Nos últimos tempos, é evidente que a diversidade no mercado, na moda e nas empresas está passando por um retrocesso. Isso ficou ainda mais claro para nós na última edição do BODY, evento que está em sua terceira edição, organizado por mim, Carol Veras e a Holding Clube, que, historicamente, celebra a inclusão, a representatividade e a diversidade em suas múltiplas formas.
Captar patrocínios para eventos dedicados a debater pautas relacionadas à diversidade nunca foi fácil, mas mais recentemente voltou a se tornar uma tarefa ainda mais árdua, com menos empresas dispostas a investir em uma pauta que, até pouco tempo atrás, era motivo de orgulho corporativo. Muitas marcas parecem estar pisando no freio, deixando claro que o comprometimento com a diversidade ainda está sujeito às pressões e tendências do mercado.
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Esse movimento também coincide com o ataque crescente ao chamado movimento “Woke”, um termo inicialmente associado à conscientização social e ao apoio às minorias, mas que, recentemente, vem sendo distorcido e usado de forma pejorativa.
A prática de abraçar causas relacionadas à diversidade, que era vista como um diferencial positivo, passou a ser interpretada, por alguns setores, como “oportunismo”, “progressismo em excesso”, “radicalismo” ou “modismo”. Esse ataque ao movimento woke – em grande parte vinda de movimentos políticos reacionários ao redor do mundo – fez com que grandes avanços retrocedessem.
Inicialmente, o movimento woke surgiu para despertar uma consciência social mais ampla, incentivando o apoio às minorias e uma revisão de práticas institucionais de exclusão. Mas, de acordo com pesquisas recentes, esse entusiasmo em torno do tema vem perdendo força.
Estudos como o da Morning Consult, divulgados nos EUA, mostram que o movimento woke vem sendo progressivamente associado a uma imagem de “excesso” e até como “superficialidade”, especialmente para consumidores que já manifestam uma saturação em relação às mensagens de inclusão que, em alguns casos, não pareciam suficientemente autênticas. Como resultado, o movimento woke começou a ser visto como uma prática de “virtue signaling” (ou sinalização de virtude), o que leva muitas empresas a temer que suas ações sejam interpretadas como estratégias de marketing oportunistas. Tudo fruto de uma grande batalha de narrativas, onde todos perdem.
Até mesmo no mundo da moda, que é um termômetro importante de entendimento de tendências, o retrocesso na diversidade das passarelas é particularmente visível. Após alguns anos de tímido avanço, em que se ensaiou uma inclusão maior de corpos diversos e modelos de diferentes corpos e idades, as grandes semanas de moda voltaram ao padrão quase exclusivo de modelos extremamente magras e jovens. Esse retorno representa uma grande perda para um setor que havia começado a refletir a pluralidade do público consumidor e a desconstruir padrões de beleza excludentes.
A diversidade física nas passarelas não só legitima o discurso de representatividade da moda, mas também inspira aceitação e valorização de corpos variados. Hoje, ao priorizar novamente um padrão restritivo, as semanas de moda acabam reforçando antigos estereótipos e enfraquecendo o movimento por uma indústria mais inclusiva e conectada com a realidade de seus consumidores.
Esse cenário apresentado aqui representa uma ameaça à diversidade em si, à inclusão e a todo o progresso que conquistamos nos últimos anos. Em um contexto em que os consumidores buscam autenticidade e propósito, as empresas precisam entender que a inclusão não pode ser tratada como uma moda passageira. É um compromisso genuíno e de longo prazo. Retroceder nessas pautas é optar por um futuro menos diverso e representativo.
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Juliana Ferraz é sócia da Holding Clube e tem quase 30 anos de carreira no universo da comunicação e eventos no Brasil.
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