Antes da vitória em casa do Tennessee Titans sobre o New York Giants em 11 de setembro, a dona do time da NFL Amy Adams Strunk passou aproximadamente duas horas do lado de fora do estádio de Nashville Nissan. E ouviu “Caramba, é ela!”, de uma jovem mulher que gritou e se aproximou para pedir fotos.
Os fãs, segundo Adams Strunk, são a parte favorita de ser a dona do time fundado por seu falecido pai, Bud Adams, e do qual ela é acionista controladora desde 2015. “Nossos fãs, para mim, não são uma estatística”, diz. Aos 66 anos, Adams Strunk tem fortuna estimada em US$ 1,6 bilhão (R$ 8,2 bilhões) com as ações que detém do Titans e é um exemplo do crescente número de mulheres proprietárias de times da NFL (National Football League), a Liga de Futebol Americano dos Estados Unidos.
18 das 32 franquias da liga são, pelo menos parcialmente, de propriedade de mulheres, e 10 têm mulheres como sócias majoritárias ou coproprietárias. A maioria delas herdou os times de seus pais, irmãos ou maridos. Ou, como Kim Pegula, dona do Buffalo Bill, e Dee Haslam, proprietária do Cleveland Browns, compraram suas participações em conjunto com seus companheiros.
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Mas há sinais de mudanças: recentemente, Mellody Hobson, da Ariel Investments, comprou uma porcentagem de 5,5% do Denver Broncos por US$ 245 milhões (R$ 1,2 milhões) como parte do conglomerado Walton. Carrie Walton Penner, neta do fundador do Walmart, Sam Walton, também se aproximou do time, com a compra de uma porcentagem de 30% das ações.
“Metade dos nossos fãs são mulheres”, diz Adams Strunk, que é conhecida como “mãe” pelos torcedores do Titans. “Apesar de nunca termos jogado futebol americano, isso não significa que não conhecemos o jogo. E nós temos perspectivas específicas para captar mulheres que podemos trazer à mesa de negócios.”
Enquanto algumas mulheres que herdaram times da NFL não são próximas do cotidiano desses times, Adams Strunk não apenas gerencia o Titans, mas também entregou uma surpreendente virada. Desde 2016, o time teve seis temporadas vitoriosas. Mais importante, ela ajudou a trazer o draft da NFL a Nashville a três anos atrás e tem altas esperanças de a cidade ser sede do Super Bowl.
Isso é algo que seu pai não poderia ter previsto. Mas Adams, que faleceu em 2013 aos 90 anos, era uma lenda no futebol americano profissional. O empresário americano construiu sua fortuna no petróleo, foi fundamental para a constituição da Liga de Futebol Americana e fundou os Titans, originalmente conhecidos como Houston Oilers, com apenas US$ 25 mil (R$ 128 mil). Em 1997, quando não arrecadou recursos para substituir a então antiga arena, ele realocou o time para Nashville no seu novo estádio que comporta 69 mil pessoas.
“Foi um divisor de águas para essa cidade”, lembra Spyridon, CEO da Nashville Convention & Visitors Corp. “Surpreendeu todo o mundo dos esportes e Nashville passou a acreditar em si mesma um pouco mais”.
Mas a morte de But Adams deixou um conflito de liderança nos Titans, ao passo que as derrotas do time se acumulavam. O time estava dividido entre as suas duas filhas, Adams Strunk e Susie Adams Smith, e a esposa e os filhos do irmão delas, Kenneth Adams III – que faleceu aos 29 anos em 1987.
Após uma briga familiar – que teve como resultado a colocação do cunhado de Adams Strunk como CEO –, ela e seus sobrinhos lutaram pelo controle do time em 2015. “Foi uma decisão difícil, mas o legado do meu pai era muito importante para mim e para os meninos”.
Adams Strunk cresceu no meio do futebol americano, mas seu pai nunca quis que suas filhas trabalhassem no time. Ela havia passado anos sendo dona de algumas das concessionárias de carros e dos interesses petrolíferos de sua família, além de criar cavalos. A empresária ainda tem algumas dúzias deles no rancho da família no Texas, junto de vários cães resgatados. “Eu nunca pensei – nunca mesmo – que eu estaria gerenciando um time de futebol.”
