Em 2009, Stella Marcolino andava no centro de Bragança Paulista (SP) quando recebeu um folheto sobre autoexame de mama. Naquele mesmo dia, ao tomar banho, decidiu seguir as instruções do papel. “Com 17 anos, a gente não imagina que isso seja possível, mas aconteceu. Eu senti um nódulo”, recorda. O tumor, que cresceu de forma brusca, era benigno. Mas, ao lado dele, um nódulo pequeno escondia um câncer maligno. Na cirurgia de retirada, um erro médico fez com que a situação se agravasse. “O anestesista errou o cálculo e mandou mais ar do que o meu pulmão aguentava. Foi um caso de barotrauma. Os dois pulmões estouraram e eu precisei ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).”
Por conta do baque que o corpo sofreu, Stella precisou deixar o câncer em segundo plano por um tempo para recuperar os pulmões. Para uma jovem que havia acabado de ingressar na faculdade, o tratamento parecia longo. Foi nesse momento que decidiu mudar o cenário em que estava vivendo. Enquanto ela e a irmã, Isabella, assistiam ao reality show “Project Runaway”, onde desenhistas de moda competem para ganhar um desfile em semanas de moda do mundo, Isabella perguntou a Stella: “Por que não começamos a vender roupas?”
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A ideia foi viajar até a capital paulista para comprar peças em bairros como Brás e Bom Retiro, como sacoleiras. “O tratamento para o câncer não foi barato e nossas faculdades eram particulares, então trazer mais dinheiro para dentro de casa era algo importante. Além disso, era uma ideia perfeita para distrair a mente da Stella. A saúde mental dela precisava disso”, explica Isabella. Já no dia seguinte, as irmãs viajaram para São Paulo e compraram as primeiras 28 peças do que um dia se tornaria a Mundo Marcolina, confecção que produz mais de duas mil unidades por mês.
MUNDO MARCOLINA
Embora a venda de roupas tenha empolgado as irmãs, o intuito inicial não era transformar isso em uma loja. O que elas tinham em mente era ter um negócio temporário. Isabella cursava engenharia da produção, enquanto Stella tinha acabado de ingressar na graduação de direito. “Não entendíamos por que nossas clientes preferiam frequentar nosso apartamento do que um shopping recheado de opções, mas depois percebemos que isso acontecia porque nós as ouvíamos”, completa Isabella. Após um ano como sacoleiras, sabiam o bastante para realmente levar o negócio à frente. Em 2010, criaram um e-commerce multimarcas e começaram a vender para o Brasil inteiro.
“Como não produzíamos, tínhamos uma inconsistência no nosso site: cada marca tinha uma modelagem diferente. Era difícil para os consumidores encontrarem um padrão”, conta Isabella. Pensando nisso, em 2015 veio a ideia de abrir uma confecção própria. A primeira peça, um top de renda, foi criada com a ajuda da avó das meninas, que costurava. “Foi um sucesso, então decidimos fazer mais.” Como nenhuma das duas sabia desenhar, contrataram uma modelista e um cortador para iniciar a confecção. “Pensávamos nas peças e explicávamos como queríamos para a modelista”, completa Stella.
“Acreditamos em uma moda versátil, então íamos criando o que as clientes queriam”, conta Isabella. Com três máquinas de costura e uma mesa de corte, a Mundo Marcolina nasceu com dez modelos próprios. Hoje, quase a totalidade das peças é de criação própria. No ano que vem, a meta é alcançar 100% de produção exclusiva. “Temos uma média de 200 modelos desenvolvidos. Por mês, lançamos quatro modelos diferentes”, completa a primogênita.
Com um faturamento de mais de R$ 2 milhões por mês, a confecção ainda tem muito espaço para crescer, mas as irmãs já agradecem por tudo que conquistaram nos últimos dez anos. Stella venceu o câncer e, ainda no segundo ano do curso de direito, virou empreendedora. Embora tenha se graduado, nunca atuou na área, assim como Isabella, que deixou a vida da engenharia para trás. “Fizemos o nosso melhor em um momento de saúde difícil, e isso fez com que a gente começasse a trabalhar juntas. Talvez nossos destinos profissionais estivessem escritos separados, mas agora estão juntos. Esse é o significado de Mundo Marcolina”, conclui a caçula.
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