Em 2013, Lucia Lisboa desembarcou em Paris para uma reunião do comitê global da companhia em que trabalha, a multinacional suíça Givaudan. Lucia havia acabado de assumir o cargo de vice-presidente para América Latina na área de fragrâncias finas e iria conhecer seus pares ao redor do mundo. “Me lembro de ter chegado na sala e olhar por debaixo da mesa. Eu era a única de salto. Os outros 14 usavam calças e sapatos pretos: eram todos homens.”
Hoje a situação é diferente. Entre os 20 executivos que ocupam cargos semelhantes ao redor do mundo, há 25% de mulheres. “Já mudou, mas ainda temos muito para percorrer.”
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Lúcia vem percorrendo esse caminho como pioneira, o que muitas vezes traz uma certa solidão. Há 20 anos, quando entrou na companhia como diretora, foi até o departamento de RH para incluir o nome de seu marido como beneficiário do plano de saúde corporativo e descobriu que só os homens poderiam incluir cônjuges. “Batalhei para que as funcionárias tivessem o mesmo direito e o assunto foi discutido globalmente, mas a mudança foi feita.”
Logo depois, contratou uma grávida, algo que nunca havia acontecido na empresa. A profissional que Lúcia tinha escolhido para sua equipe informou, no meio do processo de contratação, que teria que desistir ao ficar sabendo da gravidez. “Ela tinha certeza que seria dispensada, mas eu fiz questão de trazê-la porque era a melhor escolha e, para dar certo, envolvi toda a equipe na preparação para os quatro meses de licença.”
Gravidez adiada em nome da carreira
Hoje, a vp apóia outras mulheres para que não se sintam solitárias em sua trajetória, como parte do comitê interno que promove trocas entre as profissionais da empresa. Uma das conquistas desse grupo foi a licença de seis meses e a ampliação do período da licença para pais. “Eu vivi uma época em que as mulheres precisavam escolher entre filhos e carreira, então para mim esse é um tema muito importante. Eu mesma adiei e só fui engravidar aos 35 anos, o que era totalmente incomum nos anos 90.”
Os preconceitos com a maternidade não foram o único obstáculo que precisou enfrentar. No início de sua jornada, em que atuava na área comercial de uma indústria, era sempre uma das poucas mulheres em qualquer equipe. “Os homens achavam que fazer negócios com uma mulher significava conseguir ‘algo a mais’ além do contrato de negócios. Ser mulher e profissional é aprender a se virar em situações extremamente incômodas, que eu só consegui porque aprendi a ser resiliente e amo, mas a jornada é bem dura.”
Quem me ajudou
“Eu sempre fiz terapia, o que me dá muito suporte desde sempre. Fiz coaching. Acho que qualquer movimento de carreira e de vida exige autoconhecimento. A gente se aceitar como a gente é, o que podemos mudar, me ajudou muito. Meu chefe, quando eu assumi a vice-presidência, também me apoio e abriu portas pra mim. E meu marido que sempre entendeu minha carreira e soube esperar minhas decisões.”
Turning point da carreira
“O que me deixa muito satisfeita aqui dentro foi o fato de ter oportunidades e poder aproveitá-las. É raro ficar 22 anos na mesma empresa mas houve muitas mudanças na companhia e isso trouxe chance de me desenvolver. A mudança maior foi sair da área de desenvolvimento, onde eu havia começado na companhia, para voltar à área de vendas, que é onde comecei minha carreira. Ter contato com clientes e entender o que pode ser feito de diferença me motiva.”
Minha formação
“Fiz faculdade de psicologia mas exerci por pouco tempo. Depois completei com diversos cursos, incluindo cursos de extensão em administração no IMD e IESE.”
Causas que abraço
“O caminho de uma mulher até a liderança de uma empresa é muito mais difícil, por isso faço parte de iniciativas para apoiar a carreira feminina. Na empresa, apóio um grupo de networking que vem alcançando mudanças para ajustar essa desigualdade.”
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