A empresa de Christina Smolke, cofundadora e CEO da Antheia, utiliza do mesmo processo de produção de cerveja para cultivar ingredientes essenciais para medicamentos controlados. E em vez da levedura que você pode comprar em um mercado, as dela são resultado de mais de uma década de pesquisas e bioengenharia com genes para produzir químicos em escala, bem mais rápido do que os métodos convencionais.
Na última quinta-feira (24), a empresa anunciou a conclusão da sua primeira fermentação em escala comercial, que resultou na produção de 116 mil litros de tebaína, ingrediente que faz parte da produção de vários medicamentos importantes, como opioides. Em vez de um prazo de alguns meses, a Antheia produziu o produto em cerca de cinco dias. Com esse recorde de tempo, a empresa pretende chegar ao mercado no próximo ano com os seus primeiros produtos: ingredientes para medicamentos que estão em escassez.
Leia também
- Ela deixou o Dropbox para fundar um unicórnio de R$ 7 bilhões
- Investidor série A: como Aimee Yang conseguiu U$S 6 milhões para seus bagels
Empresa ajuda a resolver falta de medicamentos
De acordo com uma pesquisa da Sociedade Americana de Farmacêuticos dos Estados Unidos, a escassez de medicamentos faz um terço dos hospitais racionarem, atrasarem ou cancelarem intervenções médicas não eletivas. Os outros dois terços afirmam que estão fazendo a gestão desta escassez de forma estratégica, mas que ela ainda impacta o atendimento dos pacientes, porque o preço de alguns desses medicamentos aumentou. “Os farmacêuticos têm lidado com a escassez de medicamentos durante décadas”, disse Paul Abramowitz, CEO da ASHP, num comunicado. “Agora estamos vendo uma escassez mais prolongada e persistente.”
É o caso dos opioides injetáveis, usados para controlar a dor. Tradicionalmente, estes ingredientes são cultivados ao longo de meses ou anos, com os químicos necessários extraídos das plantas para que possam ser manipulados em uma fábrica. Mas depender da agricultura pode causar problemas como mudanças do clima, pragas ou tempestades.
Este é um tipo de ingrediente medicamentoso no qual a Antheia está se concentrando: tebaína e oripavina, os dois componentes-chave no controle da dor e em medicamentos para controle de vício, como codeína, hidrocodona e naloxona. A empresa também tem mais de 70 outros ingredientes em seu portfólio para diferentes tipos de medicamentos, incluindo escopolamina, que é usada em medicamentos contra náuseas e espasmos. “Estamos produzindo ingredientes que, com frequência, estão em falta nas cadeias de abastecimento”, diz Smolke. “Estamos analisando a longo prazo quais faltas de medicamentos estão se tornando insustentáveis.”
Doutorado em Berkeley
Enquanto trabalhava para obter seu doutorado na UC Berkeley, Smolke, estagiou na indústria química, onde aprendeu sobre a química tradicional. Essa área, segundo ela, não era tão versátil e flexível quanto reações químicas em sistemas biológicos – que normalmente não são fáceis de serem controladas. “Eu estava realmente começando a pensar na célula como uma fábrica”, diz a CEO.
Este processo a inspirou a concentrar a sua investigação no desenvolvimento de microrganismos que possam produzir substâncias úteis para a produção de medicamentos, primeiro num laboratório na faculdade CalTech e agora em Stanford, onde é professora. “Como podemos nos inspirar na natureza, mas construir plataformas de produção e biofabricação mais controláveis?”
Para produzir grandes quantidades de ingredientes farmacêuticos, os pesquisadores da Antheia tiveram primeiro de desenvolver a própria levedura. Esse processo envolveu retirar genes das plantas das quais os ingredientes são colhidos e adicioná-los à levedura, junto com genes de mais de 20 outros organismos para tornar o processo mais eficiente.
A Antheia é a única empresa de biologia sintética focada no nicho de fabricação de ingredientes para medicamentos, segundo Kazi Helal, analista de biotecnologia da empresa de dados e investimentos Pitchbook. Isso pode trazer uma vantagem para a farmacêutica, mas ele também observou que pode haver uma boa razão para não haver tantos concorrentes no mercado. Helal observa que, em empresas farmacêuticas que fornecem medicamentos, há um caminho viável para o sucesso comercial se a empresa for capaz de fornecê-los em grande escala.
US$ 12o milhões em investimentos
Smolke reconhece que a escala é um grande desafio para a startup oferecer uma alternativa real à cadeia de abastecimento, mas aponta para o anúncio da sua empresa de um lote de tebaína em escala comercial como uma prova importante da capacidade da empresa, porque demonstra que a tecnologia funciona e é escalonável, podendo atender às métricas comerciais.
Até o momento, a empresa levantou US$ 120 milhões em investimentos como as firmas de investimentos Viking Global, Sherpalo Ventures e a Hillspire, do bilionário Eric Schmidt. A Pitchbook estima a avaliação da empresa em US$ 270 milhões. O próximo passo da Antheia e dos seus 52 funcionários é preparar a empresa para colocar os seus produtos no mercado em grande escala, o que exigirá o regulamento do FDA (Food and Drug Administration) e de outras agências reguladoras. Smolke diz que se tudo correr bem, ela espera receber a aprovação até o final do ano, com a empresa entrando oficialmente no mercado em 2024.
* Alex Knapp é editor sênior da Forbes USA. Ele cobre assuntos de saúde, tecnologia e ciência.
(Traduzido por Gabriela Guido)