Quando Michelle Kennedy teve seu primeiro filho, não tinha amigas passando pela mesma situação e precisou buscar conselhos na internet. O ano era 2017, e já havia todo tipo de aplicativo disponível, para transporte, compartilhamento de fotos e relacionamentos amorosos, mas não para a maternidade.
Na época, o que encontrou sobre o tema não a agradou na forma nem no conteúdo. Não correspondia à realidade da executiva, que liderava o aplicativo de namoro Badoo, avaliado em bilhões de dólares, e era membro do conselho do Bumble. “Durante o dia, eu trabalhava com esses produtos fantásticos e inovadores, e à noite, ficava rolando a internet em busca de conselhos sobre a maternidade”, lembra. “Parecia totalmente errado e eu precisava mudar isso.”
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Foi assim que decidiu deixar as empresas – mas continuar no conselho de ambas –, para criar a Peanut, rede social que chega ao Brasil nesta terça-feira (28), depois de atuar como o “Tinder para mães”, nos Estados Unidos, no Reino Unido e México. Escolher o país como próximo destino partiu, de um lado, de uma pesquisa de mercado e, do outro, de pedidos de potenciais usuárias. “A decisão foi impulsionada por uma enxurrada de mensagens de mulheres da América Latina pedindo que o aplicativo fosse disponibilizado.”
Com base em localização e interesses, como estágio de vida e amigas em comum, o algoritmo da Peanut conecta as usuárias. O app foi lançado inicialmente pensando em mulheres grávidas, como Kennedy à época, mas agora também tem grupos voltados para mulheres em todas as fases da vida — incluindo, mais recentemente, aquelas passando pela menopausa. Com 2,5 milhões de usuários, o app quase triplicou o número de usuários ativos diários no último ano. “Quero que mulheres da mesma família, cada uma de uma geração, usem o Peanut e tenham um motivo para estar lá.”
Com mais de 3 milhões de mulheres ativas mensalmente, a Peanut levantou mais de US$ 30 milhões em investimentos e recebeu o prêmio Trend of the Year da Apple em 2021.
Como funciona o Peanut
O funcionamento da rede social é semelhante ao de aplicativos de relacionamento. As usuárias podem se conectar enviando um “aceno”, deslizando o perfil da outra, e quando há correspondência, a conversa pode começar. Além disso, a rede conta com grupos temáticos e conversas ao vivo em áudio com especialistas e outras mulheres com interesses semelhantes. Os tópicos mais populares incluem sexo pós-parto, sinais de trabalho de parto, saúde mental e mudanças no corpo.
Em 2024, o Peanut registrou mais de 80 milhões de acenos, 8 milhões de conexões e 60 milhões de mensagens trocadas. Nos EUA e no México, as usuárias passam até uma hora por dia no app, fazendo em média sete novas amizades na primeira semana. 98% delas se sentem seguras e apoiadas na plataforma, mais até do que nos grupos de WhatsApp de mães.
A rede também tem uma nova ferramenta para acompanhar a gestação. O Peanut Track utiliza sete anos de dados coletados das perguntas feitas na rede social e usa inteligência artificial para antecipar as dúvidas que as mulheres têm durante os diferentes estágios da gravidez. Ela oferece conteúdos informativos e orientações sobre bem-estar, além de comparar o tamanho do bebê com frutas e listar os sintomas mais comuns em cada fase. O recurso também conecta mulheres que estão no mesmo estágio da gestação
O Brasil como novo destino
Antes de trazer o app para o Brasil, Kennedy e sua equipe analisaram o mercado, contanto com a a ajuda de usuárias que testaram a plataforma para traduzir para o público brasileiro – tanto literalmente quanto em relação ao tom e às estratégias de marketing. “Sabemos o quanto as mulheres brasileiras valorizam o que estamos trazendo, com base nas pesquisas que fizemos no país para entender como apoiar as mulheres.”
“As dificuldades em torno da maternidade ainda são muito tabu no Brasil, e isso contribui para sentimentos de solidão, isolamento e depressão”, diz uma das participantes da fase de testes do aplicativo no Brasil.
A Peanut começará sua operação no Brasil com a equipe global e, após o lançamento, buscará expandir o time local. “As mulheres precisam de comunidade, apoio e expertise, e estamos animadas para trazer isso ao Brasil”, afirma a CEO.