No início de agosto, a americana Sarah Jane Gunter, vice-presidente do consumidor da Amazon para a América Latina, fazia uma visita ao Brasil. Na viagem, a executiva colocava em prática uma das lições que aprendeu com Jeff Wilke, ex-CEO mundial do consumidor da Amazon, antigo número dois da empresa. “Vim ao Brasil passar um tempo com o time porque Jeff sempre enfatizou a importância de os líderes estarem presentes e se conectarem de verdade com as pessoas.”
O período em que foi assessora técnica – ou “shadow assistant” (assistente-sombra) – de Wilke foi o mais rico em termos de aprendizado de sua carreira. “Faz quatro anos e todos os dias ainda acontece alguma coisa que me faz lembrar de algo que aprendi com ele.”
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Isso não é à toa. “Você é literalmente a sombra do executivo e faz tudo o que ele fizer, vai às reuniões e senta à mesa onde todas as grandes decisões sobre estratégia e investimentos são tomadas.”
Hoje responsável pelos consumidores na América Latina, Sarah nunca imaginou chegar a esse lugar na carreira. Ela também não sabe como será o futuro, mas quando relembra sua trajetória, todas as experiências que teve são um pouco responsáveis pelo sucesso atual. “O desenvolvimento da carreira é fruto de um longo ciclo, não é algo que eu faço hoje ou amanhã. É o acúmulo de experiências que vão te ajudar a ocupar a cadeira em que você quer sentar.”
Há 19 anos na empresa, a executiva começou na área de preços e estratégias, em uma Amazon muito diferente da gigante de varejo que conhecemos hoje. “Quando comecei, tínhamos 2 mil pessoas trabalhando em Seattle e 8 mil em todo o mundo. Hoje, empregamos 1,6 milhão de pessoas.” Até 1998, era uma livraria online, que só chegou ao Brasil em 2012.
Antes de entrar na empresa, Sarah começou sua carreira no setor não governamental, estudou museus e trabalhou em uma startup de software, sempre dedicada a entender o consumidor e melhorar sua experiência. Dentro da Amazon, passou por diversos cargos trabalhando na expansão dos negócios e no atendimento dos clientes.
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Carreira ao redor do mundo
Com o cargo que ocupa há dois anos, Sarah participa de cerca de 12 chamadas ao dia com times de diferentes países. Apaixonada por conhecer novos lugares, ela teria viajado mais, não fosse a pandemia. Antes de vir ao Brasil, estava no México, conhecendo a equipe local e fazendo valer o legado de seu antigo chefe.
Morar e trabalhar fora sempre foi um sonho, o que ela deixou claro no primeiro encontro com seu marido, com quem é casada há 14 anos. “Falei que queria trabalhar na França para ele ficar ciente de onde estava se metendo”, diz. Um ano depois do casamento, eles estavam preenchendo seu visto de trabalho e fazendo as malas para mudar para a Europa.
Sarah participou do comitê de gestão da Amazon na França, administrando as categorias de negócios de consumo e passou um ano em Luxemburgo para lançar o negócio de mercearia da empresa. “Foi uma oportunidade de trabalhar em uma outra língua e isso me deu muito mais empatia em relação aos times pelo mundo e abriu a porta para que eu pudesse assumir esse cargo na América Latina.”
Antes disso, com apenas um ano de empresa, foi chamada para ser country manager no Canadá. “Foi um divisor de águas para o desenvolvimento da minha carreira.”
Apesar desse currículo, questionada por um colega sobre um momento em que teve sua confiança abalada, Sarah respondeu: “O tempo todo, assim como todo o resto do mundo.”
Quando bate a insegurança, ela se lembra de que esse sentimento não é só seu e que coisas que hoje são simples para ela foram difíceis há um ano, além de tentar se ver pelos olhos dos outros. “Você está nesse cargo porque todo mundo acredita em você. Então você é provavelmente a única pessoa que está duvidando.”
Meu primeiro cargo de liderança
“Foi quando fui chamada para ser country manager da Amazon no Canadá, em 2004, aos 34 anos. Já tinha tido experiências liderando projetos específicos e influenciando pessoas, mas essa foi a primeira vez em que eu estava de fato no comando de uma equipe e responsável pelo time e pelos resultados.”
Turning point da carreira
“Tive dois momentos muito importantes na Amazon. O primeiro foi ser country manager para o Canadá porque aquilo de repente me colocou em contato com pessoas importantes, e eu estava mais visível e com mais responsabilidades. Alguém acreditou que eu era capaz disso e então eu também acreditei. E o segundo momento foi quando fui para a Europa porque eu queria morar e trabalhar fora já há bastante tempo e quando finalmente tive a oportunidade ela mudou minha perspectiva em relação ao trabalho e à liderança. Essa experiência fez de mim uma líder mais empática porque eu trabalhei com pessoas com padrões, experiências e formas de ver o mundo muito diferentes. Mas, no fim, estávamos buscando as mesmas coisas. Tenho certeza de que não estaria nessa cadeira hoje se não tivesse tido essa experiência de morar fora há 10 anos.”
Quem me ajudou
“Eu tenho a sorte de trabalhar para ótimos líderes na Amazon, que se importam comigo como pessoa e que se preocupam em ajudar a me desenvolver como líder. Meus pais também me ajudaram muito. Meu pai recortava matérias de jornal sobre negócios, economia e liderança feminina para mim e para a minha irmã. Ele e minha mãe nos mostraram que a gente poderia fazer qualquer coisa e nos deram as ferramentas e informações para ajudar a nos desenvolver no futuro.”
Minha formação
“Estudei economia e russo na faculdade Wellesley, me formei em estudos de museus em Harvard, porque pensei que poderia gostar de administrar um, e fiz um MBA em International Business Development na The Wharton School.”