
As ações da Alphabet, empresa controladora do Google, despencaram nesta quarta-feira (7), após a Apple, sua principal parceira, indicar que os dias de domínio do Google como mecanismo de busca nos dispositivos da Apple podem estar contados. Com isso, as ações da big tech caminharam para uma de suas maiores perdas já registradas, sendo este mais um teste para a empresa em um momento em que a inteligência artificial generativa começa a transformar os hábitos de busca dos usuários.
Durante depoimento no processo antitruste movido pelo governo federal contra o Google, Eddy Cue, vice-presidente sênior da unidade de serviços da Apple responsável pela App Store e pelo navegador Safari — padrão nos dispositivos da empresa — afirmou que a companhia está “avaliando ativamente” a inclusão de opções de busca com inteligência artificial no Safari. A ideia, segundo ele, é adicionar ferramentas de busca com IA generativa de empresas como OpenAI ou Perplexity AI como alternativas no Safari, embora acredite que o Google deva continuar sendo a opção padrão.
A declaração repercutiu no mercado e as ações da Alphabet sentiram o golpe. No dia, os papéis despencaram mais de 8%, ou US$ 13 (R$ 74,62) e chegaram a US$ 152 (R$ 873,48) por ação na metade da tarde. Essa foi a pior perda percentual para as ações do Google desde outubro de 2023 e a terceira maior queda em valor nominal desde que a empresa abriu capital, em 2004. Só nesta quarta, a Alphabet viu seu valor de mercado recuar em US$ 160 bilhões (R$ 918,4 bilhões). O número é superior ao valor total da Boeing, Comcast, Nike ou Starbucks.
Busca no Safari
O Google é atualmente o mecanismo de busca padrão disponível no Safari, em um acordo extremamente lucrativo para ambas as empresas, que custou à Alphabet US$ 20 bilhões (R$ 114,8 bilhões) em 2022, de acordo com documentos divulgados no último ano. O valor equivale a 36% da receita de publicidade em buscas que o Google obteve com o Safari naquele ano, segundo analistas do Morgan Stanley. A Alphabet gerou US$ 162 bilhões (R$ 930,1 bilhões) dos US$ 283 bilhões (R$ 1,624 trilhão) de receita total de 2022 com buscas, o que significa que os anúncios no Safari representaram um quinto de todas as vendas do ano.
Esta não é a primeira vez que a Alphabet enfrentou desafios no mercado acionário relacionados à inteligência artificial generativa. Em 2023, suas ações caíram 7%, depois que um vídeo de apresentação do Bard — antecessor do Gemini e atual IA generativa da empresa — exibiu um erro. No ano seguinte, houve um novo episódio. O sistema de geração de imagens da inteligência artificial do Google produziu representações historicamente imprecisas de figuras históricas, o que fez seus papéis sofrerem uma queda de 5%. Apesar dos infortúnios, as ações da Alphabet acumulam alta de 31% nos últimos três anos, abaixo dos 42% do índice S&P 500.
Nesta quarta, a controladora do Google não foi a única afetada. As ações da Apple recuaram 1,5%, ficando abaixo de US$ 196 (R$ 1.125,04) por unidade, na contramão do avanço de 0,1% do índice Nasdaq, fortemente voltado ao setor de tecnologia. Desde que a empresa divulgou seus resultados trimestrais na última quinta-feira (1º), seus papéis caíram 8%. Além disso, a gigante do Vale do Silício tem apresentado desempenho abaixo do mercado mais amplo, em meio à revolução da IA generativa, com retorno de 26% nos últimos três anos.