“A Negra Rosa ainda é vista como uma marca de nicho. Pessoas negras são mais de 56% da população do país, então minha marca não é de nicho”, diz Rosangela Silva, criadora da marca de beleza Negra Rosa. Em fevereiro deste ano, Silva vendeu a empresa que fundou para a Farmax, produtora de cosméticos e de produtos de bem-estar, que projeta investir até R$ 100 milhões na operação até 2027 em rebranding, distribuição e consolidação da Negra Rosa no mercado. Com a aquisição, a fundadora não é mais dona da marca e passou a ser sua diretora de criação.
O grupo mineiro de cosméticos e produtos de saúde Farmax foi comprado pelo fundo Vinci Partners em 2021 e tem a meta de chegar à receita de líquida de R$ 1 bilhão até 2026. Para isso, vem adquirindo uma série de marcas independentes ou de tamanho menor que o seu . A Negra Rosa foi comprada com 54 produtos e registrava vendas de R$ 10 milhões anuais.
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Transição capilar e sócia via internet
O primeiro passo para o lugar que ocupa hoje foi em 2010, quando Rosangela Silva passava pela transição capilar e, sem encontrar referências nacionais para aprender a cuidar do seu cabelo, começou um blog para trocar experiências sobre esses cuidados com outras mulheres negras. Durante uma dessas conversas, em um dos fóruns de maquiagem, conheceu Anna Heller, hoje sua sócia, que trouxe a ideia de criar uma linha de produtos direcionada. “A gente queria uma marca que não padronizasse a pele negra”, diz Silva.
No começo, os produtos da Negra Rosa chegavam aos consumidores por pequenos lojistas e revendedoras, ajudando a gerar renda extra para esse grupo de mulheres. A necessidade das consumidoras verem de perto os produtos e saber se eles são adequados aos seus tons de pele favoreceu a venda física. “Muitas mulheres se identificaram com a marca. Ter revendedoras negras fez parte da estratégia. “Agora estou vendendo produtos que foram feitos para mim”, diz Silva, sobre como essas mulheres se relacionavam com os produtos que revendiam.
A preocupação com a qualidade dos produtos
Rosangela Silva conta que a histórica falta de produtos voltados para mulheres negras as afasta do mercado de beleza, a ponto de não considerá-las como um público-alvo a ser atendido. Por isso, desde a criação de seus primeiros produtos, linhas de batons e bases, ela se preocupou em desenvolver as tecnologias – como pigmentação para lábios e tons de base – que melhor funcionavam para mulheres negras como ela. “Eu uso meus produtos. Minha mãe e minhas sobrinhas vão usá-los também”, diz Silva.
A atual diretora de criação, inclusive, participa ativamente da publicação dos conteúdos nas redes sociais da Negra Rosa, testando os produtos em si mesma e nas mulheres da sua família para que outras negras se identificassem com esses processos de autocuidado. “Em casa, tenho várias texturas de cabelo para testar e, também, um termômetro para eu saber como o produto está funcionando a longo prazo, porque eu sei que essas pessoas que estão usando o meu produto vão ser honestas comigo.”
O desenvolvimento do gel de finalização, por exemplo, foi um dos principais desafios para Rosangela Silva, que tinha dificuldade para encontrar fornecedores que o fizessem exatamente como ela queria, já que havia testado vários outros produtos de outras marcas com a mesma função. “Quase deixei de ter produtos para cabelo, porque não estava conseguindo fazer como eu queria”, diz Silval. Entretanto, o gel ativador de cachos esgotou em duas semanas de vendas, mesmo com um preço relativamente maior se comparado a semelhantes de outros produtores.
O mercado da beleza para mulheres negras
Por ter convivido com mulheres negras que não gostam de olhar fotografias antigas, nas quais a maquiagem parece esbranquiçar seus rostos, a fundadora da Negra Rosa já vê uma mudança na relação de meninas e adolescentes com produtos de beleza. “Muitas vezes, falar ‘não gosto de maquiagem’ é uma defesa do descontentamento de não ter um produto feito para você”, ela diz. “São muitas questões que atravessam a compra de uma mulher negra no mercado da beleza.”
Com a aquisição da Negra Rosa pela Farmax, a marca entrou no mercado de skin care e ainda planeja ter novos pontos de venda, especialmente as farmácias, que são acessadas por grande parte das mulheres negras. “No mercado da beleza, ouvimos os nomes de muitas marcas, mas o racismo estrutural dificulta que a minha seja tratada como referência”, diz Silva. Hoje, a diretora de criação continua participando de perto do desenvolvimento de seus produtos, além de representar a marca como sua fundadora.