalho de relações públicas do filme.
Quando questionada pela Forbes, a equipe jurídica de Lively enviou a seguinte declaração: “enquanto avançamos no processo legal, pedimos a todos que se lembrem de que o assédio sexual e a retaliação são ilegais em qualquer ambiente de trabalho ou indústria. Uma tática clássica para desviar das acusações desse tipo de má conduta é ‘culpar a vítima’, sugerindo que ela convidou a conduta, provocou a situação, interpretou mal as intenções ou até mesmo mentiu.Continuaremos a levar adiante suas alegações no tribunal federal, onde a regra da lei determinará quem prevalecerá.”
Segundo o advogado da Wayfarer, há um segundo processo a caminho, desta vez contra Lively e sua equipe.