
A MP Materials está ampliando o fornecimento de ingredientes e ímãs essenciais usados em carros, eletrônicos e equipamentos militares, justamente enquanto a China impõe restrições às exportações. A empresa é dona de uma mina chamada Mountain Pass, localizada no deserto de Mojave, na Califórnia.
Desde que a China respondeu às tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, restringindo a exportação de minerais de terras raras — fundamentais para a produção de ímãs usados em motores elétricos de carros, eletrônicos, robôs e turbinas eólicas — o telefone de Jim Litinsky, fundador e CEO da MP Materials, não parou mais de tocar, com empresas desesperadas em busca de novos fornecedores. “Nunca vi nada parecido com esse senso de urgência, ”, disse ele à Forbes dos EUA. “É meio maluco e empolgante, mas, ao mesmo tempo, é assustador.”
A raridade em um mercado dominado
Com a Mountain Pass, Litinsky fornece elementos como neodímio e praseodímio, essenciais para setores como o de defesa, automotivo e eletrônico na construção de motores elétricos mais eficientes. Após extraírem os minerais do solo com uma equipe de mais de 800 engenheiros, técnicos e mineradores, a MP os refina e transforma em metais, que empresas como a General Motors utilizam em motores de veículos elétricos. A partir deste ano, a produtora de materiais de terras raras também produzirá ímãs de alta potência com esses metais em uma nova fábrica no Texas.
Atualmente, este mercado é dominado pela China, que produz quase 95% de todos os ímãs de terras raras do mundo e, praticamente, todas as 7 mil toneladas que os EUA importam por ano vêm da China. Isso expõe uma vulnerabilidade clara nas cadeias de suprimento das empresas americanas, que dependem desses materiais para seus produtos. Com a escalada da guerra tarifária iniciada por Trump, a China anunciou em 4 de abril uma restrição das exportações para os EUA de terras raras “pesadas”, suspendendo também o envio de ímãs produzidos com esses materiais.
“O problema para praticamente toda indústria que usa motores com ímãs é que a China tem esse poder estratégico absurdo sobre os minerais de terras raras”, afirmou um membro do conselho de uma montadora americana, que preferiu não se identificar publicamente. “O que a China acabou de colocar sob controle de exportação é um baita problema. Não vamos conseguir fabricar motores, nem nada que funcione com ímã giratório. Fim de jogo.”
De repente, para empresas que precisam de um fornecedor de terras raras não afetado por tarifas e restrições comerciais, a MP virou “a única opção viável”, escreveu Ben Kallo, analista de ações da Barid, em um relatório publicado este mês.
Estratégia ousada
Diante do aumento repentino da demanda interna e dos problemas gerados pelas tarifas, a produtora de materiais de terras raras, sediada em Las Vegas, decidiu apostar alto: interrompeu o envio de concentrados de terras raras — que são separados do minério extraído — para a China, principal compradora mundial e maior cliente da MP, responsável por 90% da receita da empresa. No ano passado, a companhia registrou US$ 144,4 milhões (R$ 851,61 milhões) em vendas desse tipo, de um total de US$ 203,9 milhões (R$ 1,202 bilhão) em receita — ou seja, é uma jogada arriscada. Em vez disso, Litinsky está acelerando as vendas de materiais refinados para novos clientes nos EUA, Japão e Coreia do Sul.
“Vender nossos materiais críticos valiosos sob tarifas de 125% não é comercialmente racional, nem está alinhado com o interesse nacional dos EUA”, afirmou a empresa. “Estamos nos preparando para esse momento desde o primeiro dia.”
Se a MP conseguir suportar o impacto financeiro de curto prazo e o caos da guerra comercial, o potencial é enorme: garantir um fornecimento estável de minerais críticos dentro do país pode transformar a empresa em uma das poucas vencedoras com as tarifas de Trump — que deixaram os mercados financeiros apreensivos com o risco de inflação alta e recessão. As ações da MP já subiram 69% neste ano até última sexta-feira (18).
A dependência da China para a produção de ímãs de terras raras há muito é motivo de preocupação, já que isso dá a um dos principais rivais econômicos dos Estados Unidos um controle incomum sobre a cadeia de suprimentos de equipamentos militares, como mísseis, jatos e drones. Com o aumento da produção, a MP também tem a chance de assumir um papel de liderança nesse cenário.
“As terras raras ganharam uma importância geopolítica maior do que nunca, e acreditamos que pode haver uma oportunidade para a MP atuar como conselheira do governo dos EUA em sua estratégia de desenvolvimento”, escreveu o analista Ben Kallo no início deste mês, antes de a MP anunciar sua saída do mercado chinês.
Antiga mina de ouro
A produtora está em um processo de oito anos de preparação para esse cenário turbulento provocado pelas tarifas sobre terras raras. Sua mina a céu aberto, localizada a 85 km de Las Vegas, foi inicialmente aberta como uma mina de ouro em 1936. Os depósitos de terras raras foram descobertos ali em 1949, e uma empresa chamada Molybdenum Corp. começou a extração comercial desses materiais em 1952. A produção cresceu, e a mina foi adquirida pela Union Oil, que mais tarde passou a ser uma divisão da Chevron, em 2005. Devido à concorrência de preços com empresas chinesas e a um vazamento de resíduos tóxicos, a extração de terras raras foi interrompida e a mina fechou no ano de 2002.
