O caminho para a liderança no ambiente de trabalho pode ser solitário para as mulheres, especialmente para as mulheres negras. Ser a única na sala de reunião, no escritório e até mesmo na empresa faz parte da jornada de muitas profissionais. “Me faltou ter referências e pessoas com quem eu pudesse conversar e que não duvidassem de mim. Sei o que é essa dor”, afirma a advogada Dione Assis.
Bacharel e mestre em direito pela Fundação Getulio Vargas, Dione criou em 2022 a solução para esse sentimento que acompanhou sua carreira: o Black Sisters in Law, grupo que reúne mais de 5000 advogadas negras pelo Brasil e o mundo. “A gente se entende muito porque a história se repete. É a primeira da família a entrar na faculdade. A única mulher negra da turma e no trabalho.”
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Segundo estudo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de abril deste ano, pessoas pretas e pardas constituem 33% do total de profissionais no direito. E as mulheres são maioria (50%) entre os advogados do país. No Brasil, 55,5% da população é negra e 51,5% são mulheres, de acordo com o Censo de 2022. “O recorte racial passou a ser adotado a partir de 2011 em pesquisas da OAB, então não temos o número correto de advogadas negras. Mas acredito que deve haver em torno de 200 mil de nós.”
De 50 para 5000
Iniciativa pioneira no mundo, o Black Sisters in Law é responsável por reunir, conectar e impulsionar as carreiras de advogadas negras. “Eu não criei essas advogadas, elas já estavam aí. Mas o mercado teima em não dar visibilidade.”
Hoje, marcas como Ifood, L’Óreal, Uber, Ambev e Bayer contratam serviços jurídicos das integrantes do grupo. “A BLS pretende ser um grande canal de comunicação entre as profissionais e as empresas.”
O crescimento exponencial em apenas dois anos não foi uma surpresa para Dione Assis. O que começou como um grupo de Whatsapp com 50 pessoas, cresceu 100 vezes e atendeu uma necessidade crescente nas carreiras das advogadas negras: a conexão. “É uma explosão de felicidade ver que você não está sozinha nesse mercado.”
Em fevereiro de 2024, o grupo apresentou a premiação Best Sisters in Law, que contou com uma cerimônia presencial para homenagear as integrantes do projeto. Foram 115 finalistas, 18 vencedoras em diferentes categorias e um júri de 57 mil pessoas que votaram via link compartilhado nas redes sociais. “O que mais importava não era a vitória, e sim dar essa visibilidade para elas.”
Oportunidades profissionais
Mesmo depois de passar pela faculdade e a prova da OAB, as advogadas não estão ilesas dos desafios enfrentados na profissão. “Colegas fazem audiências por R$ 20. Outras não conseguem viver apenas da advocacia e trabalham como babás, garçonetes e diaristas para sustentar a família”, diz Dione, que atua na Galdino & Coelho Advogados. “Essas atividades são dignas, mas você não precisa ter faculdade ou a prova da OAB.”
O grande objetivo do grupo é conectar as advogadas com oportunidades de trabalho efetivas na advocacia. No início, Dione defendia que as empresas deveriam contratar os serviços do grupo como um projeto de impacto social. “Hoje, nós estamos sendo procuradas pelo nosso nível de excelência.”
Além dos contratos fixos estabelecidos com empresas parceiras, a Black Sisters in Law é uma rede de apoio 24h via grupo no WhatsApp. E também oferece acesso a oportunidades de trabalho, eventos, apoio técnico jurídico e imersões.
Metas globais
Entre mulheres formadas há mais de 30 anos e outras que estão estudando para entrar na área, a Black Sisters in Law conta com profissionais espalhadas pelo Brasil e por países como Estados Unidos, Angola, Moçambique, França e Canadá. “Estamos trabalhando para o grupo ser ainda mais global.”
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Em agosto, Dione Assis recebeu a medalha Evandro Lins e Silva, honraria concedida em reconhecimento a advogados que se destacam por suas contribuições para a advocacia. A conquista é mais uma confirmação do potencial que o grupo espera alcançar. “Não uso a palavra sonho. Sempre associei sonho a algo distante e irrealizável. Nada que eu coloco na minha cabeça é irrealizável. Vai levar o tempo que for, mas vou fazer acontecer.”