
A bolsa N5X começa a ofertar nesta quarta-feira (23) negociação em tela de contratos de compra e venda de energia elétrica em sua plataforma para o mercado livre de energia do Brasil, avançando em um projeto de longo prazo que prevê a criação de produtos financeiros e a estruturação de uma contraparte central para esse mercado em 2026.
A tela da N5X chega para ampliar as opções para agentes do mercado bilionário de trading de energia no Brasil, que apesar do crescente número de participantes e volume de negócios ainda luta para evitar problemas de inadimplência com potencial de gerar efeito cascata para todo o mercado.
A N5X entra em um mercado hoje dominado pelo Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), que concentra a maior parte das negociações de trading do Brasil e movimentou cerca de R$90 bilhões em 2024, sendo R$25 bilhões transacionados em tela, com grande aderência junto a comercializadoras.
Joint venture entre um fundo apoiado pela B3 e a Nodal Exchange, bolsa de derivativos da alemã European Energy Exchange (EEX), a N5X lançou no ano passado sua plataforma para comercialização de energia elétrica com uma primeira funcionalidade, a boleta para formalização de contratos de compra e venda bilaterais entre empresas.
Agora, a plataforma passa a ser também um ambiente para a própria negociação dos contratos, processo que hoje ocorre em grande parte de maneira difusa e não organizada, com interações entre os agentes pelo telefone, e-mail ou WhatsApp, observa a CEO da N5X, Dri Barbosa.
“É um ‘marketplace’, onde o mercado de trading de energia se encontra para fazer negociações de compra e venda… Isso facilita também uma sinalização de preço (dos contratos) ao mercado”, disse a executiva, em entrevista à Reuters.
Ela ressaltou a importância de ferramentas da plataforma que aumentam a segurança das operações de trading, como o cadastro pelas empresas de suas políticas de risco de contraparte.
A ideia é que, com esses mecanismos, os agentes consigam reduzir riscos.
“Os participantes vão poder colocar ordens de compra e venda na tela, tomar ordens, de acordo com os limites de risco bilateral. Então as empresas cadastram esses limites (de risco) que vão dar para suas contrapartes, de diferentes maneiras, como o ‘net’ das posições de compra e venda”, acrescentou.
A segurança das operações se tornou um ponto crítico para o mercado de compra e venda de energia nos últimos anos, em meio a problemas de inadimplência por parte de várias comercializadoras.
No ano passado, um novo alerta foi disparado quando pelo menos duas grandes casas ameaçaram dar calote após uma virada da tendência de preços de energia, o que reduziu de forma drástica a liquidez de todo o mercado de trading.
“O acontecimento do ano passado mostrou para os participantes que, com a abertura do mercado livre de energia, o tombo cada vez vai ser maior… A cada um ano e meio, dois anos, teve pelo menos um ‘default’ no mercado”.
INÍCIO DAS OPERAÇÕES
As atividades de tela da N5X começarão inicialmente para um grupo de 33 empresas convidadas, entre elas grandes geradoras, como Auren, Eletrobras, Casa dos Ventos, Eneva, Hydro e Statkraft.
Já a partir de 9 de maio, a funcionalidade estará disponível para as mais de 240 empresas cadastradas na plataforma, incluindo grandes geradores, consumidores, instituições financeiras e comercializadoras habilitadas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para operar no mercado livre de energia.
“Temos tido apoio de diferentes perfis, mas claramente as geradoras têm uma preocupação muito grande de criar um mercado líquido e seguro. Elas entendem a importância da N5X de evoluir esse mercado para contraparte central”, pontuou Barbosa.
CLEARING E OFERTA DE PRODUTOS FINANCEIROS
Em paralelo, a N5X avança com preparativos para pedir aprovações regulatórias para estruturar uma contraparte central para o mercado livre de energia elétrica e também operar produtos financeiros, como opções e swaps, que não envolvem entrega física.
Segundo a CEO, a expectativa é de que as aprovações regulatórias saiam em 2026.
“Quando a gente olha para o grupo EEX, que opera em mais de 20 países, o mercado se tornou efetivamente seguro e líquido quando veio a figura da contraparte central, fazendo gestão de risco centralizada. Essa é a solução”.
“Teremos derivativos em 2026. Já estamos trabalhando nisso, fizemos conversas com vários participantes para validar os instrumentos que criamos”, acrescentou.