
O preço dos alimentos tem sido uma pedra no sapato do governo Lula nas últimas semanas, deteriorando a popularidade do presidente. Durante a noite de quinta-feira (6), o governo federal anunciou que a tarifa de importação de nove alimentos será zerada. Entre os itens beneficiados estão azeite, milho, óleo de girassol, sardinha, biscoitos, massas alimentícias, café, carne e açúcar. Outra estratégia foi aumentar a cota de importação, como aconteceu com o óleo de palma, que até então possuía um teto de 65 mil toneladas e, agora, tem limite de 150 mil toneladas.
A divulgação foi realizada pelo vice-presidente Geraldo Alckimin, logo após encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Alckimin, a redução não deve prejudicar o produtor nacional. “Nós estamos em um período em que reduzir o imposto ajuda a reduzir preços”, explicou. Além das já citadas, o vice-presidente anunciou outras quatro medidas:
- Maior estoque da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab);
- Priorização do próximo Plano Safra para alimentos que compõem a cesta básica;
- Expansão do Sistema Brasileiro de Produtos de Origem Animal (SISBI);
- Negociação com estados para redução do ICMS sobre produtos da cesta básica.
A medida tem como objetivo reduzir os preços desses itens, promovendo maior oferta. Os valores no supermercado têm assustado os consumidores e estão impactando na inflação, cujo acumulado nos últimos 12 meses chega a 4,96%. Em fevereiro, o grupo de alimentos e bebidas registrou alta de 1,23% em relação a janeiro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mede a inflação oficial. Se pegar o aumento nos últimos cinco meses, a elevação deste grupo foi de 5,4%.
Mas as iniciativas são o suficiente para aplacar o ritmo da inflação?
Real Impacto
Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, o efeito não deve ser imediato. “Em geral não importamos muito todos esses produtos, tirando o azeite e o óleo de palma”, explica. Por outro lado, ela pondera que no caso de itens com problemas de oferta no mundo, como é o caso do azeite, o câmbio pode sofrer depreciação. “Isso impactaria nos ganhos com a isenção”, alerta Angelo.
Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, considera que a redução no imposto de importação tem poucos efeitos práticos, mas possivelmente impactará na popularidade do presidente. Ele também explica que há produtos de amplo consumo cuja maior parte é produzida no Brasil, como o café e a carne. Além disso, são itens que possuem uma alíquota de importação baixa, na casa dos 10%.
Na visão da economista-chefe da CM Capital, Carla Arigenta, as classes mais baixas são as mais sofrem com as oscilações dos preços. “O público a ser beneficiado não é o público alvo dessa política”, afirma, destacando a elevação do valor da carne e do café. Para ela, o produto que deve ser mais beneficiado é a sardinha, cuja taxa é de 30%, embora o impacto no IPCA seja “muito pequeno”.
Não é só alíquota de importação
Fabrício Silvestre, economista da Levante, destaca outras iniciativas que devem ajudar, além da zeragem do imposto de importação. Dentre elas, a expansão do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal, de 1,5 mil para 3 mil, o que deve aumentar a variedade no mercado nacional. Ele também aponta o fortalecimento dos estaques da Conab. “Isso deve ajudar a estabilizar os valores, quando houver quebra de safra”, explica.
“No geral, são medidas de longo prazo e que devem suavizar a flutuação dos preços dos alimentos”, diz Silvestre. No entanto, ele lembra que parte dessa política depende do impacto da crise climática na próxima safra, que deve afetar a oferta dos itens. “Caso ocorra alguma mudança significativa no clima, essas iniciativas teriam apenas um efeito marginal no problema como um todo”, destaca.