
O índice Standard & Poor’s de 500 ações ou S&P 500 é um dos indicadores mais importantes de Wall Street. É formado por ações das 500 maiores empresas americanas de capital aberto, medidas pelo seu valor de mercado. São empresas enormes, mas há algumas muito maiores que a média, as de tecnologia. Por serem sete, foram apelidadas de Sete Magníficas (Magnificent Seven), em referência a um faroeste de 1960. A seleta lista inclui Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta (dona do Facebook e do Instagram), Microsoft, Nvidia e Tesla.
Essas gigantes do setor de tecnologia cresceram substancialmente nos últimos anos. Seu avanço em 2024 representou 57% do ganho de capital do S&P. Apesar de expressivo, o resultado foi um pouco menor que os 65% de 2023. A maior parte dessa valorização, que influenciou o índice, vem do crescimento da inteligência artificial e, não por acaso, há um abismo entre elas e as outras 493 empresas que compõem o S&P 500.
Embora a relevância e o valor de mercado dessas Magníficas sejam indiscutíveis, seu crescimento tende a desacelerar, o que faria o índice tornar-se mais dependente das demais companhias. A hipótese ganhou força em 2025. Nesses três primeiros meses, o S&P 500 recuou 3,5% e as Magnificent Seven perderam US$ 643 bilhões (R$ 3,69 trilhões) em valor de mercado em apenas um dia. O que os especialistas esperam para o longo prazo?
Tamanho do impacto
Só em 2024, as Sete Magníficas cresceram quase 100% e o S&P avançou 24%, mesmo com a desaceleração dessas empresas no segundo semestre. A performance culminou na maior valorização em dois anos desde o biênio 1997-1998. Se comparadas às demais listadas no S&P, as Magnificent Seven subiram 2 pontos percentuais a mais (6% contra 4% do mercado amplo).
“O índice ficou bastante concentrado no setor de tecnologia da informação e da comunicação. Essas empresas representam cerca de 32% do S&P”, diz Guilherme Bellizzi, estrategista de BDR da Corretora do Santander. As Sete Magníficas possuem o chamado efeito de rede: quanto mais elas crescem mais atrativas se tornam, pois ganham mais usuários. No último trimestre de 2024, o lucro do S&P subiu em 17,9%. Paulo Gitz, estrategista global da XP, diz que ao menos 7 pontos percentuais desse avanço vieram das Sete Magníficas, somados com a valorização da Netflix. A corretora inclui a empresa de streaming no grupo das Magnificent. Ele destaca que, desde o fim de 2022, a contribuição das outras 492 companhias não era maior que a desse grupo.
Apesar da disparada de valores, os analistas descartam a hipótese de que haja uma bolha em formação dentro do S&P 500. “O valuation do S&P 500 realmente está alto, mas não há como comparar o momento atual com a média histórica. As empresas listadas hoje são globais e não regionais”, afirma. Para Gitz, isso é reforçado pelo fato dos lucros da Magníficas estarem crescendo na mesma proporção.
Ano diferente
Se nos dois anos anteriores, o cenário para as Sete Magníficas e o S&P foi favorável, 2025 não segue o mesmo roteiro. Com a chegada da DeepSeek, empresa chinesa de tecnologia que criou uma inteligência artificial mais barata sacudiu as ações das líderes de mercado americanas. Em 27 de janeiro, poucos dias após o anúncio da DeepSeek, as Magnificent Seven perderam US$ 643 bilhões (R$ 3,69 trilhões) em valor de mercado. “Até a chegada dessa IA, o mercado tinha certeza de que eram necessários investimentos massivos em tecnologia, equipamento e pesquisa, para alcançar um diferencial competitivo na inteligência artificial”, diz o estrategista da XP. “A DeepSeek é um modelo mais barato e muito mais fácil de ser criado. É uma forma diferente de pensar”, completa.
Outro fator adverso são as incertezas econômicas nos Estados Unidos, desde a posse de Donald Trump. A estratégia de taxar produtos importados e promover uma guerra tarifária com os principais parceiros comerciais torna o mercado mais volátil. “Essa incerteza prejudica mais as ações que estavam com múltiplos altos”, afirma Gitz.
“Os EUA estão cortando gastos públicos, mas a Europa está propondo aumentar as despesas, especialmente de defesa e de segurança, diante da guerra entre Ucrânia e Rússia”, diz Bellizzi. Na sua concepção, o mundo está descentralizando a referência de mercado nos Estados Unidos e buscando diversificar seus portfólios.
O que esperar?
As Sete Magníficas estão caindo. A Tesla sofreu uma desvalorização de mais de 40% desde dezembro. Na quarta-feira (19), o Federal Reserve (FED) manteve a faixa da taxa americana de juros entre 4,25% e 4,50% e destacou uma maior “incerteza em relação às perspectivas econômicas” dos Estados Unidos.
O estrategista do Santander entende que o recuo das ações das Magnificent Seven é exagerado. Para ele, nos últimos anos, o cenário mudou pouco, mas o sentimento dos investidores é outro. Há um maior temor e busca recorrente por ativos que retornem valor o mais rápido possível. “Não vejo muito sentido nessa desvalorização, afinal, se a economia está desacelerando, a tendência é que o consumo diminua e atinja setores que são mais expostos”, afirma. Elas são pouco afetadas pela macroeconomia.
“Os setores em que elas atuam, como computação em nuvem e publicidade digital, são enormes. Elas crescem independentemente do que esteja ocorrendo na política ou na economia, é quase um piloto automático”, diz Bellizzi. Por essa razão, ele considera um equívoco vender as ações das Magníficas em meio ao recuo. “Nos últimos 100 anos do S&P, 5% dos melhores dias representaram a maior parte dos retornos aos investidores, então quem ficou de fora, teve um retorno pífio”, destaca.
O estrategista do Santander diz acreditar que a tendência é que, cada vez mais, o S&P seja dependente das Magnificent Seven. Isso porque o mercado sempre teve a preocupação em não superestimar seus valores, enquanto ano a ano, essas empresas surpreendem com novos mercados e expansão. “A magnificência dessas empresas está na capacidade de inovar e de gerar crescimento de lucro”, pontua Gitz, concordando. Como exemplos, ele cita a computação quântica do Google e a criação de carros autônomos pela Tesla.
Pelo peso que as Magníficas possuem atualmente no índice, o estrategista da XP considera difícil imaginar um cenário em que outras 493 empresas cresçam e as Magnificent Seven não, sem o índice recuar. “A queda potencial das Sete Magníficas pode mais do que compensar a alta do resto do S&P”, explica. Nessa mesma linha de raciocínio, Bellizzi também não descarta a possibilidade de que novas companhias surjam e tomem o protagonismo.