Para muitos, Kenya Sade ascendeu na TV Globo da noite para o dia. Conhecida por seu carisma como apresentadora das últimas edições de festivais como Rock in Rio, Lollapalooza e The Town, a jornalista viralizou com entrevistas internacionais e subiu mais um degrau na televisão ao vivo ao apresentar o show da Madonna no Rio de Janeiro, em 4 de maio, ao lado de Marcos Mion. Com 31 anos, mais de dez de carreira, ela vem construindo uma trajetória de planejamento e dedicação muito antes de estourar na maior emissora da América Latina.
Kenya não tinha planos de trabalhar frente às câmeras quando escolheu a profissão de jornalista. “Não cresci com muitas referências de mulheres negras na tela, então achava que aquilo não era para mim”, diz. Por pouco, a apresentadora não cursou direito, mas a paixão pela comunicação falou mais alto.
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Início na TV
Em 2013, ingressou na Cásper Líbero e pulou de estágios em redações de revistas até conseguir uma vaga na TV Cultura, em 2015, que mudou seus rumos. “Meu chefe foi a primeira pessoa que viu que eu tinha talento na tela”, conta. Aos poucos, a jornalista ganhou cada vez mais espaço e destaque em matérias de rua e hard news, mas acabou se encantando pelo universo da cultura durante a passagem pelo veículo.
Para desbravar os novos caminhos, Kenya precisou superar a autossabotagem enquanto descobria sua autoconfiança. “Sendo uma mulher preta, quando a gente entra nesse mercado de trabalho, não somos tão encorajadas quanto os homens. Em toda a minha vida, foram muitos desafios, mas eu soube perpassá-los.”
Após dois anos na TV Cultura, a apresentadora deixou o veículo com uma meta na cabeça: viajar o mundo. Em 2018, Kenya juntou as economias e resolveu passar um ano e meio na Irlanda para aprimorar seu inglês. “Queria me descobrir e me entender no mercado de trabalho.”
A jornalista, que também fala espanhol e um pouco de francês, aproveitou a mudança de ares para conhecer outros países da Europa. Foi na França que encontrou uma oportunidade para a carreira. No lançamento do livro “Quem Tem Medo do Feminismo Negro”, de Djamila Ribeiro, ela se conectou com profissionais da TRACE, uma das maiores plataformas de cultura afro-urbana do mundo.
Em busca de trabalhar com propósito, voltou ao Brasil e garantiu um emprego no primeiro canal afro-centrado do país, onde passou três anos como curadora musical, apresentadora e podcaster. Um dos programas com a jornalista, o Trace Trends, era exibido na grade do Multishow, e foi com ele que Kenya chamou a atenção da Rede Globo.
Turning point
A jornalista foi convidada para um teste no canal de música da emissora e conseguiu um espaço para apresentar o Lollapalooza 2022. “Sabia que aquilo poderia mudar a minha vida. Tinha certeza de que aquela era a minha chance.”
Depois de um ano como apresentadora de diversos festivais, Kenya Sade começou a migrar para a TV aberta. Viralizou com entrevistas com nomes internacionais como Viola Davis e Demi Lovato, apresentou a quarta temporada do The Masked Singer ao lado de Ivete Sangalo e estourou no show da Madonna. “Foi aí que eu furei ainda mais essa bolha para que as pessoas me conhecessem.”
Apesar de ter ganhado credibilidade entre o público, para ela, o sucesso não está atrelado apenas à trajetória profissional. “Tem muita gente que fala que eu ascendi muito rápido, mas essas pessoas não conhecem a minha história.”
Para Kenya, a carreira de sucesso começou com as oportunidades dadas por sua mãe. “Essa trajetória começou com ela, que se formou em economia, criou uma filha poliglota, pagou colégios particulares, me ajudou em viagens e acreditou em mim.“
Além da inspiração, a apresentadora destaca outra pessoa que foi peça-chave na sua carreira: Glória Maria. “Ela abriu a estrada para que eu pudesse chegar aonde estou hoje”, diz. Com cada vez mais mulheres pretas ganhando espaço na televisão, Kenya celebra o fato de não estar sozinha nessa jornada. “Estamos inaugurando esse lugar de termos apresentadoras pretas no entretenimento brasileiro.”
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No melhor momento da sua carreira, que ainda está no início, Kenya Sade já tem na mira onde quer chegar. A jornalista guarda o sonho de ter seu próprio programa de entrevistas com grandes nomes no entretenimento, além de, quem sabe, entrevistar sua ídola do pop, Beyoncé. “Estou fazendo o meu nome como referência em cultura e música.”
Apesar da inclinação internacional, quer expandir sua atuação no Brasil, pelo menos por enquanto. “Agora, estou 100% focada na TV brasileira e no meu povo.”