Talvez alguém já tenha dito que você é muito sensível, fala alto demais ou faz perguntas demais. Jenny Wood, a fundadora do programa “Own Your Career” (“Seja Dono da sua Carreira” em inglês), do Google, diz que nada disso é verdade. Na verdade, ser “muito” pode levar você mais longe na sua carreira.
Ela sabe do que está falando. Jenny não é só uma executiva liderando grandes times de operações no Google que ajuda a gerar receita de dezenas de bilhões de anúncios por ano, mas ela também construiu o “Seja Dono da sua Carreira” em um dos maiores programas de desenvolvimento de carreira na história da companhia. Agora, é a sua missão ajudar outros profissionais a conseguirem o que desejam, sem pedir desculpas.
Nesta entrevista, Jenny compartilha a jornada de como se tornou confiante como líder, junto de suas estratégias favoritas de crescimento na carreira e produtividade.
Forbes: Conte-nos sobre sua jornada. O que despertou seu interesse em ajudar outros a ter sucesso na carreira? Existe uma história pessoal por trás disso?
Jenny Wood: Esse assunto é profundamente pessoal para mim. Meus avós paternos sobreviveram ao Holocausto e, depois, meu pai fugiu da Hungria comunista por meio de uma floresta com uma sacola de compras e 10 moedas costuradas em seu urso de pelúcia. Minha família sobreviveu por causa de suas coisas: a tenacidade e a gentileza dos desconhecidos que os ajudaram. Vi em primeira mão como a resiliência se converte em sucesso e como esse sucesso se torna mais proveitoso quando você ajuda outras pessoas.
Após três anos como pesquisadora na Escola de Negócios de Harvard, entrei em uma posição iniciante no Google. Eu era uma pessoa ambiciosa retida pela ansiedade. Ficava noites acordada com questões como: “Por que eu não falo em reuniões quando tenho algo para dizer?” ou “Por que eu fico intimidada ao marcar uma reunião com minha chefe mesmo isso sendo valorizado por ela e ser bom para a minha carreira?” Minha cabeça se tornou um obstáculo para o meu progresso.
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F: O que mudou? Agora você é uma executiva no Google. Houve algum momento em que seu pensamento mudou ou foi um desenvolvimento lento?
JW: Um passeio de metrô mudou tudo. De volta a 2011, eu era uma solteira em Manhattan sentada na frente de um homem bonito no metrô. Eu estava tentando tomar coragem para falar com ele e, nesse meio tempo, ele saiu do trem. Com as portas fechando, algo me dominou. Eu saltei do meu assento, corri atrás dele e dei o meu número. Mais de uma década depois, estamos casados com duas crianças. Esse momento me ensinou que, se eu ficar passivamente sentada, não vou conseguir nada. Mas, quando eu vou atrás do que quero, coloco em prática a vida que desejo.
Comecei a ter a mesma abordagem no trabalho, e isso mudou tudo. Tive mentorandos que também disseram que ficam noites acordados, pensando no porquê não disseram alguma coisa. Eles estavam nervosos de pedir ajuda a líderes mais sêniores e não sabiam como se autopromover. Por eu já ter experienciado a mesma coisa, sabia que podia ajudar. Comecei a incentivá-los e, fazendo isso, minha própria carreira cresceu.
F: Foi assim que você criou o “Seja Dono da sua Carreira” no Google? O que você aprendeu comandando o programa?
JW: Cheguei a um ponto no qual era impossível ter tantas sessões individuais de mentoria. Como uma líder de operações, eu sabia que era hora de evoluir. “Seja Dono da sua Carreira” nasceu de três maneiras:
- Fichas com dicas que envolviam temas como influenciar, networking, criar uma marca pessoal e gestão de ações;
- Uma rápida newsletter com truques e desafios;
- Bate-papos ao vivo com sessões de perguntas e respostas.
Desde a criação do programa, já participaram dezenas de milhares de pessoas em dezenas de países com 97% de feedback positivo. Isso me deixa orgulhosa. Sou muito grata ao pequeno grupo de pessoas que comandam o programa – todos de maneira voluntária.
