
A semana começou com estresse generalizado nos mercados globais, com o dólar disparando novamente no Brasil e passando dos R$5,90, após os Estados Unidos iniciarem a cobrança de tarifas de importação e o presidente americano, Donald Trump, ameaçar a China com mais taxas.
No final do pregão, a moeda dos EUA à vista fechou em alta de 1,24%, aos R$5,9107, maior valor de fechamento desde 28 de fevereiro, quando encerrou a R$ 5,9165. Apenas no acumulado das duas últimas sessões, o dólar avançou R$ 0,28 — um salto que dá a medida do estresse do mercado local com a guerra tarifária deflagrada pelos Estados Unidos. Em abril a divisa já acumula elevação de 3,57%.
Sem alívio nas preocupações com os rumos da política comercial americana, o Ibovespa registrou o terceiro pregão seguido em queda. Nesta segunda, o recuo foi de 1,31%, somando 125.588,09 pontos. “Em função do contexto extremamente desafiador para as bolsas globais, a região de suporte consolidado (do Ibovespa) dos 118.500 é o grande ponto de atenção para a semana”, afirmaram analistas gráficos da Ágora Investimentos, em relatório enviado a clientes nesta segunda-feira.
“Em caso de perda deste nível, o Ibovespa entraria tecnicamente em tendência de baixa de médio e longo prazo, com potencial busca pela região dos 100 mil pontos”, completaram.
Resposta às tarifas
O dólar se manteve em alta durante praticamente toda a sessão em sintonia com a queda firme das ações ao redor do mundo. Isso porque desde sábado (5), a cobrança de uma tarifa de 10% sobre todas as importações dos EUA começou a valer. Durante o dia, assim como na sexta-feira (4), investidores buscavam a segurança da moeda americana, tendo no horizonte ainda o início da cobrança, na próxima quarta-feira (9), de uma bateria adicional de tarifas recíprocas que atingirá vários países.
Para piorar, nesta segunda Trump disse que pode impor uma taxa adicional de 50% sobre as importações vindas da China, a partir desta quarta, se a segunda maior economia do mundo não retirar as tarifas de 34% sobre produtos dos EUA. A cobrança pelo lado chinês foi uma resposta ao lado americano, que também está cobrando 34% em imposto sobre produtos importados da China para os Estados Unidos.
Conflito comercial pode escalar
Os mercados globais chegaram a experimentar algum alívio nesta segunda-feira perto das 11h (horário de Brasília), após reportagem da CNBC dos EUA informar que Trump estaria considerando uma pausa de 90 dias nas tarifas cobradas de todos os países, com exceção da China. Em reação, às 11h15 o dólar à vista despencou para a mínima de R$5,8163 (-0,38%). Enquanto Ibovespa e S&P 500 flertaram com o sinal positivo.
Mas o movimento foi um ruído momentâneo. Em resposta na sequência, a Casa Branca desmentiu a pausa e qualificou a notícia como “falsa”, o que fez o dólar subir com ainda mais força ante o real. Às 13h12, a moeda americana à vista atingiu a máxima de R$5,9333 (+1,63%).
“Essa possível escalada na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo provocou um aumento na aversão ao risco nos mercados, o que afetou particularmente as moedas de países emergentes — especialmente o real”, disse Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, em comentário distribuído no fim da tarde.
A alta do dólar ante a moeda brasileira ajudou a sustentar as taxas dos (Depósitos Interfinanceiros) (DIs) no Brasil e esteve em sintonia com a queda firme do Ibovespa. No exterior, o dólar tinha ganhos ante quase todas as demais divisas no fim da tarde. Às 17h16, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda dos EUA frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,89%, a 103,510 pontos.
Destaques
– PETROBRAS PN recuou 3,97% e PETROBRAS ON perdeu 5,57%, em meio a preocupações com pressões para que a estatal corte os preços dos combustíveis em meio ao tombo do petróleo. Fonte afirmou à Reuters que o ministro de Minas e Energia pediu à presidente da companhia para analisar um novo corte no valor médio do diesel vendido às distribuidoras. No exterior, barril de Brent cedeu 2,09%.
– VALE ON caiu 1,2%, acompanhando os futuro do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado em Dalian fechou o dia com queda de 3,36%, a 762,5 iuanes (US$ 104,31 ou R$ 616,50) a tonelada, tendo como pano de fundo os receios com o desfecho da troca de tarifas entre Washington e Pequim.
– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,19%, em meio a um fechamento sem direção única das ações do bancos no Ibovespa. BRADESCO PN cedeu 1,67%, BANCO DO BRASIL ON perdeu 1,07% e SANTANDER BRASIL UNIT caiu 0,45%. Mas BTG PACTUAL UNIT avançou 1,91%, com agentes também acompanhando noticiário sobre o Banco Master, que teve parte comprada pelo Banco de Brasília (BRB).
– MAGAZINE LUIZA ON encerrou o dia em baixa de 6,37%, também pressionada pelo movimento mais vendedor na bolsa, além de algum aumento nas taxas dos contratos de DI com prazos mais longos, em dia de alta do dólar ante o real. Após o fechamento, o Mercado Livre anunciou R$ 34 bilhões em investimentos no Brasil em 2025. O índice do setor de consumo na B3 recuou 1,37%. Na contramão, NATURA&CO ON subiu 2,84%.
– IRB(RE) ON valorizou-se 2,66%, recuperando parte da queda expressiva da sexta-feira, quando terminou com um tombo de mais de 8%.
– SLC AGRÍCOLA ON subiu 1,03%, após recuar nos três pregões anteriores. O Citi cortou a recomendação da ação para “neutra”, citando forte valorização recente — no ano o papel ainda sobe quase 7% — e ausência de gatilhos atrativos de curto prazo. O preço-alvo seguiu em R$ 21 — acima do fechamento desta sessão, de R$ 18,72 — e os analistas do banco também afirmaram esperar que a SLC apresente números melhores em 2025.