Apesar do crescimento da indústria da cannabis (deve chegar a mais de US$ 100 bilhões em 2028), empreendedoras encontram obstáculos para construir seus negócios nesse setor, mesmo em países onde a discussão em torno do tema está mais avançada. Nos EUA, apenas 8% dos CEOs do setor são mulheres, enquanto elas representam 48% dos consumidores.
Contra as estatísticas, Jenna Goldring, cofundadora da The High Confectionary, identificou uma oportunidade no mercado de cannabis e cânhamo (uma variedade da planta Cannabis sativa) e está usando sua experiência em marketing digital para vender gomas com baixas doses de THC diretamente aos consumidores por meio do site (no caso dos produtos de cânhamo) e em estabelecimentos regulamentados pelo estado americano (no caso da cannabis).
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A ideia da startup é permitir que os consumidores controlem a quantidade de THC (tetrahidrocanabinol, a molécula responsável pelos efeitos psicoativos da maconha) para alcançar o efeito terapêutico desejado.
A trajetória de Goldring resume os desafios que empreendedoras enfrentam nessa indústria (e em muitas outras): acessar financiamento – predominantemente de investidores do sexo masculino –, enfrentar uma cultura dominada por homens, equilibrar os negócios com responsabilidades familiares e vencer estigmas sociais. Apesar das barreiras, a empreendedora levantou US$ 1 milhão para criar o produto, de investidores-anjo, amigos e familiares.
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Espaço em branco no mercado de cannabis
O conceito do “teto de grama” (semelhante ao teto de vidro) se refere às barreiras invisíveis que dificultam o avanço das mulheres na carreira em setores agrícolas. Ter mulheres em posições de liderança traz uma nova visão para os negócios e, também, maior rentabilidade e melhor compreensão do consumidor.
Antes de lançar a The High Confectionary, Goldring ganhou experiência trabalhando para várias startups de tecnologia. Como vice-presidente de vendas de mídia da Fyllo, uma empresa especializada em publicidade, ela percebeu uma lacuna no mercado de cannabis e decidiu resolver o problema por conta própria.
Sua experiência pessoal com a cannabis como uma forma de melhorar o sono e reduzir a ansiedade levou-a a criar uma linha de produtos que atende especificamente a pessoas com tolerâncias mais baixas. Ao contrário da maioria dos produtos comestíveis no mercado, cada goma da The High Confectionary contém apenas 1 mg de THC, em comparação com os típicos 5 a 10 mg, permitindo que os consumidores tenham controle total sobre sua dosagem.
Os ingredientes são veganos e orgânicos e cada goma tem apenas cinco calorias. Goldring levou um ano para aperfeiçoar a receita e encontrar os parceiros certos para fabricar o produto. Os benefícios incluem menor exposição a pesticidas nocivos, maior teor de nutrientes, ausência de ingredientes artificiais e mais sabor.
Superando desafios no setor de cannabis
A indústria apresenta desafios únicos para empreendedoras mulheres (e outros que podem ser observados em diferentes setores). Veja:
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Acesso a financiamento
As empresas com apenas fundadoras mulheres enfrentam mais dificuldades no acesso ao capital do que as companhias fundadas exclusivamente por homens ou com fundadores de ambos os sexos. Embora tenha havido um aumento pequeno, mas constante, na parcela de acordos exclusivamente com fundadoras mulheres – atualmente 7,0% – a porcentagem de dólares investidos em empresas de mulheres caiu para 2,0% de um pico de 2,7% estabelecido em 2017, de acordo com dados do Pitchbook, plataforma que fornece informações sobre empresas e mercados de capitais, de outubro de 2023.
Ao investir, mulheres são mais propensas a considerar o gênero dos fundadores.
Hoje, o cap table (que fornece uma visão geral da estrutura de capital de uma empresa e dos acionistas) de Goldring é majoritariamente masculino. Isso se deve ao fato de que existem menos mulheres investindo em startups, e muitas delas podem ficar ainda mais hesitantes em investir na indústria da cannabis pelos estigmas e a falta de representação feminina.
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Estereótipos de gênero
Como a maioria dos setores, a indústria da cannabis tem sido tradicionalmente dominada pelos homens.
O gênero afeta a forma como a cannabis e o cânhamo são consumidos, os seus impactos físicos, mentais e sociais e como os homens e as mulheres respondem ao tratamento, à promoção da saúde e às políticas. “É uma espécie de clube de meninos, tanto na captação de recursos quanto na operação”, disse Goldring.
Criar uma rede de apoio nesta e em outras indústrias é essencial para ajudar as mulheres a ter sucesso nos negócios. “Existem muitas marcas legais e inovadoras lideradas por mulheres, e nós apoiamos umas às outras neste espaço, incluindo parcerias.”
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Obstáculos regulatórios
A recente legalização da cannabis recreativa em alguns estados dos EUA tem transformado a indústria. No entanto, a mudança de leis e regulamentos representa desafios para os empresários do setor, afastando muitos investidores.
Empreender em meio a estruturas regulatórias complexas que variam de estado para estado no país é um desafio significativo da indústria da cannabis.
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Equilibrando família e negócios
Goldring recentemente teve um filho e, como muitas mulheres, precisa conciliar as responsabilidades familiares com as atividades empreendedoras. “Sua vida muda de uma forma que você nem consegue processar até o bebê chegar”, disse. “Agora, tenho uma outra prioridade sobre o negócio.”
Gerenciar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional pode ser especialmente desafiador para empreendedoras. “Ainda estou amamentando meu filho. Os homens não têm esses desafios.”
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The High Confectionary/Divulgação Estigmas
Apesar da crescente aceitação e legalização da cannabis, ainda existe muito preconceito associado à indústria. E as mulheres podem enfrentar desafios adicionais ao se associarem a um setor que tem sido historicamente visto de forma negativa.
Acesso a financiamento
As empresas com apenas fundadoras mulheres enfrentam mais dificuldades no acesso ao capital do que as companhias fundadas exclusivamente por homens ou com fundadores de ambos os sexos. Embora tenha havido um aumento pequeno, mas constante, na parcela de acordos exclusivamente com fundadoras mulheres – atualmente 7,0% – a porcentagem de dólares investidos em empresas de mulheres caiu para 2,0% de um pico de 2,7% estabelecido em 2017, de acordo com dados do Pitchbook, plataforma que fornece informações sobre empresas e mercados de capitais, de outubro de 2023.
Ao investir, mulheres são mais propensas a considerar o gênero dos fundadores.
Hoje, o cap table (que fornece uma visão geral da estrutura de capital de uma empresa e dos acionistas) de Goldring é majoritariamente masculino. Isso se deve ao fato de que existem menos mulheres investindo em startups, e muitas delas podem ficar ainda mais hesitantes em investir na indústria da cannabis pelos estigmas e a falta de representação feminina.
*Geri Stengel é colaboradora da Forbes USA. Ela é presidente do fundo de investimentos Ventureneer, que foca em financiar projetos de mulheres e de pessoas de grupos minoritários.
(Traduzido por Fernanda de Almeida)