Andreia Andrade deslanchou na carreira quando abraçou a tecnologia. Advogada de formação com experiência em sustentabilidade, passou por diferentes posições até trabalhar com o time de tech da EY (Ernst Young). “Estar perto da tecnologia acelerou demais as possibilidades da minha carreira”, diz. Hoje, é sócia de pessoas na consultoria e lidera o programa Women In Tech, que incentiva a entrada de mulheres no setor, em toda a América Latina.
Sua trajetória ilustra um movimento em que profissionais fazem a transição de diferentes áreas para aproveitar as oportunidades da indústria de tecnologia. “Não importa a área de estudo. Qualquer pessoa que aporte tecnologia nos seus processos e negócios vai prosperar mais rápido”, explica Andrade. Esse cenário foi acelerado pela pandemia e os rápidos avanços tecnológicos, somados ao déficit de talentos na área e à falta de representatividade. “Em um passado não tão distante, você precisava conhecer muito de alguma tecnologia e ter algum tempo de experiência para realmente prosperar.”
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Há 11 anos na EY, Andrade enxergou uma possibilidade de atuar na tecnologia e assumiu a gestão de projetos na área. “Eles se conversavam com o olhar e eu me sentia um peixe fora d’água”, lembra. Ela ficou na sua “zona de esforço” e trouxe uma agenda de pessoas, que a ajudou a ter sucesso nesse ambiente. “Em um ano, eu já estava entendendo a vida dos times de tecnologia de uma maneira que nunca havia imaginado.”
Em um movimento para ser implementadora de tecnologia, a EY investiu na área e o time de Andrade passou de 40 para 400 pessoas. Foi então que líderes como ela perceberam que, enquanto se voltavam para a tecnologia, poderiam estar se afastando do equilíbrio de gênero.
Women in tech
Para resolver isso, em 2020, a empresa lançou o Women In Tech, que possibilita que mulheres migrem para a área de tecnologia, independentemente da formação, universidade e nível de inglês. Desde o dia zero à frente das ações na América Latina, Andrade passou a liderar o programa oficialmente no ano passado, sucedendo Denise Marconi.
Ligado ao trainee da EY, o Women in Tech convida jovens mulheres a atuar nas áreas de tecnologia, ainda que não na parte técnica, além de promover mais de 70 iniciativas dentro e fora da companhia. “O objetivo é criar um ambiente mais saudável para as nossas mulheres e fazer com que mais meninas entrem para o mundo da tecnologia.”
No 1º ano, o Women in Tech ajudou a aumentar a proporção de mulheres trainees em posições de tecnologia de 26% para 46%. Em 2022, foram 36% e, no ano passado, chegou ao marco de 73% de mulheres contratadas pela iniciativa.
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Inteligência artificial
A empresa também lançou uma competição global em inteligência artificial para incentivar a aprendizagem numa área que vem crescendo exponencialmente. São 21 países participantes e o Brasil tem 22 equipes, o maior número globalmente.
A ideia surgiu depois do anúncio da EY de um investimento de US$ 1,4 bilhão em inteligência artificial, e o lançamento da plataforma EY.ai. “A EY vai treinar 100% dos funcionários em IA nos próximos dois anos. Precisávamos colocar as mulheres como protagonistas desse movimento.”
Especialistas já apontam que os avanços da inteligência artificial podem ser ofensores para a maior presença de mulheres e outros grupos minorizados no mercado de trabalho. “Nem todos os trabalhos serão substituídos pela IA, mas os que são repetitivos, como atendimento ao cliente, em que a maioria dos profissionais são mulheres, serão afetados.”
Hoje, Andrade tem como desafio aportar tecnologia em todos os seus projetos e promover a ascensão de outras mulheres. O caminho ainda é longo. Até 2023, as mulheres representavam 25,38% de todos os sócios da consultoria. A meta é atingir 30% de mulheres em posições de alta liderança até 2025.
No ano passado, a empresa se tornou a primeira entre as maiores de auditoria do mundo a nomear uma mulher, Janet Truncale, como CEO global. “O poder de referência é mágico. Ela tem as mesmas inseguranças e dificuldades e mostra que também posso chegar lá.”