Durante uma reunião com uma equipe internacional, Giovana Pacini ouviu de um dos colegas que estava sendo “bossy” (mandona, em inglês). A resposta veio em seguida. “Ela não é ‘bossy’, ela é uma líder”, corrigiu o chefe da executiva à época.
Essa capacidade de liderança, que hoje Giovana exerce com naturalidade, foi identificada pelo executivo que ocupava a cadeira que hoje é dela na farmacêutica alemã Merz, uma das principais empresas do mercado de produtos injetáveis no país. A executiva estava há três anos na diretoria de marketing da companhia quando foi convidada pelo presidente para substituí-lo. “Me lembro que o principal sentimento, na hora em que recebi o convite, foi medo.”
O sentimento não é incomum na carreira feminina. A chamada síndrome da impostora é comumente relatada por mulheres em ascensão. “Eu achava que teria que ser perfeita e entender de absolutamente tudo, até que entrevistei um candidato a CFO, expliquei que eu vinha do marketing e sabia menos do que ele. Ele me respondeu com naturalidade que era função dele, e não minha, como presidente, dominar aquele assunto. E então me dei conta que não precisava entender de absolutamente tudo como eu imaginava. Eu precisava liderar.”
Maternidade trouxe aprendizado
Pacini começou sua trajetória na companhia quando seus filhos gêmeos, hoje com sete anos, ainda eram bebês. Ela era gerente de marketing da concorrente Galderma e havia voltado há pouco tempo da licença-maternidade quando aceitou a proposta para assumir a posição de diretoria. “Vi potencial para fazer algo novo e, logo de cara, o presidente disse que estava me preparando para assumir o lugar dele”, diz. Em dois anos, ela assumiu a diretoria para América Latina e, quatro anos depois, o cargo de country manager.
A maternidade a ajudou a desenvolver sua carreira. “Eu levo para o dia a dia da empresa o que aprendo no relacionamento com meus filhos”, diz. “Depois deles, passei a entender que as pessoas, mesmo sob as mesmas condições, reagem de forma diferente, sentem de forma diferente. Não posso dar feedback da mesma maneira para todo mundo que faz parte da minha equipe, por exemplo.”
A chegada das crianças também ajudou a deixar claro o que é prioridade na vida – e que dar conta de todas as demandas seria inalcançável. “Mesmo que eu me dedicasse somente a ser mãe, alguma demanda ficaria descoberta, alguma coisa ficaria faltando. A cada momento da vida você precisa escolher algo para priorizar e vai levando o restante da maneira que é possível. A perfeição não existe.”
Onde quero chegar
“Não me vejo parando tão cedo de trabalhar. Me realizo. Não é um fardo quando chega a segunda-feira. Gosto de ver a minha mão no que está acontecendo na empresa. Hoje estou no Brasil mas me vejo assumindo posições globais mais abrangentes, de visão estratégica e de longo prazo.”
Causas que abraço
“Não tem como não defender a questão das mulheres no mercado. Quero dar mais oportunidades para elas em cargos de liderança, pois acho que as mulheres têm qualidades que têm impacto no resultado e na cultura. Hoje já temos mais mulheres em cargos de liderança e o que eu quero é, ao longo do meu desenvolvimento e do meu crescimento, levar muitas mulheres comigo, no Brasil e em outros mercados que eu venha a atuar.”
Turning point da carreira
“Foi ei janeiro de 2020, quando eu assumi a presidência da empresa em plena pandemia. Foi um momento de empoderamento e também de muito medo, mas está tudo indo muito bem.”
Meu primeiro cargo de liderança
“Quando me tornei gerente de produto na Neoquímica, em 2006.”
Quem me apoiou
“Minha mãe, que foi uma inspiração para que eu sempre buscasse a minha independência e trabalhasse, fizesse minha carreira. Meu marido, que entende que muitas vezes eu tenho que estar fora de casa em momentos especiais, mas respeita isso porque sabe como é importante pra mim, e o Frank, o antigo country manager da Merz, que me trouxe para cá e viu meu potencial desde cedo.”