“Sempre gostei de criar. Com 10 anos, vivia com um caderninho debaixo do braço desenhando vestidos”, relembra a atriz e empreendedora Ana Júlia Dorigon. Hoje, aos 26 anos, ela está vendo seus traços virarem realidade com o lançamento de sua empresa de moda feminina. Batizada de La Femme 368, a marca homenageia uma outra paixão de sua infância. Quando cadernos e lápis estavam distantes de suas mãos, a televisão ganhava cor e abria espaço para uma nova brincadeira, tão divertida quanto desenhar vestidos: atuar.
Imitar os passos e os diálogos de seus personagens preferidos de filmes e novelas foi um hábito que começou muito cedo e, aos três anos, Anajú já gravava comerciais de televisão. “Conforme fui crescendo, entendi que essa era uma vontade real dentro de mim”, conta. Aos 14, começou a trabalhar como modelo profissional, participando inclusive de concursos de beleza, o que lhe deu visibilidade suficiente para que recebesse os primeiros convites para atuar.
LEIA MAIS: Empreendedora cria fábrica de bolsas de luxo no interior do Pantanal Mato-Grossense
“Eu tinha 16 anos e, no primeiro dia de filmagem, pisei no set e falei para minha mãe: ‘Eu quero fazer isso por muito tempo na minha vida’”, conta, sobre sua primeira experiência no longa-metragem “O Vendedor de Passados”. Desde então, cursou artes cênicas na Escola de Atores Wolf Maya e estudou cinema no Film Institute, em Los Angeles, o que lhe deu bagagem para que passasse em testes na Rede Globo. Em “Malhação”, consagrou-se definitivamente como atriz.
Os 10 anos no meio fortaleceram sua admiração por grandes atrizes. Katherine Hepburn, Grace Kelly e Lauren Bacall são, para Anajú, mais do que estrelas de Hollywood. E é por conta dessa percepção que a empreendedora decidiu dedicar a primeira coleção de sua marca às grandes personalidades femininas do cinema. “Foi assistindo-as que eu decidi que queria ser atriz. As peças ganham um significado maior ao serem inspiradas nos estilos dessas mulheres”, revela.
Não menos importante é a subjetividade presente na criação das peças, o que faz com que a marca tenha a essência de sua criadora, algo a que Anajú se atentou quando decidiu abrir um negócio próprio. “A ideia de costurar essa história das atrizes no primeiro lançamento agradou o meu público. Tem muito de mim na marca, então é importante passar minha identidade”, destaca. “As pessoas nos acompanham nas redes sociais, então vão saber reconhecer se estou trabalhando com a verdade.”
Mesmo contando com uma equipe que passa de uma dezena de pessoas, a empreendedora faz questão de participar de cada passo da La Femme 368. “Eu desenho o croqui e faço a planilha financeira”, brinca ela. “Delego funções, mas gosto de fazer parte de tudo. Isso é algo que meu avô me ensinou, com seus 83 anos de experiência.” Empreendedor nato no setor financeiro e imobiliário, seu Osvaldo realmente deixou suas pegadas no processo de criação da grife.
TROCA ENTRE GERAÇÕES
A história de Anajú é marcada por memórias de infância. As brincadeiras a levaram ao meio artístico, mas o trabalho de seus familiares também impactou, de certa forma, sua maneira de enxergar a vida. O avô era um empreendedor nato, enquanto o pai atua na área de marketing com uma empresa própria de consultoria. “Eu cresci vendo os dois empreenderem, então sabia que, eventualmente, isso faria parte da minha jornada em algum momento”, conta. “O legal é que eles atuam em setores completamente diferentes. O que eles têm em comum é a extrema dedicação. Dar 200% de si no que estão executando.”
Embora sua vontade de empreender fosse intrínseca, esse era um desejo que estava adormecido – pelo menos até o final de 2019. “Senti que a hora tinha chegado. Não dava mais para segurar”, diz Anajú, com bom humor. Logo no início de 2020, ela começou a desenvolver sua marca, sem esperar que, em apenas três meses, o mundo viraria de ponta cabeça por conta da pandemia do novo coronavírus. “Foi um período que eu aproveitei para rever a melhor forma de execução da marca.” E, claro, para estruturar seu próprio negócio de maneira íntima e caseira por conta do isolamento social.
As fotos da campanha, por exemplo, foram tiradas pelo pai, na casa da família. “Poder estar tão perto dessa construção foi muito especial. Isso humaniza o negócio”, destaca ela, que diz conhecer os mínimos detalhes do projeto. “Sei até qual cheiro as clientes sentem quando abrem a caixa”, brinca. Após um ano e três meses de desenvolvimento, a La Femme 368 nasceu na última semana de maio. “Vem de um sonho de anos, mas ainda é um recém-nascido.”
Em operação via e-commerce para todo o Brasil, a marca, que disponibiliza modelos all sizes (do P ao EG), está sendo bem recebida pelo consumidor. “Logo na primeira semana esgotamos um dos vestidos, cujo modelo foi inspirado na Grace Kelly”, conta Anajú. Para ela, é mais do que gratificante ver as peças que idealizou sendo enviadas para os quatro cantos do país. Seja no tamanho da peça ou no local da entrega, o esforço é para suprir todas as necessidades dos clientes.
E foi pensando nisso – além de todos os benefícios no que diz respeito ao impacto ambiental – que a empreendedora insistiu em um projeto sustentável ligado à marca. “O consumidor busca, cada vez mais, empresas preocupadas com causas sociais. Esse movimento apenas cresce. É o futuro”, diz a jovem. “A moda gera muitos empregos, mas também carrega impactos negativos. Precisamos ter consciência disso ao produzir.”
Por isso, Anajú se uniu à startup Ecooar para compensar o carbono gasto na produção de suas peças. A partir de um cálculo médio de emissão de carbono, a empreendedora sabe quantas árvores deve plantar para devolver impactos positivos ao meio ambiente. O bosque 368, criado especialmente para a marca, fica no interior de São Paulo, em Garças, às margens de um rio que banha cerca de 30 cidades.
“Temos um QR Code por meio do qual podemos acompanhar o crescimento das árvores. Os clientes também podem acessar por um link no Instagram e no site oficial”, revela. “Na primeira leva, plantamos 20 árvores. Em junho, vamos plantar, pelo menos, o dobro disso. Estou doida para elas crescerem logo e vê-las pessoalmente. Estou maravilhada por comandar uma empresa que está de mãos dadas com a sustentabilidade.”
A falta de experiência de Anajú no empreendedorismo é compensada por um lema: criar um legado. Assim como seu Osvaldo, que continua ensinando a neta diariamente sobre trabalho e dedicação, a jovem espera transmitir seus aprendizados aos filhos, no futuro, dando continuidade à troca entre gerações. “Eu penso na empresa como algo de longo prazo. Então, não esqueço nunca do quão importante foi a ajuda do meu avô em todo o processo. Foi ele quem me ensinou a colocar o coração em tudo que faço, da atuação ao empreendedorismo”, diz ela, sem esquecer das inúmeras dicas financeiras transmitidas na mesa do jantar. “Gerenciar essa vida é algo extremamente prazeroso”, conclui.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.