
A esperança de que Estados Unidos e China possam avançar nas negociações sobre a guerra tarifária abriu espaço para a queda do dólar ante várias divisas e para o Ibovespa superar a realização de lucros nesta sexta-feira (2). O pregão também foi marcado pela divulgação do relatório americano de empregos, o payroll.
Em um dia de liquidez menor, a moeda americana à vista fechou em baixa de 0,36%, aos R$ 5,6561. Na semana — encurtada pelo feriado do Dia do Trabalho na quinta-feira (1º) — o dólar acumulou recuo de 0,60%. Enquanto o principal índice brasileiro fechou estável, subindo 0,05% com um total de 135.133,88 pontos. Nos últimos quatro dias úteis, o Ibovespa avançou 0,29%.
Payroll e alívio do mercado
Principal evento da semana, a divulgação do relatório de empregos payroll pela manhã sugeriu que a economia dos EUA ainda está longe da recessão. O país abriu 177 mil vagas de emprego fora do setor agrícola em abril, após 185 mil, em dado revisado para baixo em março. Apesar da desaceleração, o número de abril foi melhor que os 130 mil empregos da mediana projetada entre os economistas consultados pela Reuters, com estimativas variando entre 25 mil e 195 mil vagas. Já a taxa de desemprego dos EUA se manteve estável em 4,2%.
Os números deram força às taxas dos Treasuries, mas a moeda americana se apegou mais à perspectiva de um acordo entre Estados Unidos e China. O país asiático disse que está “avaliando” uma oferta dos EUA sobre as tarifas de 145% do presidente americano, Donald Trump. Segundo o Ministério do Comércio da China, os Estados Unidos entraram em contato para dialogar sobre as tarifas, e Pequim está de portas abertas para discussões.
Embora nada palpável tenha sido anunciado, investidores se agarraram à possibilidade de acordo e foram em busca de ativos de maior risco, como ações de empresas nas bolsas americanas e moedas de países emergentes, como o real.
Repercussão no Brasil
Além do fator externo, a pressão de baixa na relação dólar/real também pareceu refletir a entrada recente de recursos no Brasil. Profissionais ouvidos pela Reuters nas últimas semanas — incluindo nesta sexta — vêm pontuando que o país tem recebido grande volume de investimentos estrangeiros, em especial para a renda variável.
Por trás disso está a leitura de que há oportunidades em portfólio no Brasil — onde a taxa básica Selic está em 14,25%, com perspectiva de alta de 50 pontos-base na próxima semana, e o câmbio segue favorável para o estrangeiro que quer investir, ainda que o dólar esteja abaixo dos R$ 6,00.
Para o estrategista de investimentos do Santander Caio Camargo, o desempenho mais negativo durante a sessão refletiu ajustes técnicos de início de mês. “O Ibovespa subiu bastante nos últimos tempos, chegou abril com quase 4% de alta. É possível que seja uma rotação de portfólio, investidores colocando um pouco de lucro no bolso.” A visão é compartilhada pelo head de renda variável da Onfield Investimentos, Marcelo Farias, que destacou ainda a valorização do índice no ano, de mais de 12%.
Na próxima semana, as atenções estarão voltadas para as decisões sobre juros tanto do Banco Central do Brasil (BC) quanto do Federal Reserve (FED) — as primeiras desde o “Dia da Libertação” do presidente dos EUA, Donald Trump, em 2 de abril, quando ele anunciou uma série de tarifas contra seus parceiros comerciais. Além disso, mais balanços do primeiro trimestre serão anunciados. Vale lembrar que a nova carteira do Ibovespa também começa a vigorar a partir de segunda-feira (5), com a entrada das ações de Direcional e Smartfit e saída dos papéis de LWSA e Automob.
Destaques
– PRIO ON saltou 8,07%, liderando as altas do Ibovespa, na esteira de acordo para comprar a participação de 60% da Equinor no campo de Peregrino por US$3,5 bilhões. A Prio já havia adquirido no ano passado uma fatia de 40% no campo e, com a nova aquisição, o ativo passará a ser totalmente detido e operado pela companhia brasileira. Analistas da Ativa Research consideraram a operação como positiva e geradora de valor. “A decisão de fechar o negócio em meio a um cenário de maior incerteza sobre os preços futuros do barril de petróleo também reflete a confiança da Prio em sua capacidade de extrair valor dos ativos que opera”, disseram.
– PETROBRAS PN e PETROBRAS ON subiram 2,73% e 2%, respectivamente, ajudando a ancorar o índice da bolsa paulista no azul. O desempenho veio na contramão do declínio dos preços do petróleo no exterior, que registraram as maiores perdas semanais desde março. O petróleo Brent, referência para a estatal, terminou o dia com recuo de 1,35%, a US$ 61,29 (R$ 346,29) o barril. Na quinta, entrou em vigor para as distribuidoras os novos preços de venda de querosene de aviação (QAV) da Petrobras, com uma elevação de 0,3%, o que corresponde a um aumento de R$ 0,01/litro em relação ao preço de abril de 2025.
– VALE ON fechou com variação negativa de 0,11%, sem a referência dos preços futuros do minério de ferro, uma vez que os mercados financeiros da China estarão fechados de 1 a 5 de maio para o feriado do Dia do Trabalho, com as negociações sendo retomadas em 6 de maio.
– ITAÚ UNIBANCO <PN ITUB4.SA> caiu 0,27%, SANTANDER BRASIL UNIT perdeu 2,24%, BANCO DO BRASIL ON recuou 0,1% e BRADESCO PN desvalorizou-se 2,11%.
– JBS ON caiu 1,45%, pesando na ponta negativa do Ibovespa. Acionistas da processadora de alimentos se reúnem em 23 de maio para votar seu plano de listagem na Bolsa de Valores de Nova York, iniciativa que tem atraído fortes críticas de grupos ambientalistas e de direitos dos animais, mas elogios de Wall Street. No setor, MARFRIG ON subiu 0,51% e MINERVA ON ganhou 1,69%.
– ALLOS ON, MULTIPLAN ON e IGUATEMI UNIT avançaram 1,36%, 0,93% e 1,8%, respectivamente, após o JPMorgan elevar a recomendação dos papéis das operadoras de shopping center a overweight, ante “neutra”, citando expectativas em torno de uma aproximação do fim do ciclo de aperto monetário no Brasil.
– GPA ON afundou 7,8%, às vésperas de assembleia geral extraordinária, que ocorre na segunda-feira, para discutir mudanças no conselho de administração da companhia propostas pelo investidor Nelson Tanure. Desde seu anúncio, no final de março, a proposta tem movimentado os papéis da companhia.
– GOL PN, que não está no Ibovespa, fechou em alta de 1,63%, devolvendo ganhos após disparar mais de 15% no início da sessão, tendo como pano de fundo novo acordo da companhia aérea com um grupo relevante de credores que envolve o financiamento de US$ 125 milhões (R$ R$ 706,250 milhões). Segundo a GOL, o apoio desse grupo majoritário de credores aumentará substancialmente as chances de seu plano de reestruturação vir a ser aprovado. A empresa está em recuperação judicial nos EUA desde o início de 2024. No setor, AZUL PN encerrou estável.