Às vésperas de completar seu sexto ano de existência, o comitê de profissionais negros do Google inaugura sua próxima fase, com a conscientização e educação de colaboradores não-negros sobre justiça racial como uma de suas prioridades.
O AfroGooglers é um grupo que engloba mais de 150 funcionários da operação da empresa no Brasil, um número que saiu do zero, desde que Christiane Silva Pinto, gerente de marketing da empresa, tomou a frente da versão brasileira da iniciativa, que já existia anteriormente nos Estados Unidos.
O comitê é uma resposta ao racismo estrutural, problema refletido em diversas áreas da sociedade, especialmente no mundo do trabalho. Apesar de os negros representarem a maioria da população brasileira (55,8%), são minoria entre os cargos gerenciais (11,9%) e ocupam 45,3% dos cargos com salários mais baixos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo Christiane, o AfroGooglers se posiciona na contramão da “afroconveniência”, em que organizações se beneficiam de uma suposta promoção da inclusão racial para atender a seus próprios interesses – mas não colocam isso em prática e ainda reforçam o preconceito. O movimento também propõe uma abordagem inversa à situações corporativas onde pessoas negras não têm plena participação em iniciativas relacionadas a elas próprias.
“A liderança e a vivência de profissionais negros traz coerência para iniciativas como essa, que impactam diretamente no negócio e na sustentabilidade da empresa, bem como no dia a dia interno do profissional negro”, diz Christiane.
O propósito do grupo é, primeiramente, oferecer um espaço seguro em que colaboradores negros possam se encontrar, trocar experiências e buscar apoio para diversas questões profissionais e pessoais. Segundo Christiane, que começou na empresa como estagiária de recursos humanos em 2013, a atração de pessoas negras para o Google é importante, mas a retenção também é crucial e o comitê oferece recursos para que elas queiram permanecer.
“Em muitas empresas, a conversa institucional [sobre inclusão racial] fica parada na contratação, mas a retenção é muito importante”, ressalta. “Comitês como o nosso ajudam muito, não só em termos de mostrar a importância dessas pautas mas também a trazer este clima para a empresa, [falar] sobre o que está funcionando e construir um impacto no negócio de forma genuína.”
GARANTINDO REPRESENTATIVIDADE
O trabalho do AfroGooglers inclui iniciativas para incentivar o mercado, a comunidade negra e também projetos internos. Na primeira frente, um exemplo é o projeto A Voz e a Vez, que discutiu a diversidade na indústria publicitária no Brasil e foi realizado em parceria com o Instituto Feira Preta, com com 139 participantes de 87 empresas, agências de publicidade, grupos comunitários e associações. Segundo Christiane, o Google também tem buscado trabalhar para garantir a representatividade e a inclusão de pessoas negras, particularmente mulheres, em suas campanhas de marketing.
Os AfroGooglers também procuram atender as demandas da comunidade. Em 2018, o comitê co-liderou uma edição especial para mulheres negras do programa WomenWill, de treinamento de mulheres em habilidades digitais, que opera sob o guarda chuva do Cresça com o Google, liderado pela área de marketing. O grupo também trabalhou em uma iniciativa de treinamento intensivo sobre marketing digital e produtos do Google, que buscou criar novas habilidades e oportunidades para jovens negros no mercado de publicidade e operou entre 2015 e 2018 antes de ser absorvido pelo Cresça com o Google no ano passado.
Há também um braço de recursos humanos, que, segundo a líder do AfroGooglers, aumentou o escopo ano passado para responder ao déficit de profissionais negros na empresa. Christiane foi uma das lideranças envolvidas no Next Step, programa de estágio focado em jovens negros que retira a fluência em inglês e treina os selecionados no idioma, entre outras qualificações. A frente de iniciativas internas agora expande sua atuação para tratar de outras questões, como promoção dos colaboradores existentes, bem como de saúde mental.
Outras formas em que o comitê exerce sua influência incluem a oferta de expertise dos integrantes do grupo, que se envolvem em projetos internos e externos que buscam desenvolver estratégias de inclusão, conta a fundadora do comitê. “Esses agentes garantem que iniciativas sejam coerentes com as vontades, necessidades e esperanças da comunidade negra”, aponta.
Um dos problemas de empresas de tecnologia – e particularmente entre as Big Techs – é a predominância da “branquitude” na liderança. A falta de negros no Google de forma geral é notória, tanto em posições sêniores quanto em outros níveis hierárquicos, mas Christiane convida os críticos a fazer uma reflexão mais ampla.
