Após 60 anos de espera, a manhã de ontem (20) marcou o momento em que a norte-americana Wally Funk pôde, finalmente, desafivelar o cinto e desfrutar de um período de ausência de gravidade no espaço. Dessa vez, a experiência não fez parte de uma simples simulação ou treinamento rigoroso da Nasa. Aos 82 anos, Wally realmente estava a bordo de uma missão real, o primeiro voo espacial humano da nave New Shepard, da Blue Origin, que durou cerca de 10 minutos.
Ao lado do estudante de física de 18 anos Oliver Daemen, do bilionário Jeff Bezos e do seu irmão mais novo Mark Bezos, a aviadora fez mais do que estampar as manchetes do mundo todo: realizou o sonho de uma vida inteira. E, para comemorar em grande estilo, deu uma animada cambalhota no interior da nave enquanto flutuava. Wally voltou para a terra firme como a pessoa mais velha a ir ao espaço, mas sua trajetória no setor aeroespacial não é de hoje.
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Em 1961, aos 21 anos, a norte-americana Mary Wallace Funk, aviadora profissional, foi aceita em um programa dirigido pelo médico da Nasa William Randolph Lovelace que tinha o objetivo de treinar mulheres para irem ao espaço – após alguns anos, a mídia começou a chamar a iniciativa de “Mercury 13”, uma referência ao “Mercury 7”. Embora a Nasa soubesse e apoiasse a existência desse projeto, não havia patrocínio oficial do governo dos Estados Unidos nele.
Tudo era privado. No entanto, as mulheres selecionadas, inclusive Wally, a mais nova do grupo, destacavam-se nos testes físicos e psicológicos, o que revelava extrema capacidade de integrarem uma corrida espacial. Mesmo assim, depois de um tempo, o programa foi descontinuado por falta de infraestrutura e instalações necessárias para o desenvolvimento dos testes.
Como a esperança é a última que morre, essa não foi a única tentativa de Wally de ir ao espaço. No final dos anos 1970, quando a Nasa finalmente começou a aceitar mulheres, a aviadora se inscreveu três vezes para o trabalho. No entanto, mesmo com suas credenciais de treino, ela foi rejeitada por não estar nos padrões da agência – um diploma de engenharia, por exemplo, ajudaria.
Embora a missão espacial parecesse cada vez mais longe, Wally não desistiu de ser pioneira e fazer história. Foi a primeira mulher instrutora de voo em uma base militar dos Estados Unidos, a primeira a conseguir um cargo como investigadora de segurança aérea no Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês) e a primeira a se tornar inspetora da Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês).
Sua trajetória como uma pessoa que mesmo qualificada não teve a oportunidade de ir ao espaço acabou ganhando fama. Em 2018, a Netflix lançou o documentário “Mercury 13 – O Espaço Delas”, que conta a história de 13 pilotos femininos – incluindo Wally Funk – que participaram do programa para mulheres no espaço e tiveram seus sonhos frustrados pelo cancelamento repentino. Aos 82 anos, não era segredo para ninguém que o sonho da aviadora ainda era ser lançada para o espaço em uma nave. Por isso, foi uma grata surpresa para muita gente saber que Wally seria a convidada de honra do primeiro voo da New Shepard.
Jeff Bezos, ao anunciá-la como tripulante em suas redes sociais, escreveu: “Está na hora. Bem-vinda à tripulação, Wally. Estamos entusiasmados por ter você voando conosco no dia 20 de julho como nossa convidada de honra”. E, claro, ainda enfatizou o fato de “ninguém ter esperado mais” por essa oportunidade do que ela, numa espécie de reparação histórica.
O foguete de 18 metros de altura foi lançado ontem no Texas e, após alguns minutos em gravidade zero, retornou à Terra. Na coletiva após o lançamento, Wally, ao receber seu pin de astronauta, foi muito aplaudida e revelou: “Há mais por vir. Nós nos divertimos muito e eu quero voltar”. Para a mulher que nasceu em Las Vegas e sempre almejou o céu – seja como piloto de avião ou astronauta – não parece inalcançável a meta de visitar o espaço novamente.
O lançamento da New Shepard foi programado para acontecer no dia do aniversário de 52 anos da aterrissagem da Apollo 11 na Lua, o que parece ter inspirado Bezos a lançar um desafio para a aviadora. “A sua próxima parada é a Lua, Wally”, disse o bilionário, ao que ela, rapidamente, respondeu: “Sim, senhor!”.
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