A pesquisadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luisa Brant trabalha para melhorar a saúde por meio da tecnologia. Ela lidera um projeto voltado ao desenvolvimento de um aplicativo móvel para acompanhar pacientes após a alta hospitalar, com foco no tratamento de insuficiência cardíaca – a principal causa de internações por doenças cardiovasculares no Brasil. “Queremos otimizar o tratamento com intervenções e medicamentos comprovados, mas precisamos ampliar e melhorar o acesso à saúde para que as pessoas que precisam, usem”, diz Brant.
Esse trabalho rendeu o prêmio Para Mulheres na Ciência, iniciativa do Grupo L’Oréal em parceria com a UNESCO e a Academia Brasileira de Ciência, que premiou sete cientistas brasileiras com uma bolsa de R$ 50 mil. “Espero que chame a atenção para as possibilidades da saúde digital e do desenvolvimento da ciência pensando no futuro.”
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O aplicativo surgiu a partir de um projeto desenhado pela pesquisadora em conjunto com cinco universidades americanas e liderado pela Stanford University. “Nos reunimos semanalmente durante um ano para desenvolver o app”, relembra Brant. Depois de definirem o formato e o conteúdo, cada universidade fez adaptações para suas necessidades específicas. Agora, o objetivo é testar o aplicativo e analisar as diferenças entre as populações brasileira e americana, além de comprovar sua eficácia no tratamento da insuficiência cardíaca.
Saúde e tecnologia
Desenhada para os pacientes do Sistema Único de Saúde, a versão brasileira do app conta com um pilar educacional. Além de vídeos curtos sobre a doença, remédios e estilo de vida, os pacientes recebem recomendações de dietas focadas em alimentos disponíveis no Brasil e atividades físicas que fazem parte do dia a dia. “Usamos uma linguagem acessível e sugerimos hábitos possíveis dentro da realidade desses pacientes. Não adianta falar para comer azeite.”
Os usuários recebem uma balança e um aparelho de medição de pressão por bluetooth para acompanhar sua evolução em gráficos no app. A plataforma também conta com um chat com enfermeiro disponível no horário comercial para tirar dúvidas. O acompanhamento é feito por meio de teleconsultas em um intervalo de 15 dias, nas quais o médico pode ter acesso aos dados coletados pelo aplicativo.
Para o projeto, Luisa Brant lidera uma equipe de 12 profissionais, além de contar com a ajuda de um consultor e uma amostra de 154 pessoas para comparar a evolução do tratamento entre usuários e não-usuários.
Após a alta hospitalar, os pacientes selecionados utilizam o app ao longo de três meses. Posteriormente, a equipe analisa os dados para entender se o aplicativo é eficaz no tratamento da doença.
Se o resultado for positivo, a professora sonha em ir além. “A ideia é ser algo nacional. Quero que o app possa ser aproveitado para o tratamento de várias doenças crônicas.”
A pesquisa deve ser finalizada no final de 2025, e pode abrir caminhos para a utilização da tecnologia na saúde do país. “A saúde digital é o futuro. Ela não é um substituto, mas pode ser muito útil quando usada de forma complementar.”
Prêmio para Mulheres na Ciência
Além de Luisa Brant, outras seis pesquisadoras foram premiadas no Para Mulheres na Ciência de 2024 no dia 27 de novembro. As laureadas ainda receberam um prêmio em dinheiro no valor de R$ 50 mil.
Desde 2006, a iniciativa premia anualmente sete brasileiras com projetos científicos em diferentes áreas, como ciências da vida, física, química e matemática. Ao longo desses 19 anos, mais de 120 pesquisadoras já foram reconhecidas.
Confira, a seguir, as outras seis vencedoras do prêmio Para Mulheres na Ciência de 2024
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Luis Madaleno Raquel Aparecida Moreira
Formada pela Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, a bióloga vai investigar o impacto de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos nos organismos dos ecossistemas aquáticos. Sua hipótese sugere que, assim como esses medicamentos afetam o comportamento humano, também podem influenciar o de animais aquáticos, alterando seus padrões de natação e a maneira como interagem uns com os outros e com o ambiente.
Raquel vai investigar se, ao utilizar esses medicamentos, peixes e crustáceos mudam a forma como reagem a ameaças, como a presença de um predador. E também se após exposição prolongada, esses animais desenvolvem dependência química aos compostos estudados.
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Luis Madaleno Marcele Fonseca Passos
Professora da Universidade Federal do Pará, Marcele está em busca de um tratamento alternativo para a prevenção de infecções bacterianas em feridas, como a leishmaniose cutânea. A pesquisadora estuda o desenvolvimento de curativos que sejam eficazes e fáceis de trocar sem causar dor ao paciente. Com a ajuda da nanotecnologia e da bioimpressão 3D, a cientista quer preparar as substâncias para a aplicação em curativos tridimensionais inteligentes, que imitam tecidos biológicos e permitem a liberação controlada da medicação no local da ferida.
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Luis Madaleno Manuela Sales Lima Nascimento
A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte vai investigar a infecção congênita causada pelos agentes da sífilis e da toxoplasmose. A pesquisa pioneira tem como objetivo avaliar se essas infecções causam alterações no sistema imunológico de bebês.
A hipótese sugere que a exposição intrauterina a agentes infecciosos pode remodelar a resposta imunológica das crianças, resultando em diferentes graus de imunorregulação ou imunocomprometimento.
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Luis Madaleno Fernanda Rodrigues Soares
A professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro vai desenvolver um teste genético adaptado ao perfil da população brasileira. O objetivo é orientar o tratamento de pacientes com doença coronariana.
A adaptação visa identificar as chances de os pacientes responderem ao clopidogrel – medicamento utilizado após a cirurgia de angioplastia para prevenir a formação de coágulos. Para isso, Fernanda vai coletar dados genéticos e clínicos de pelos 500 pacientes que passaram pelo procedimento. -
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Luis Madaleno Carolina Loureiro Benone
A professora da Universidade Federal do Pará quer desvendar buracos negros “cabeludos” e suas propriedades. A pesquisadora ainda vai investigar a estabilidade de um tipo particular de estrela, chamada estrela de bósons.
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Luis Madaleno Larissa Ávila Matos
Formada em estatística pela Universidade Estadual de Campinas, Larissa quer desenvolver métodos estatísticos para lidar com situações em que os dados não são perfeitos. Por exemplo, quando há informações faltando, dados distorcidos ou equipamentos médicos que não conseguem quantificar valores acima ou abaixo de certos limites.
Raquel Aparecida Moreira
Formada pela Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, a bióloga vai investigar o impacto de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos nos organismos dos ecossistemas aquáticos. Sua hipótese sugere que, assim como esses medicamentos afetam o comportamento humano, também podem influenciar o de animais aquáticos, alterando seus padrões de natação e a maneira como interagem uns com os outros e com o ambiente.
Raquel vai investigar se, ao utilizar esses medicamentos, peixes e crustáceos mudam a forma como reagem a ameaças, como a presença de um predador. E também se após exposição prolongada, esses animais desenvolvem dependência química aos compostos estudados.