“Quando falamos de liderança negra, falamos de uma geração de pessoas que veio antes das cotas raciais nas universidades e é, de fato, algo ainda difícil de encontrar”, constata. “Mas essa é uma questão que vai além do Google: o racismo estrutural é algo que devemos discutir como a sociedade.”
TRAZENDO ALIADOS
Além de suas diversas atividades para a comunidade negra, o AfroGooglers também funciona como um fórum de aprendizado para as pessoas não-negras, os chamados aliados. Segundo Christiane, equipar pessoas brancas para combater o racismo é o tema de muitos treinamentos ministrados por ela e é um fator fundamental do sucesso inicial do grupo.
“Se não tivéssemos tido aliados, o comitê não teria começado, pois precisávamos de mãos para fazer tudo acontecer e eu era a única pessoa negra”, conta. “O AfroGooglers é um exemplo claro de como a gente precisa do engajamento de pessoas não-negras para mudar o racismo no Brasil.”
Christiane argumenta que as pessoas brancas da atualidade não são culpadas pelo que aconteceu há 200 anos, mas continuam vivendo privilégios e se beneficiando de realidades que são frutos desse histórico de desigualdade racial – e, ao mesmo tempo, pessoas negras continuam vivendo uma realidade nefasta, que também é fruto destas práticas estabelecidas.
“Pessoas não-negras precisam entender que o racismo não é um problema do negro, mas sim um problema da humanidade, e sobre a necessidade de uma reparação histórica, que traz benefícios para todos”, afirma. A líder do AfroGooglers, jornalista de formação, também ressalta que essa mudança de paradigma é necessária não só para que negros sejam incluídos, mas para que pessoas brancas vivam em um mundo com mais diversidade de opiniões, perspectivas e para que a economia seja mais próspera.
Sofisticar o debate sobre como não-negros podem endereçar o racismo orienta a pauta do grupo neste ano, segundo Christiane. O objetivo é apoiar a jornada dos aliados para além da ótica individual, e começar a questionar e combater práticas racistas da sociedade.
“Avançamos muito no comitê com os aliados, partindo de pontos que podem ir de uma compreensão baseada no mito de que não existe racismo até entender que a sociedade é racista e o que é possível fazer para mudar isso”, aponta. “Hoje, não basta não ser racista: é preciso ser anti-racista.”
Exemplos das discussões que acontecem no AfroGooglers com aliados incluem temas como consumo de conteúdo produzido só por brancos, bem como a necessidade de conscientizar colegas sobre o significado negativo de usar expressões como “denegrir”, ou descrever uma mulher negra como “mulata”. Além disso, aliados atuam como voluntários no treinamento de profissionais negros e na criação de oportunidades de desenvolvimento e criação de espaços na organização.
No entanto, tornar-se um aliado eficiente é um processo, que inclui encarar uma série de limitações e padrões estabelecidos. Christiane conta que não-negros invariavelmente esbarram no medo da própria ignorância e de cometer erros durante o re-posicionamento. O comitê busca tratar estes pontos com um engajamento pragmático.
“Mesmo quando uma pessoa [aliada] estuda e aprende muito, ela ainda pode falar errado, pois a nossa sociedade é racista e a gente não parte do mesmo lugar. A pessoa vai errar, vai ser desconfortável, e ser anti-racista é justamente estar preparado para isso, ter a humildade de pedir desculpas e a opinião de uma pessoa negra, ceder visibilidade”, conta.
Esse último passo da jornada, de ser anti-racista, é muito difícil para não-negros, segundo Christiane, pois ainda faltam exemplos a serem seguidos. “Mas, felizmente, já vemos pessoas entendendo o tema melhor e trazendo mais referências sobre como pessoas brancas podem ser aliados melhores nessa jornada”, ressalta.
“Vamos trabalhar ainda mais o diálogo e ajudar os aliados, para que possam sair do medo paralisante, ali da zona de conforto, e vir para o desconforto, transformando seus aprendizados em ação.”
Trens Hyperloop possíveis só em 2040
O primeiro trem de passageiros de alta velocidade baseado no conceito Hyperloop parece possível só daqui a duas décadas, pois o modelo ainda vai precisar de um desenvolvimento considerável para se tornar economicamente sustentável.
Esta é a conclusão de um novo estudo sobre o modelo, publicado pela Lux Research. O argumento é que, apesar do entusiasmo em torno do projeto de código aberto criado pelas empresas de Elon Musk, e do papel que poderia desempenhar na descarbonização do trânsito, o conceito permanece não comprovado. Além disso, existe uma série de questionamentos sobre a sua viabilidade econômica.