Depois que assumiu o controle do Titans, ela trabalhou de forma próxima do seu sobrinho, Kenneth Adams IV, que havia trabalhado no time sob a liderança do avô desde 2007, bem como de Steve Underwood, que ela trouxe de volta da aposentadoria como o mais importante executivo do time. Kenneth Adams, que tem 38 anos e é membro do conselho do Titans, fala que ter a sua tia e outras mulheres proprietárias liderando os times da NFL faz diferença: “Eu acho que é bom para a NFL e precisamos disso. Era algo que era necessário há muito tempo”.
Adams Strunk trouxe para o time um novo diretor geral, Jon Robinson, que era honesto sobre os problemas do time em campo, e gastou dinheiro em novas infraestruturas (inclusive em um novo centro de treinamento interno) e em novos uniformes. “Quando você sabe que precisa arrumar algo, você quer alguém te dizendo a mais honesta verdade”, diz ela. “Nada vai ser resolvido se você não sabe o que precisa ser feito”.
A disposição para gastar dinheiro diferenciou Adams Strunk de seu pai pão-duro. Ao mesmo tempo que ela pode ser dura quando está resolvendo problemas, o ex-jogador do time Jevon Kearse revela que é o seu jeito caloroso que faz dela uma proprietária diferente. “Ela foi uma das primeiras pessoas a vir até mim e me dar um abraço”, diz ele. “Alguns dos donos estão envolvidos pelo dinheiro. Ela traz um pouco mais de amor”.
E tudo isso tem gerado impacto. A avaliação do time mais que dobrou de valor desde 2015, de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,7 bilhões) para US$ 3,5 bilhões (R$ 17,9 bilhões), enquanto a receita chegoua US$ 481 milhões (R$ 2,4 bilhões), de acordo com as estimativas da Forbes. Apesar disso, com a média de um time da NFL agora valendo US$ 4,5 bilhões (R$ 23,1 bilhões) e o Dallas Cowboys chegando ao recorde de US$ 8 bilhões (R$ 41,1 bilhões) neste ano, os Titans ainda estão classificados na 27ª posição (de 32) da lista das franquias mais valiosas da NFL.
Aumentando os resultados
Adams Strunk atribui seu sucesso à falta de conhecimento prévio sobre como gerenciar um time. “Só porque algo tem sido de um jeito, não quer dizer que essa seja a forma correta”, diz, acrescentando que, às vezes, é mais fácil trazer novas ideias vindo de fora. “Falamos muito de sermos uma startup de 60 anos”, afirma o CEO do time, Burke Nihill, que assumiu há dois anos. “Amy nos encorajou a desafiar tudo”.
Este é um problema que incomodava seu pai: um novo estádio. Embora ele deva custar mais de US$ 2 bilhões (R$ 10,2 bilhões) e ainda precisa ser aprovado pela cidade, a Forbes estimou que isso pode valorizar os Titans em até US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão). Para pagar sua parcela do estádio – os proprietários do time e o empréstimo da NFL devem cobrir pelo menos US$ 700 milhões (R$ 3,5 bilhões) dos custos –, a família vai vender alguns dos seus outros bens. Adams Strunk acredita que um novo estádio, que seria totalmente coberto, poderia ser a sede não só dos Titans, mas também de shows e também daquela grande partida com comerciais que valem US$ 7 milhões (R$ 35,9 milhões).
Deixando o Super Bowl de lado, Adams Strunk acha que seu pai seria fã do trabalho feito por ela. “Se ele estivesse olhando para baixo agora, ele ficaria muito orgulhoso”.
Movendo as traves do jogo
Mulheres têm sido proprietárias de times da NFL por mais de 70 anos, e isso começou com Violet Bidwill, que herdou os Cardinals em 1947 do seu falecido marido. Com isso, a Forbes encontrou pelo menos 29 mulheres com ações na NFL, um número recorde que é quase o dobro de uma década atrás. Muitas delas, incluindo a dona do Titans, Amy Adams Strunk, já lideram ou auxiliam na liderança dos times. Outras devem ganhar mais visibilidade no futuro.
Carlie, Casey and Kalen, filhas de Jim Irsay, do Indianapolis Colts, já participam regularmente das reuniões de proprietários da NFL – e se tornaram proprietárias controladoras em 2014, depois da suspensão temporária do pai, que se declarou culpado de denúncias de dirigir embriagado. E o recém-suspenso dono do Miami Dolphins, Stephen Ross, supostamente tem planos de deixar o controle do time para sua filha, Jennifer Ross. “Há uma próxima geração de proprietárias mulheres já na linha de frente”, diz Marc Ganis, presidente da empresa de consultoria Sportscorp.
