Ao voltar de um evento para mulheres na tecnologia, Auana Mattar, CIO da TIM, precisou explicar para sua filha adolescente por que os homens não haviam sido convidados. “Para ela, não fazia sentido”, lembra a executiva, primeira mulher na história da Telecom Itália (controladora da TIM) a liderar a área de tecnologia. Sua explicação envolveu a falta de representatividade feminina no setor e a necessidade de espaços para discutir desafios específicos das mulheres, que representam menos de 20% dos líderes de tecnologia no Brasil.
Com mais de 20 anos de carreira, a mineira tem acompanhado as evoluções tecnológicas e também das mulheres nesse mercado. No cargo desde 2019, está à frente de grandes cases de inovação da empresa, da implementação de inteligência artificial, migração dos data centers para a nuvem, aquisição da Oi e lançamento do 5G.
Auana respira tecnologia e está atenta às novidades, buscando um desenvolvimento sustentável e ético. “A IA pode ser a grande alavanca que a gente precisa para dar um salto e resolver vários problemas do Brasil”, diz, citando temas como mobilidade, violência, pobreza e clima. “Podemos criar projetos para mudar a vida da sociedade e que vão trazer mais negócios, dinheiro e pessoas. Tecnologia não falta.”
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Tecnologia e consciência humana
Nessa cadeira, Auana lidera mais de 500 profissionais de tecnologia. A empresa é a 3ª maior operadora do país, mas quer assumir a liderança do mercado – um processo que envolve, entre outras coisas, investimento na digitalização por meio da IA generativa. “Usamos IA para resolver problemas, focando especialmente nos feedbacks dos próprios usuários”, diz a CIO. Criada em 2020, a assistente virtual TAIS já teve mais de 158 milhões de interações e consegue uma média de 76% de assertividade. O uso da IA ajudou a reduzir em 30% o tempo médio de atendimento da operadora.
Desde o ano passado, a executiva é responsável por um comitê de inteligência artificial dentro da TIM. “A ideia é garantir que a gente abrace as oportunidades que vão impactar os resultados e as experiências dos clientes, olhando com muito cuidado o tema de proteção de dados.”
A IA ajuda a criar serviços e experiências cada vez mais personalizados, o que está nos planos da empresa. “Mas a visão do humano também é fundamental porque os clientes são muito diferentes”, diz. Em um país com proporções continentais como o Brasil, o nome da empresa ganha entonações diferentes a depender da região e do sotaque. “O futuro é combinar toda essa tecnologia com a consciência humana, para resolver problemas reais de pessoas reais.”
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Zigue-zague da carreira
Auana passou por diferentes fases do setor de telecomunicações e da TIM, abraçando oportunidades que a ajudaram a chegar à posição atual. Durante a licença-maternidade da sua primeira filha, decidiu ir para o marketing, onde ficou por quase cinco anos. “Foi muito difícil porque meus liderados sabiam mais do que eu. Mas foi a melhor coisa que eu fiz na carreira.”
Sair da zona de domínio ampliou seu olhar e trouxe humildade, além de ter sido importante para conseguir a cadeira. “A passagem pelo marketing fez diferença, mas também tenho muita visão de negócio e foco na execução.”
Ser mulher no corporativo
Única mulher entre os três finalistas no processo para a posição de CIO, Auana acredita que as mulheres conseguem ter mais abertura com os times, quebrar a hierarquia e usar a vulnerabilidade a favor da equipe. “Sei que é paradoxal, mas acho uma grande vantagem ser mulher nessas horas”, diz. “O ego afeta os homens. A mulher tem mais facilidade de trabalhar num ecossistema, não em um ‘egossistema’”.
Parte disso é reconhecer a importância de uma rede de apoio, que é ainda mais relevante para as lideranças femininas, e do coletivo acima do indivíduo. “Eu digo que a melhor pessoa do time é a pior. Se alguém estiver em superprodução, alguém deve estar em subprodução.”
Para liderar centenas de pessoas e se colocar acessível à equipe, mesmo remotamente, comunicação é a chave. Apesar de ser muito técnica, Auana combina essa e outras habilidades mais “soft”, herdadas dos pais artistas, que a incentivaram a ter contato com a música, pintura e dança desde pequena.
Hoje, mãe de dois, tenta aproximar os filhos da agitada rotina profissional, da qual não abre mão. “Eu seria infeliz sem a minha carreira. É tão importante quanto meus filhos”, diz. “Meu maior medo é ser improdutiva. Pretendo trabalhar até morrer.”
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A coluna Minha Jornada conta histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.