A Chevron vendeu a mina para a Molycorp Minerals em 2008, que retomou a produção no local em 2012. Apesar de ter levantado recursos consideráveis e aberto capital em 2010, a Molycorp não conseguiu ampliar com sucesso as operações em Mountain Pass e entrou com pedido de falência em 2015. Jim Litinsky, hoje com 47 anos, assumiu o controle pouco tempo depois, enquanto liderava o JHL Capital Group, um fundo de hedge que ele mesmo havia fundado, aproveitando a oportunidade de transformar a mina em um negócio de sucesso.
“Eu não sou minerador de formação”, disse ele. “Na época, esperava que outros fossem resolver isso e dar a volta por cima. O que aconteceu foi que, quando a empresa faliu, entrou em queda livre total — nenhum comprador, seja financeiro ou estratégico, apareceu. Havia uma expectativa de que o negócio era inviável”, completou Litinsky.
“Quando comecei a investigar, percebi que tinham sido cometidos alguns erros no processo de produção [na mina], mas também que este é um local de nível mundial. É, provavelmente, o melhor depósito de minério de terras raras do mundo e há muitos ativos de alto valor construídos ali”, destacou o CEO da MP.
A aquisição foi viabilizada com recursos da Shenghe Resources, a principal empresa chinesa de mineração e refino de terras raras, por meio de um pedido antecipado de concentrado de Mountain Pass no valor de US$ 50 milhões (R$ 294,5 milhões) em 2017. Esse investimento inicial deu à Shenghe — que é parcialmente controlada pelo governo chinês — uma participação de 8% na MP.
No entanto, a Shenghe não tem controle operacional da empresa nem assento no conselho. Desde que a mineração foi retomada em 2017, a empresa vinha sendo uma compradora constante do concentrado de terras raras da MP — algo que agora está sendo encerrado com a mudança nas exportações relacionadas à China.
Mineração, Refino, Metal, Ímãs
A MP se destaca tanto nos EUA não apenas por possuir uma mina de terras raras, mas também por contar com capacidade de refino. “O mais relevante é lembrar que o que realmente importa é a capacidade de refinar os elementos de terras raras — que, na verdade, nem são tão raros assim — e fabricar ímãs para uso em motores elétricos”, escreveu Elon Musk no X, em referência às novas restrições de exportação impostas pela China.
E é exatamente isso que a MP está fazendo. Além de refinar os minérios de terras raras extraídos de Mountain Pass, em janeiro a empresa iniciou a produção comercial em Fort Worth do metal NdPr — composto por neodímio e praseodímio — usado na fabricação de ímãs. A produção piloto desses ímãs já começou na nova planta, com a primeira produção comercial das baterias da produtora prevista para o final deste ano.
Na primeira fase, a planta será capaz de produzir 1.000 toneladas de metais e ímãs de terras raras por ano. Mas Litinsky pretende triplicar esse volume para 3 mil toneladas. Com o tempo, ele vê um potencial ainda maior. “A partir daí, temos a possibilidade de expandir significativamente, realmente em todos os aspectos do nosso negócio”, afirmou.
Novas concorrentes
A MP pode ter a única mina ativa de terras raras nos EUA, mas está longe de ser a única empresa americana tentando reduzir a dependência das importações chinesas.
A Noveon Magnetics, com sede em San Marcos, no Texas, também abriu uma fábrica que pretende produzir até 2 mil toneladas de ímãs de terras raras, utilizando uma combinação de sucata, minerais importados da Austrália e do Sudeste Asiático, além de alguns metais reciclados, recuperados de motores. Já a USA Rare Earth está construindo uma fábrica de ímãs em Stillwater, Oklahoma, que espera um dia produzir até 5 mil toneladas por ano.
Enquanto isso, a Niron, uma startup de Minneapolis, está tentando eliminar completamente as terras raras ao desenvolver ímãs potentes feitos com nitreto de ferro, usando matérias-primas baratas e amplamente disponíveis.
Por ora, no entanto, a MP está na frente. Litinsky afirma que a empresa começará a fornecer ímãs à GM ainda neste ano e que firmou novos contratos de fornecimento com duas outras montadoras, que “estão entre as cinco maiores do mundo”. Ao considerar que a empresa exporta seu metal NdPr para o Japão e a Coreia do Sul, esses clientes provavelmente são Toyota e Hyundai, mas as montadoras preferiram não comentar; Ford e Tesla, maior fabricante de carros elétricos dos EUA, também não falaram sobre o impacto das restrições às terras raras.
Além de suspender o envio de ímãs de terras raras, a China identificou explicitamente as terras raras “pesadas” que sofreriam restrições, incluindo componentes como samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio. Pequenas quantidades desses minerais são usadas na produção de ímãs, mas também são essenciais para uma ampla gama de produtos, incluindo equipamentos médicos, sistemas de iluminação e dispositivos militares.
A mina da MP também possui esses minerais e já “começou a estocar concentrados desses minérios”, afirmou o porta-voz Matt Sloustcher. O momento não poderia ser melhor para Litinsky.
“Essa sempre foi a visão da empresa desde o início: que um ponto único de falha em uma cadeia de suprimentos é um grande risco — e especialmente quando esse ponto único de falha é um adversário geopolítico. Isso representa um risco à segurança nacional”, disse ele. “É exatamente isso que a gente vem gritando aos quatro ventos há vários anos.”