
O dólar despencou ante o real nesta quarta-feira (5) e encerrou o dia novamente na faixa dos R$5,75, com as cotações se ajustando ao recuo da moeda americana no exterior ao longo dos últimos dias, devido aos sinais desaceleração da economia dos Estados Unidos. O mercado brasileiro manteve-se fechado durante o Carnaval e só retomou suas operações a partir das 13h (horário de Brasília) desta quarta.
Ao fim desta quarta-feira de Cinzas, o dólar à vista fechou em baixa de 2,72%, aos R$5,7558. Se comparado ao registrado no fechamento de sexta-feira (28), o recuo é de R$ 0,16. Na ocasião, a moeda americana havia registrado alta de 1,50% e foi cotada a R$5,9165, a maior cotação registrada desde o dia 24 de janeiro. Diante da abrupta desvalorização, as perdas da divisa dos Estados Unidos diante do real são de 6,85% em 2025.
Sem grandes novidades do Brasil, o Ibovespa fechou o dia com 123.046,85 pontos, uma alta de 0,20%. A elevação foi graças ao disparo das ações da Embraer, que beirou 9%, renovando máximas históricas.
Em queda livre
Antes da volta dos negócios nesta quarta, durante a manhã, o Relatório Nacional de Emprego da ADP mostrou que a economia dos EUA abriu apenas 77 mil vagas de emprego no setor privado no mês passado, depois de 186 mil em janeiro, em dado revisado para cima. O resultado de fevereiro ficou bem abaixo dos 140 mil postos projetados em pesquisa da Reuters com economistas e impactou na cotação do dólar pelo mundo. Outro fator que abalou a divisa foram as preocupações com os efeitos da política tarifária dos EUA sobre a inflação.
“Tem um movimento interessante que está acontecendo, com várias medidas de atividade econômica apontando para uma desaceleração muito forte nos Estados Unidos”, pontuou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, citando o efeito de políticas como cortes fiscais e demissões em massa no setor público norte-americano.
“Isso repercutirá na moeda americana, com a visão de que eventualmente o Fed (Federal Reserve) cortará juros este ano”, acrescentou Gala.
Início de guerra comercial
Na terça-feira (4), começaram a valer as novas tarifas de importação de 25% dos EUA sobre produtos do México e do Canadá, além de novas taxas sobre os produtos da China,de 20%. No entanto, durante à tarde desta quarta, Trump recuou e deu m mês de isenção de tarifas para qualquer automóvel que entre no território americano por meio do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês). Na prática, este foi mais um episódio de relaxamento das cobranças de tarifas pelos EUA.
“A gente ainda vê um dólar mais forte por conta da tese de que as tarifas dos EUA serão inflacionárias. O que está mudando no cenário é há uma desaceleração na economia americana, porque os dados estão vindo mais fracos que o esperado”, pontuou Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
“Não descarto a tese antiga, de inflação mais forte e dólar mais forte, mas como os dados estão mostrando enfraquecimento, pode ser que tenhamos um dólar um pouco menor”, acrescentou.
Volta do Ibovespa
Na visão da equipe de grafistas da Ágora Investimentos, a forte queda da sexta-feira (28), de 1,6% consolidou a leitura de reversão de tendência de curto prazo para o índice Bovespa, sinalizando provável busca pelas próximas referências de suporte em 121.170 e 118,5 mil pontos, conforme relatório a clientes.
O cenário interno foi de pouca movimentação e impactos sutis na bolsa ao longo desta quarta, ficando à mercê apenas das compras e vendas de ações. Por falar nisso, se por um lado, a Embraer foi o destaque positivo, a Petrobras e outras petrolíferas foram o negativo. As empresas figuraram entre as maiores quedas, influenciadas pelo recuo expressivo do petróleo no exterior. Cenário bastante semelhante ao registrado na quinta-feira passada (27), quando o que abalou o Ibovespa foram os resultados da Petrobras.
Para este mês, a principal expectativa dos investidores é com a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). No último encontro, o Banco Central projetou acréscimo de 1 ponto percentual (p.p.), saindo de 13,25% para 14,25%.
Destaques
– EMBRAER ON disparou 8,79%, tendo renovado máximas históricas acima de R$75, em meio à visão entre analistas de que a fabricante de aviões deve continuar mostrando desempenho operacional benigno em 2025. No ano, o papel já sobiu cerca de 24%, após salto de 150% em 2024. “Acreditamos que a Embraer é uma história convincente e que deve continuar com um bom momento operacional em 2025”, afirmou a equipe do Santander.
– MARFRIG ON avançou 7,04%, recuperando-se do tombo de mais de 10% no último pregão, na sexta, em sessão positiva para o setor de proteínas na bolsa. JBS ON subiu 0,39%, tendo ainda no radar que, na segunda-feira (3), a China suspendeu importações de carne bovina de sete estabelecimentos do Brasil, Argentina, Uruguai e Mongólia, incluindo uma unidade da companhia, em Mozarlândia (GO).
– AMBEV ON valorizou-se 4,58%, tendo como pano de fundo relatório do UBS BB reiterando recomendação de compra para a ação, com os analistas do banco também elevando previsões para os lucros em 2025, 2026 e 2027 em 5,7%, em média, para incorporar os resultados do quarto trimestre do ano passado e novas premissas sobre a taxa de câmbio e a inflação.
– ITAÚ UNIBANCO PN fechou em alta de 1,49%, em dia positivo para o setor no Ibovespa, com BANCO DO BRASIL ON avançando 1,68%, BRADESCO PN registrando alta de 2,05% e SANTANDER BRASIL UNIT apurando elevação de 1,43%.
– PETROBRAS PN recuou 3,65%, em dia negativo para petrolíferas na B3, contaminadas pelo declínio do petróleo no exterior. O barril do Brent perdeu 2,45%, após alta dos estoques nos EUA, em meio a receios com planos da Opep+ de prosseguir com os aumentos de produção em abril. PETROBRAS ON cedeu 4,61%, enquanto BRAVA ENERGIA ON caiu 8,27%, PRIO ON recuou 2,1% e PETRORECONCAVO ON terminou em baixa de 3,15%.
– BRASKEM PNA fechou em queda de 3,28%, engatando o décimo pregão seguido de declínio, dada a perspectiva ainda desafiadora para a indústria petroquímica. Na véspera, também entraram em vigor as novas tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre as importações do México, onde a empresa tem operações. Na semana passada, a companhia divulgou um prejuízo bilionário para o quarto trimestre de 2024.
– NATURA&CO ON caiu 1,78% após anunciar que continua negociando com a gestora IG4 visando uma potencial venda das operações da Avon fora da América Latina, mas agora sem exclusividade, uma vez que o prazo para tal direito expirou em 28 de fevereiro. “O que parecia mais iminente, está potencialmente se arrastando por mais tempo”, notou o JPMorgan, chamando a atenção para potenciais efeitos no caixa.
– VALE ON subiu 0,8%, apesar da queda dos futuros do minério de ferro na China. A próxima sexta-feira, dia 7, é a data de corte para pagamento de dividendos anunciados no mês passado, no valor total bruto de cerca de R$2,14 por ação. O pagamento está previsto para 14 de março.