Antes mesmo de assumir o cargo de CEO da Payot, há quase 50 anos, Dirce Grotkowski já tinha atitudes consideradas incomuns para mulheres da época. Queria trabalhar como vendedora na Avon e, por isso, omitiu que era casada pois apenas eram admitidas mulheres solteiras para as vagas. Para dar conta do trabalho e da maternidade, colocava o filho bebê no seu Fusca e ia vender os cosméticos pelo interior do estado de São Paulo.
O pioneirismo da empresária segue até hoje à frente da marca de cosméticos fundada na França há mais de 100 anos. Dirce Grotkowski prepara grandes mudanças na marca para comemorar os 70 anos da Payot no Brasil. No momento, a obsessão da executiva é tornar a marca totalmente vegana até julho de 2023. “Desde que eu assumi a companhia procurei manter a veia inovadora e percebemos que a Payot tinha que estar nessa onda que tem a ver com o que acreditamos”, diz.
Dirce é figura constante nos corredores da Payot, onde dá expediente diário e participa de decisões comerciais, de marketing ou mesmo da validação de compostos químicos usados na maquiagem produzida. Ao seu lado está o filho que a acompanhava nas viagens como vendedora, Silvio Grotkowski, e que ocupa hoje o cargo de presidente.
A onda a que a empresária se refere é muito lucrativa, além de ligada ao conceito de ESG em pauta hoje. O mercado global de cosméticos naturais e veganos deve atingir US$ 48 bilhões até 2025, segundo estimativas da consultoria Grand View Research. No Brasil, esse segmento representa cerca de 20% do total do setor de beleza atualmente, de acordo com a consultoria Nielsen. Segundo dados do Ministério da Economia, em 10 anos o número de empresas abertas com o termo “vegano” no nome cresceu mais de 500%. Em 2022, com dados até abril, foram abertas 117 empresas utilizando “vegano”, “vegana” ou “veganos”.
A receita para oxigenar a marca
A remodelagem começa ainda este ano. Até o final de 2022, serão feitos 70 lançamentos, a maior onda de lançamentos simultâneos na empresa desde que o marido de Dirce resolveu comprar a operação brasileira no final da década de 1960. Depois que ele morreu em um acidente de navio em 1989, vieram muitas propostas de compra. “Nunca cogitei me desfazer, não tem preço que pague, mas foi um recomeço muito difícil porque passei de caçadora de tendências a comandante da empresa”, conta, sobre sua transformação nos últimos 33 anos. “Pretendemos crescer pelo menos dois dígitos em 2023.”
A expectativa é passar dos 7 mil pontos que já temos abertos hoje para 12 mil até o final de 2022”, afirma. Uma parceria com a Drogaria São Paulo deve engordar a lista de revendas, além do reforço dos canais digitais e das ações com influenciadores.
A “estrela maior” entre esses nomes, como classifica a executiva, é Bianca Andrade, da Boca Rosa Company. Com mais de 18 milhões de seguidores no Instagram, ela tem uma linha desenvolvida em parceria com a Payot e responde por parte importante das vendas da companhia. “Ela participa de todas as decisões com a gente.”
A executiva quer ser protagonista no renascimento da marca. Para isso, pediu ao time que as fórmulas consagradas dessem espaço a novos princípios ativos, mas sem perder a tradição. “Nosso departamento de P&D foi em busca de pesquisas e retiramos qualquer ativo que viesse de origem animal”, diz. As mudanças futuras empolgam a executiva. “Já passei por inúmeros preconceitos por ser mulher, crises econômicas, perdi meu marido e estou aqui ajudando a reinventar minha empresa.”
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