Você me perguntou o que ganhei liderando. Como é aquele famoso ditado? “Você ensina o que você mais precisa aprender”. Quando eu comando conversas ao vivo, eu digo com frequência: “Saiba os seus três superpoderes para tê-los prontos em qualquer reunião!”, “Reconfigure sua autopromoção como compartilhamento, não como se gabar!” e “Seja 60% mais conciso em seus emails para mostrar que você é estruturado e estratégico! Não escreva em blocos de grandes parágrafos!”
Com a conversa terminando, eu volto à minha caixa de entrada do email. Olho à mensagem que estou escrevendo e… é longa e com parágrafos grandes. Então, sou generosa comigo mesma e aplico os princípios do “Seja Dono da sua Carreira” que ensino: corto 60% do texto antes de pressionar o botão de enviar.
F: Qual sua melhor dica para os leitores que querem “se tornar donos da sua carreira”?
JW: Seja ousado. Seja curioso. Seja você mesmo.
Seja ousado: Se você quer dobrar sua taxa de sucesso, triplique sua taxa de fracassos. Eu tenho um currículo de fracassos que compartilho com a minha equipe. Isso vai de não conseguir entrar na minha faculdade dos sonhos a não conseguir alguns cargos no Google e erros em emails. Sem querer, por exemplo, enviei um email vergonhoso que seria direcionado a um pequeno grupo para, na verdade, 27 mil pessoas! As lições que você aprende fracassando te ajudam a ter sucesso a longo prazo.
Seja curioso: Faça perguntas, muitas delas. Nas reuniões trimestrais da sua equipe, levante a sua mão e pergunte à vice-presidente o que a fez ficar acordada à noite. Peça ao seu chefe – ou até mesmo ao chefe do seu chefe – para ter um tempo na reunião semanal para apresentar seu último projeto. Envie aquele email que questiona, de forma reflexiva, o porquê ainda investem em widgets verdes quando o crescimento de widgets vermelhos está disparando. Questionamentos te ajudam a entender prioridades e, quando você entende as prioridades da sua organização, você pode mapear o seu esforço para atendê-las. Esse esforço se transforma em impacto, e esse forte impacto acelera o crescimento na sua carreira.
Seja você mesmo: Seja autêntico com quem você é. Se você é introvertido, abrace sua introversão. Todos os tipos de personalidade podem ter sucesso em suas carreiras. 57% dos funcionários se consideram introvertidos, mas somente 39% dos líderes sêniores pensam o mesmo, de acordo com a empresa de coaching Myers-Briggs Company.
F: Como uma executiva do Google, imagino que você é extremamente ocupada. Quais são suas estratégias de produtividade favoritas?
JW: Primeiro, sempre que me oferecem um novo projeto ou uma nova oportunidade, penso que se não me sinto eufórica com isso, então é um “não”. Isso me ajudou a me comprometer somente com o que estou animada. Segundo, toda segunda-feira eu escolho três reuniões que posso reduzir a 15 minutos. Terceiro, faço uma caminhada todo dia. É nesse momento que ouço podcasts e tenho ideias para o livro que estou escrevendo sobre conquistar meus objetivos.
Carreira e produtividade estão profundamente conectadas. Dos milhares de dados coletados no nosso programa, aprendemos que o “Seja Dono da sua Carreira” ajuda a poupar 1,6 horas por semana.
Funcionários economizam tempo ao escrever poucas frases em um email ao invés de um de três parágrafos. Eles aprendem a assistir treinamentos em velocidade aumentada para deixar mais tempo a trabalhos estratégicos. Eles devem aprender a dizer “sim” para o importante e “não” às coisas pequenas. Como disse o guru hindu Nisaragadatta Mahara: “Trabalhar é difícil, recusar o trabalho desnecessário é mais difícil ainda”.
F: O que mais você quer que os leitores saibam?
JW: Não subestime o poder de movimentos laterais. Carreiras não são sempre sobre crescimento e ir para frente, mas também, movimentos aos lados e inesperados, sobre mudanças animadoras. Meus movimentos laterais têm sido os meus favoritos. Eles aumentaram minhas perspectivas, geraram novas parcerias e, francamente, foi legal aprender coisas novas com pessoas novas. Estou no Google há mais de 16 anos e nunca fiquei entediada. Nem um dia. Eu construo relações que me deixam feliz, aprendo habilidades que me desafiam e procuro oportunidades que me abastecem. Talvez você possa dizer que sou dona da minha carreira.