
Confirmando as expectativas do mercado, o Federal Reserve (FED), o banco central americano, manteve os juros nos Estados Unidos no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano na reunião encerrada nesta quarta-feira (7). No entanto, na entrevista coletiva que sempre concede após a reunião, Jerome Powell, presidente do FED, advertiu que o banco central americano ainda terá de “esperar para ver” (“wait and see”) o impacto do aumento de tarifas sobre a inflação americana.
Segundo Powell, o FED está caminhando em um “caminho estreito”. Segundo ele, a economia americana está dando sinais de resiliência, com sinais de força do mercado de trabalho e uma inflação rodando acima da meta, mas “em uma situação melhor do que há um ano”, disse ele.
O comunicado divulgado após a reunião destacou a volatilidade do mercado e como ela está influenciando as decisões políticas. “A incerteza quanto às perspectivas econômicas aumentou ainda mais”, afirmou o comunicado. “O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e avalia que os riscos de maior desemprego e inflação aumentaram.”
Alta da tarifas
A reunião do FED ocorreu em um momento em que a Casa Branca está em negociações com os principais parceiros comerciais dos EUA durante um período de 90 dias, iniciado no início de abril. Trump impôs tarifas generalizadas de 10% sobre as importações dos EUA e ameaçou impor outras taxas individuais “recíprocas” enquanto se aguardam as negociações em andamento.
Encontrar o equilíbrio entre os dois elementos do chamado duplo mandato do Fed, de pleno emprego e preços estáveis, tornou-se mais difícil ultimamente em meio à pressão tarifária do presidente Donald Trump. Powell disse que as tarifas “ainda não exerceram efeito” sobre os indicadores econômicos americanos. No entanto, ele afirmou que o banco central dos Estados Unidos está concentrado em uma postura de esperar para ver.
Inflação e desemprego
Para os analistas, as tarifas ameaçam agravar a inflação e desacelerar o crescimento econômico. Segundo Enrico Cozzolino, estrategista da Levante Investimentos, a declaração de Powell que mais chamou a atenção foi quando ele afirmou que seu “instinto” lhe diz que a incerteza está maior. “Acompanho as declarações de Powell há muito tempo e nunca havia ouvido ele falar sobre instinto”, diz Cozzolino. “Isso pode gerar uma reação negativa no mercado devido a uma percepção de incerteza.”
No curto prazo, diz Cozzolino, Powell observa que a elevação das tarifas afeta a própria inflação e o próprio emprego. “No longo prazo, um aumento da incerteza gigantesca pode obrigar o FED a dar uma guinada e elevar os juros de repente”, diz ele.
Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, o FED reconheceu que a despeito dos dados distorcidos relacionados ao setor externo do país, a atividade doméstica continua a se expandir de maneira sólida. “Essa declaração é importante porque sinaliza que, apesar de todo o estardalhaço causado pelas modificações tarifárias propostas pelo governo Trump nos ativos financeiros, o FED segue focado em atingir os objetivos de seu duplo mandato”.
Segundo Pizzani, os riscos do “tarifaço” de Trump “não estão completamente excluídos do comunicado, em especial no balanço de riscos do banco central americano”. Isso, por enquanto, “parece exigir um foco mais concentrado no controle da inflação, sem prestar tanta atenção no nível de atividade econômica.”