O relatório Women in the Workplace 2022, da McKinsey com a Ong LeanIn.Org, definiu que estamos em um período crucial no mundo do trabalho, enquanto mulheres estão exigindo mais de seus cargos e estão dispostas a buscar melhores empregos, se necessário. Como geralmente acontece, enquanto mulheres brancas enfrentam desafios, mulheres negras encontram tsunamis. Esse estudo concluiu o que mulheres negras já sabiam há algum tempo: que o setor corporativo norte-americano não está pronto para o sucesso delas.
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“Mulheres negras em posições de liderança são mais ambiciosas se comparadas aos outros grupos de mulheres nesse mesmo nível. 59% delas querem ser executivas-chefe, enquanto 49% das mulheres, no geral, querem o mesmo. Mas, elas são mais suscetíveis do que líderes de outros grupos e origens étnicas a receber sinais de dificuldades de crescer na carreira”, o relatório mostra. “Se comparamos com mulheres no nível delas, mulheres negras na liderança têm suas competências mais questionadas e são mais sujeitas a comportamentos inferiorizantes. Uma a cada três mulheres negras na liderança afirmam que já foram substituídas ou tiveram oportunidades negadas por conta de características pessoais, incluindo seus gêneros e cores de pele.”
As descobertas revelaram uma tendência preocupante entre as mais de 40 mil colaboradoras entrevistadas.
– 20% das líderes negras experienciaram alguém lhes dizer ou implicar que não são qualificadas, comparadas às 12% de todas as mulheres e 6% de todos os homens.
– 38% das mulheres desse grupo já experienciaram ser confundidas por alguém de um nível inferior, comparando com 26% de todas as mulheres e com 13% dos homens.
– 55% delas já tiveram seus julgamentos questionados, em relação aos 39% de todas as mulheres e 28% de todos os homens.
De maneira frustrante, mulheres negras também ranquearam por último em ter apoio de gestores – ou seja, chefes demonstrando interesse na carreira delas, checando seus bem-estar e promovendo inclusão – se comparado a outros grupos identitários. Também, mulheres negras ficaram quase em último em ter patrocínio e em segurança psicológica garantidos.
O sombrio índice de segurança psicológica logicamente destaca o tóxico dilema que tantas mulheres negras na liderança encontram: estão frustradas pelos desafios e barreiras desiguais, mas não se sentem seguras o bastante para tornar públicas suas preocupações. Certamente, uma das características mais desumanizadoras, mas duradouras, que estereotipizam mulheres negras na liderança é a da “mulher negra irritada”. Como resultado disso, várias líderes negras vêem a si mesmas em relações disfuncionais e não recíprocas com seus trabalhos – continuando a contribuir com organizações que não as valorizam. Muitas delas estão decidindo seguir em frente.
Talvez essa seja a razão pela qual mulheres negras são o grupo demográfico de empreendedores que mais cresce nos Estados Unidos. “O número de negócios de propriedade de mulheres negras cresceu 50% de 2014 a 2019, sendo a maior taxa de crescimento de qualquer grupo de mulheres”, mostra esse artigo do J.P. Mogan. “Mulheres negras são 42% de todas as mulheres que abriram novos empreendimentos durante esse período e representam 36% de todos os empreendedores negros.”
Entretanto, o importante banco norte-americano destaca mais um importante fato: empreendedoras negras encontram maiores desafios para conseguir os investimentos necessários para começar a empreender com sucesso. Mulheres negras claramente são pioneiras ao começar novos negócios, mas, geralmente, eles não têm sucesso – ao mesmo tempo que as rendas de empreendedoras negras ficam muito atrás das de outras mulheres. “Fundadoras negras recebem uma renda de, em média, US $24 mil (R$127 mil) anualmente, enquanto empreendedoras, em geral, ganham o valor de US $142,9 mil (R$758 mil) no mesmo período.”
Mesmo a mudança brusca de um cargo corporativo tradicional para ser proprietária de um negócio está imune das persistentes barreiras e desafios colocados à frente das mulheres negras buscando sucesso profissional. Com isso dito, é óbvio que muitas mulheres desse grupo tiveram sucesso através de resiliência, perseverança e excelência. Muitas também aprenderam bem a se tornar camaleões – ou seja, se dobrando para agradarem os outros, serem organizadas, terem resiliência e conseguirem educação na medida do necessário. No entanto, o fato de algumas mulheres negras terem desafiado as probabilidades não significa que a competição tem sido justa. Geralmente, isso mostra que elas têm sido muito melhores.
A verdade é que não precisamos de outro relatório reafirmando o que já sabemos. As experiências no mundo do trabalho e sucesso profissional, de muitas maneiras, continuam teimosamente conectados aos fatores de gênero e raça, deixando mulheres negras ao fundo da pirâmide de direitos do ramo corporativo. Negritude e feminilidade nunca foram, sistemicamente, fatores vantajosos nos espaços empresariais. As disparidades e desigualdades já estão mais que provadas. Agora, precisamos construir uma fortaleza moral e um desejo coletivo para realmente fazer algo a respeito disso.