Stéfany Mazon se afasta do estereótipo da Geração Z, da qual pertence. Enquanto estudos mostram que os jovens hoje pingam de empresa em empresa e não buscam construir uma carreira ou assumir cargos de liderança, aos 28 anos, Mazon é a líder mais jovem da Microsoft no Brasil. “Quero ser CEO aos 40 anos”, diz a diretora de vendas de Azure, plataforma de computação em nuvem da big tech, que tem alavancado os resultados da companhia mundialmente.
Esse mercado, avaliado em US$ 483,98 bilhões em 2022, deve atingir US$ 1,55 trilhão em 2030, com uma taxa de crescimento composta anual de 14,1%, segundo dados da empresa de pesquisa e consultoria Grand View Research. “Estamos sempre em crescimento porque o mercado de nuvem está em total ascensão”, diz Mazon. A Microsoft não abre números locais, mas, globalmente, a receita de produtos e serviços em nuvem aumentou 22% no quarto trimestre de 2023, impulsionada pelo crescimento de 30% da receita da Azure e de outros serviços.
No Brasil, a plataforma de nuvem tem entre os clientes grandes empresas como Petrobras, B3, PicPay e o escritório de advocacia Machado Meyer, que utilizam IA para interagir com colaboradores, clientes ou facilitar processos. “A nuvem é o data center de uma outra pessoa ou empresa que traz uma segurança, escalabilidade e tecnologia que o seu próprio computador não poderia ter”, explica. Mas além da parte de infraestrutura, a Azure tem um braço de inovação e inteligência artificial que ajuda desenvolvedores a criar e implantar aplicativos.
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Mulher em tech
Mazon trabalha com IA há 10 anos, bem antes do hype. Em 2017, fez um TEDx sobre o assunto, mas foi mais recentemente que a sua carreira pegou carona no boom dessa tecnologia. “Foi uma carona intencional porque a inteligência artificial vai ajudar, e já está ajudando, a democratizar a tecnologia, o que é meu grande objetivo.”
Nesse universo de IA, as mulheres representam 30% dos profissionais, e são 29.2% dos trabalhadores em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), mostra um relatório do Fórum Econômico Mundial de 2023.
Embora a Microsoft tenha alcançado a equidade de gênero na liderança e Stéfany tenha exemplos de altas executivas, como a CEO no Brasil, Tania Cosentino, e a CFO, Glaucia Rosalen, sua mentora, o início da carreira foi um pouco diferente. “Passei de uma sala só para meninas para uma só de meninos na faculdade”, diz. Mazon é judia ortodoxa e estudou em colégio com turmas divididas.
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Destaque nas exatas, foi estudar engenharia eletrônica por incentivo de uma professora de física no ensino médio. “Perguntei para ela como funcionava a lousa eletrônica e ela respondeu que se eu fizesse o curso eu iria entender. Não entendo até hoje, mas foi aí que percebi que queria ir para a tecnologia.”
Com dificuldades financeiras durante a faculdade, no Instituto Mauá de Tecnologia, a única professora do curso a levou para um projeto de iniciação científica, o que ajudou a continuar os estudos. “Muitas mulheres me impulsionaram ao longo da carreira.”
Segredo do sucesso
Com esse projeto, de desenvolvimento de software baseado em IA para tradução de linguagem de libras, garantiu um prêmio da IBM e um emprego como pesquisadora na gigante de TI. “Entrei nesse mundo de acessibilidade quando nem se falava muito sobre, há 10 anos”, diz. Antes de concluir a faculdade, já havia conquistado quatro patentes de pesquisa em IA.
Na IBM, onde ficou por sete anos, foi incentivada por um chefe a fazer a transição para a área comercial, o que acelerou sua carreira. “Ter o background técnico ajuda muito”, diz Mazon. E foi também o que a levou à liderança na Microsoft. “Tem muito valor porque a gente resolve de fato um problema do cliente e não apenas vende uma solução que não terá futuro.”
