
Nesta quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou o aumento da taxa básica de juros, Selic, em 1 ponto percentual, saltando de 13,25% para 14,25% ao ano. O reajuste foi unânime entre os nove integrantes do colegiado, seguindo o que foi apontado na ata do seu último encontro, em janeiro deste ano. O movimento já era esperado pelo mercado.
Com isso, a Selic chega ao seu maior patamar desde outubro de 2016, quando registrava o mesmo percentual. Para maio, o comitê prevê uma nova elevação, mas de menor proporção, caso o cenário previsto se confirme. Em comunicado, o Copom enfatizou que para além da reunião de maio, a magnitude total do ciclo de aperto “será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta” e dependerá da evolução dos preços à frente, incluindo componentes mais sensíveis à atividade econômica, projeções e expectativas de inflação, nível de ociosidade da economia e riscos para os preços à frente.
Para analistas de mercado consultados pelo Boletim Focus, a tendência é que a taxa chegue aos 15% até o final do ano. Vale lembrar que, em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 1,31%, tornando-se a maior alta para o mês em 22 anos. No acumulado, a inflação é de 5,06%, mais de 1 ponto percentual acima da meta com margem de tolerância, de 4,5%. Ainda segundo o Boletim Focus, a tendência é que o IPCA chegue ao final de 2025 a 5,66%. Na avaliação do Copom, os preços estão reagindo de forma dinâmica.
Para Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, essa reforça a possibilidade de um aumento menor na Selic. “Eu vejo isso como o início de uma correção inflacionária por aqui”, diz. “Se os preços se acomodarem, a tendência é que o aumento continue, mas em menor proporção”, completa Correia.
A diretoria do BC entende que o cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções elevadas para os preços à frente, resiliência na atividade e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.
Projeções
Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado com preocupação pela autarquia. Por isso, para 2026, foco do horizonte relevante de atuação do BC, as expectativas passaram de 4,22% para 4,48%.
A autarquia, no entanto, melhorou ligeiramente suas projeções de inflação em relação a janeiro, com estimativas passando de 5,2% para 5,1% em 2025, com base no cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros. Para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante, a projeção passou de 4% para 3,9%.
Para essas previsões, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de R$5,80, abaixo dos R$6,00 usados na reunião de janeiro. O centro da meta contínua para a inflação nos próximos anos continuará sendo de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Em relação às contas públicas, o BC disse que segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. “A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, disse.
Medidas de contenção de gastos propostas pelo governo — e consideradas insuficientes por analistas para estabilizar a dívida pública — foram aprovadas parcialmente no fim de 2024 pelo Congresso, que também tem imposto dificuldades para a votação do Orçamento deste ano, até o momento não aprovado.
Cenário internacional
Mais cedo, o banco central dos Estados Unidos manteve a taxa básica de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,50%, com suas autoridades indicando que ainda preveem uma redução de 0,50 ponto percentual da taxa até o final do ano, embora tenham apontado maiores incertezas.
Em meio ao processo de alta em tarifas de importação pelo governo Donald Trump nos Estados Unidos e dúvidas sobre os próximos passos da guerra comercial e seus impactos, o BC afirmou no comunicado que o ambiente externo permanece desafiador, citando incerteza acerca da política comercial dos EUA.
No comunicado, o Copom destacou o momento desafiador “em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca da sua agenda comercial e de seus efeitos”. Por isso, avalia que o cenário externo exige cautela dos países emergente.