Abaixo estão nove mulheres, além de Adams Strunk, que atualmente são proprietárias de times da NFL.
Jody Allen | Seattle Seahawks
A irmã do cofundador da Microsoft Paul Allen (falecido em 2018) é a única administradora de um fundo que é dono do Seahawks e ocupa a presidência do time. Os recursos de qualquer venda do time irão para a caridade. Allen, de 63 anos, disse que o time não está atualmente à venda e que o seu foco é na vitória.
Gayle Benson | New Orleans Saints
A viúva do antigo dono do New Orleans Saints, Tom Benson, que retirou seus filhos do seu testamento antes de falecer, herdou o time em 2018. Ela não é só uma bilionária [com fortuna estimada em US$ 4,7 bilhões (R$ 24,16 bilhões)], é também proprietária do time da NBA New Orleans Pelicans, e se tornou a única mulher dona de dois grandes times esportivos. Uma das mais influentes donas de times da NFL, Benson, com 75 anos, também faz parte dos comitês da NFL de auditoria, negócios e Hall da Fama.
Sheila Ford Hamp | Detroit Lions
A irmã do presidente da Ford, Bill Ford, obteve o controle do time de sua mãe, Martha Firestone Ford, em 2020. Durante a sua primeira temporada liderando os Lions, ela implementou um programa para melhorar a cultura organizacional e corporativa. Ford Hamp, de 71 anos, também se empenhou para aumentar a diversidade – os Lions agora têm muitos dos diretores gerais negros da NFL – e ganhou respeito por dar apoio ao jogador e ativista Colin Kaepernick.
Dee Haslam | Cleveland Browns
Ela e seu marido, Jimmy, são os proprietários majoritários dos Browns desde 2012. Além de ser membro do conselho de conduta e justiça social da NFL, Haslam, de 68 anos, tem reivindicado maior diversidade nas operações dos times. Depois do quarterback Deshaun Watson ser suspenso e multado em US$ 5 milhões (R$ 25,70 milhões) em um acordo com a NFL que concluiu a investigação a respeito de denúncias de má condutas sexuais, os Haslams anunciaram que iriam investir US$ 1 milhão (R$ 5,14 milhões) em educação sobre más condutas sexuais.
Virginia Halas McCaskey | Chicago Bears
A filha mais velha do ex-jogador Gerge Halas, apelidado de “Papa Bear” e fundador dos Chicago Bears, ela herdou o time após a morte do pai em 1983, tornando-se a mais longeva proprietária na NFL – aos 99 anos. Hoje, ela é secretária do quadro de diretores dos Bears e conselheira do seu filho George, que é presidente e representante do time nas reuniões de proprietários da NFL.
Janice McNair | Houston Texans
Seu falecido marido, Bob, trouxe o futebol americano de volta a Houston em 2002. Ela herdou o time em 2018 e agora, com 85 anos e uma fortuna de US$ 5 bilhões (R$ 25,7 bilhões), ela supervisiona a franquia como cofundadora e presidente-executiva.
Kim Pegula | Buffalo Bills
Pegula e seu marido, Terry, compraram o Bills em 2014. Ela tem supervisionado o cotidiano das operações do time desde então e foi apontada como presidente em 2018, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo tanto na NFL quanto na NHL (sigla para a Liga Nacional de Hockey), já que os Pegulas também são donos dos Buffalo Sabres). Uma defensora da diversidade nas posições de liderança no futebol americano, Pegula, com 53 anos, está no comitê de diversidade da NFL.
Tanya Snyder | Washington Commanders
Como esposa do coproprietário do Washington Commanders, Dan Snyder, ela ficou no comando do time em 2021 em meio a investigações a respeito de más condutas no ambiente de trabalho no time. Uma sobrevivente de câncer de mama, ela ajudou no lançamento da iniciativa Think Pink da NFL, em 1999.
Denise DeBartolo York | San Francisco 49ers
York obteve controle dos 49ers em 2001 depois de seu irmão, Edward Debartolo Jr., ser suspenso da NFL um ano antes. Bilionária desde 2015 — com fortuna estimada em US$ 5,1 bilhões (R$ 26,21 bilhões), ela é a mais rica de todas as proprietárias controladoras da NFL. York e seu marido, John, são copresidentes dos 49ers, enquanto o filho mais velho deles, Jed, é o CEO do time.