“Cada dia é um enorme e constante problema de matemática”, diz Suttirat Larlarb. Ela é figurinista do mais recente filme do James Bond, “007 – Sem Tempo para Morrer”, que estreou no Brasil no dia 30 de setembro após um grande atraso devido à pandemia.
Embora os looks de 007 sejam sempre elegantes, para obter a estética personalizada e sob medida pela qual Bond é conhecido enquanto performa todas as façanhas de um filme de ação, é preciso muito cálculo nos bastidores. “Muitos dos ternos de Daniel Craig são usados em sequências de ação incríveis, nas quais precisamos ter mais de 33 réplicas do mesmo traje, com tamanhos e requisitos técnicos ligeiramente diferentes”, explica Larlarb.
VEJA TAMBÉM: 10 filmes mais caros de todos os tempos
“Temos que levar em conta os enchimentos ou escudos de proteção, além dos trajes dos dublês de ação e de foto. Só Craig tem 12 a 20 roupas iguais, mas um pouco deterioradas para cenas pós-explosão ou água, com um pouco de sangue ou todo tipo de dano imaginável que possa acontecer com um traje como aquele. Mas sempre tem que ser feito para parecer perfeitamente sob medida para ele.”
Há mais do que apenas provas de figurino para um filme como esse, há também uma logística pesada a ser considerada desde a produção até a entrega. Um bom exemplo é a história por trás do smoking de James Bond no filme: desenvolvido e ajustado em Nova York, ele seguiu para o norte da Itália, onde mais 33 versões foram produzidas. Levar apenas um terno para a Jamaica, onde as filmagens estavam ocorrendo, envolveu cálculos, serviço de entregas rápidas e pessoas que ficaram acordadas até tarde para receber pacotes ou pegaram um voo durante a noite para levar os smokings até onde eles precisavam chegar.
“A quantidade de mãos pelas quais essa roupa passou é uma história bastante interessante”, ela ri. “Temos uma equipe incrível de técnicos de logística que fizeram isso acontecer.”
Para Larlarb, esse processo é mais fácil graças à parceria com designers que trabalharam com a franquia Bond no passado e que entendem que o processo envolve muito mais do que pedir dez peças iguais. É por isso que o nome da marca ou designer é menos relevante do que a experiência e técnica que eles podem trazer para a execução de figurinos para um filme como Bond. Isso vai na direção contrária da percepção que o público tem sobre a franquia – também conhecida por sua moda e glamour -, que naturalmente acreditaria que há uma série de estilistas de alta costura envolvidos no figurino.
“Para mim, o envolvimento de grifes sempre foi secundário em relação aos requisitos do personagem e do figurino. Se uma marca tivesse trabalhado com a franquia Bond no passado, eu levaria isso em consideração e saberia que poderia recorrer a eles para nos ajudar a produzir o que precisávamos ”, explica a designer.
Uma das marcas com que Larlarb trabalhou de perto para “007 – Sem Tempo para Morrer” foi Tom Ford, que produziu o smoking e vários ternos e calças jeans que Bond usa no longa. A grife já havia fornecido ternos para a franquia no passado, então, para a figurinista, a estética e qualidade da marca combinada com sua experiência anterior a deixaram confiante de que Ford e sua equipe teriam o conhecimento técnico para ajudá-la a atingir seus objetivos.
Pela primeira vez, este filme de James Bond, em particular, é muito mais do que 007. Esta é uma das produções mais diversas da franquia até hoje, algo muito especial para Larlarb por conta das quatro fortes personagens femininas.
Entre elas, estão Monie Penny (Naomie Harris) e a estreante Nomi (Lashana Lynch), a nova brilhante agente do MI6 e também a primeira 007 negra. Há também o retorno da famosa psicóloga Madeleine (Lea Seydoux) e, por último, Paloma (Ana de Armas), agente de campo da CIA em sua primeira missão.
“Tradicionalmente, pode-se dizer que muitas personagens femininas do passado, mesmo sendo figuras icônicas, poderiam ser relegadas a uma função parecida à de um papel de parede, e essas personagens absolutamente não são isso”, afirma Larlarb.
“Elas são mulheres fortes, autoconfiantes, importantes e relevantes para a trama, todas por seus próprios méritos. Esta foi uma oportunidade realmente fantástica de deixar uma marca dessas personagens femininas em um filme de James Bond.”
VEJA TAMBÉM: Hollywood perde US$ 10 bilhões por ano por falta de representatividade preta
Embora houvesse mulheres fortes em cena, este filme da franquia também contou com elas fora das telas, o que abriu caminho para uma dinâmica nova para a figurinista durante o processo de produção.
“Para este filme, tive muito apoio de uma produtora forte e de Phoebe Waller-Bridge, que também escreveu o roteiro. Foi uma experiência muito diferente daquela que eu vivi quando era uma jovem aspirante a designer de cores e não me via representada nem nas telas, nem no processo de produção”, diz ela.
“Então, houve muito reforço positivo e talentos femininos presentes neste filme. Foi tão incrível para mim poder, neste momento, ser a pessoa encarregada de vestir essas mulheres fortes”, conclui Larlarb.
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.