A visão e a experiência em inteligência artificial no currículo também contaram para ser promovida quatro vezes em quase quatro anos, além da ambição. “O principal é ter vontade e ser muito vocal. Todo mundo tem que correr atrás dos seus objetivos”, diz Mazon, que entrou na Microsoft em 2020, como especialista de vendas em cloud.
Mas mesmo com tudo isso em mente, a executiva recebeu uma visita da síndrome da impostora ao ser promovida ao cargo atual, à frente de uma equipe de sete pessoas formada por profissionais, em sua maioria, mais velhos e experientes. “Às vezes, nós, principalmente mulheres, ficamos muito focadas no gap [no que falta], e eu comecei a olhar para o gain, para as conquistas”, diz ela, citando um livro que leu recentemente, The Gap and The Gain, do Dan Sullivan. “Para ser a líder mais jovem, eu tive que trabalhar muito. Sou boa, mas não sei tudo, estou num processo de aprendizado.”
Hoje, é professora no MBA no Ibmec e faz mentorias com jovens judias sobre recolocação e desenvolvimento de carreira.
Para trabalhar com tecnologia e estar sempre à frente das inovações, a executiva mantém uma rotina de estudos. “Não estou mais no dia a dia com a mão na massa, mas mantenho a mentalidade de continuar estudando”, diz ela, que lê muito, faz cursos, aproveita o trânsito de São Paulo para ouvir audiobooks e podcasts e fica atenta ao setor e a conversas com clientes.
Também mantém uma rotina diária de exercícios físicos para aliviar a pressão do corporativo. Faz algum esporte ou musculação todos os dias, menos aos sábados, quando pratica o Shabat, dia sagrado de descanso semanal no judaísmo. “Nos desconectamos toda sexta-feira ao pôr do sol até sábado também no pôr do sol”, explica. Essa desconexão envolve não utilizar qualquer tipo de tecnologia, inclusive elevadores. “É um momento de refletir e voltar para a semana, que é super corrida, com mais consciência.”
A trajetória de Stéfany Mazon, líder de vendas da Azure, da Microsoft
Primeiro cargo de liderança
“Foi quando eu assumi o time de estratégia de Azure no Brasil. Esse momento foi muito importante para mim porque de fato eu entendi a imensidão e as possibilidades que a gente tem com a tecnologia.”
Quem me ajudou
“Preciso citar algumas pessoas. Primeiro, a minha mãe, que é um exemplo de mulher, que sempre me disse que eu podia ser quem eu quisesse ser. Segundo, a professora de física que mudou a minha vida e me mostrou o caminho da engenharia eletrônica. Terceiro, a professora que me deu a possibilidade de fazer iniciação científica, eu entrei nesse mundo de acessibilidade e consequentemente tive a possibilidade de trabalhar em uma multinacional. E o quarto foi o meu gerente que me incentivou a ir para a área de vendas. Ele acreditou em mim e no meu potencial na área comercial, o que de fato acelerou muito a minha trajetória. Por último, o meu marido. Ter um parceiro de verdade é algo que me ajuda muito.”
Turning point
“Foram dois momentos. O primeiro quando eu fiz a virada para a área comercial, porque isso acelerou muito a minha trajetória e me deu a possibilidade de crescer e impactar mais pessoas. E o segundo foi quando eu assumi a área de estratégia porque eu tive uma visão muito mais ampla e consegui conectar o mundo técnico com o mundo comercial e ao mesmo tempo toda a parte de estratégia e inovação. Foi muito importante e agregou muito para a posição em que eu estou hoje, como líder de vendas.”
O que ainda quero fazer
“Essa é fácil. Eu quero ser CEO com 40 anos. E hoje eu coloco outras duas coisas: quero continuar impactando pessoas, quero incentivar outras mulheres em STEM, através de treinamentos e sendo uma referência. E quero ajudar na democratização de tecnologia.”
Causas que abraço
“Mulheres em TI e principalmente jovens entrando no mercado de trabalho. Quero ajudar a pensar fora da caixa, principalmente porque com toda essa virada de tecnologia a gente precisa cada vez mais entender que os trabalhos de hoje talvez não sejam os trabalhos do futuro.”
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