“Essas palavras são proibidas aqui em casa”. Desde que me entendo por gente essa era a resposta que ressoava de forma automática toda vez que eu desistia facilmente de alguma coisa e dizia “eu não consigo.”
Desconheço completamente o efeito pedagógico dessa técnica maravilhosa dos anos 90, que nos dias atuais provavelmente faria minha mãe ser condenada por todo um tribunal das mães perfeitas cheias de teorias, mas preciso dizer que em diversos momentos da vida foi o que me colocou pra frente. Foi o que me fez tentar mais um pouco, me tornou mais resiliente. Nem sempre era a resposta que eu gostaria de ouvir, mas era a que eu precisava.
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Então eu me tornei mãe, e diga-se de passagem um tipo bem leoa e superprotetora, o que sinceramente ainda aumentou minha admiração pela paz e serenidade com que ela dizia isso. Uma admiração enorme por não ter encurtado o caminho e feito por mim tantas vezes, e simplesmente se mantido ali ao meu lado me apoiando caso eu precisasse. Hoje sei que exige um tremendo esforço, tendo em vista que somos pais que amam os próprios filhos e isso inclui o impulso de tornar a vida mais fácil para eles. É natural que a gente busque poupá-los de todo e qualquer sofrimento, mas será que é mesmo o melhor caminho?
Tudo começou com a teoria de Freud de que as experiências da primeira infância, mesmo aquelas esquecidas ou inconscientes, podem causar dano psicológico irreversível às crianças, que refletirão na vida adulta. O problema é que nós interpretamos como se todo e qualquer desafio fosse traumatizá-los. Dessa forma, os privamos de desenvolver recursos internos e habilidades para solucionar problemas. Os criamos em uma bolha, na qual eles não se machucarão, mas também não evoluirão. Na maternidade, nos esquecemos de que existe um “mundão” lá fora, o qual eles terão que enfrentar um dia. Buscando facilitar a vida para nossos filhos, estamos dificultando.
Fomos de um extremo a outro: de gerações anteriores que eram extremamente duras e exigentes com os próprios filhos e os tratavam como pequenos adultos a uma geração que busca evitar toda e qualquer forma de frustração e desconforto. Ganhamos muito de um lado, certamente somos pais melhores e mais amorosos, mas por amar demais, corremos o risco de não oferecer ferramentas para que eles sejam capazes de enfrentar as inevitáveis frustrações da vida adulta.
Hoje mesmo, enquanto os arrumava para ir para a escola, certamente teria sido mais rápido e prático que eu mesma colocasse a blusa e o tênis, mas eu os privaria da tentativa. Demorou? Sim. Me exigiu paciência? Também. Talvez eu tenha atrasado quinze minutos, mas eles ganharam muito mais do que quinze minutos. O aprendizado se encontra escondido ali, nas pequenas ações do cotidiano, e muitas vezes passa despercebido.
A próxima vez que for encurtar o caminho e fazer algo que seu filho é capaz de fazer, repense. Toda vez que para evitar uma pequena frustração você ceder, pense no quanto frustrações fazem parte da vida. E recomendo: fure a bolha.
Paula Drumond Setubal é advogada, mãe de gêmeos e produtora de conteúdo.
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