O Hyperloop difere do trem em trilhos convencional porque opera em um sistema de vácuo que reduz o coeficiente aerodinâmico, com trens levitando magneticamente em tubos, permitindo velocidades mais altas e maior eficiência energética. Mas existem diversos desafios a transpor, em particular no que diz respeito a elementos de design como a estrutura dos “pods”, cápsulas onde os passageiros viajarão, bem como os mecanismos de propulsão e levitação dos pods, e o design das estações.
Segundo a Lux Research, o design de cápsulas é a área que mais cresce em termos de patentes solicitadas por projetos que trabalham com o conceito Hyperloop, cujo foco é resolver questões relacionadas aos espaços compactos e fechados, sem janelas, o que pode aumentar a probabilidade de os clientes ficarem enjoados nas viagens super rápidas.
Um dos maiores desafios técnicos do projeto identificados no estudo, no entanto, será identificar a pressão ideal do tubo em que o trem viajará e minimizar vazamentos do sistema de vácuo, que, se maiores que o esperado, pode aumentar custos operacionais e impactar o capital inicial para a construção do projeto, bem como reduzir as velocidades máximas. A Lux argumenta que, como os projetos Hyperloop propostos tem estimativas cada vez elevadas em termos de custo por milha, e as principais variáveis nos custos operacionais são desconhecidas, as iniciativas estão longe de provar sua viabilidade econômica.
Como saberemos que os trens de alta velocidade estão próximos de se tornarem realidade? Segundo o estudo, indicadores importantes para ficar de olho incluem o desenvolvimento de linhas de teste de alta velocidade e em grande escala com o apoio de governos, tanto financeiramente quanto no desenvolvimento regulatório de projetos Hyperloop. Por conta destas diversas variáveis, a Lux prevê que os primeiros projetos de alta velocidade deste tipo com foco no transporte de passageiros não entrarão em operação antes de 2040.
Ministro dá “cotoveladas” sobre uso de dados celulares na pandemia
O Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Marcos Pontes, declarou ontem (13) em mídias sociais que o uso de dados de celulares no combate à pandemia do novo coronavírus não é uma iniciativa do governo federal, destacando preocupações sobre a privacidade dos cidadãos nos projetos em andamento no país.
A declaração do ministro segue as declarações de prefeituras e governos estaduais, que anunciaram a implantação de uso de informações georreferenciadas sobre mobilidade urbana em tempo real para mapear a adesão às orientações de isolamento social. A prefeitura de Recife e o governo estadual de São Paulo estão entre as autoridades que implementaram sistemas deste tipo, para detectar aglomerações, orientar políticas públicas de informação à população, como mensagens de texto que informam se o indivíduo está em uma região com altas taxas de casos de Covid-19. Os projetos ressaltam que a privacidade do cidadão é garantida, pois o monitoramento é realizado com base em dados coletivos de grupos com milhares de pessoas.
Pontes relata que o governo federal foi abordado pelas operadoras para uso de dados celulares para fins de avaliação de isolamento e previsão de propagação da epidemia. O ministro chegou a gravar um vídeo sobre o assunto que previa a implementação para a primeira semana de abril, mas o presidente Jair Bolsonaro determinou que a ferramenta não fosse usada antes de “análises extras pelo governo” sobre aspectos como privacidade de dados. O vídeo foi retirado das redes e a implementação suspensa.
O astronauta então segue com uma “cotovelada”: “O governo federal ainda não usou a ferramenta, que apenas será usada se análises garantirem a eficiência e a proteção da privacidade dos brasileiros”, ressalta, acrescentando que estados têm autonomia para fazer os acordos com as teles, mas que o governo federal não tem controle ou participação nestas tratativas.
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Mercado de veículos resiste a canais digitais, mas demanda deve crescer pós crise
Com operações paralisadas, lojas de veículos não têm se movimentado para aumentar o investimento em canais digitais durante a pandemia, mas a demanda por carros particulares deve crescer. É o que sugere uma pesquisa da plataforma InstaCarro com 279 lojas, em que 44,6% dos comerciantes disseram não ter intenção de investir em canais online e estão com o negócio fechado, esperando a crise passar.
Segundo a pesquisa, as vendas já estavam em declínio antes do início da quarentena, com 48,2% dos entrevistados dizendo que tiveram uma redução de 75% ou mais nas vendas no período anterior à pandemia. Entre as entrevistadas, somente 23,2% têm caixa para continuar a operação dessa forma nos próximos três meses.
O estudo cita dados adicionais sobre o mercado de carros pós-pandemia. As previsões, desta vez da empresa britânica de pesquisa Ipsos, mostram que consumidores buscarão adquirir carros particulares: a intenção de compra de um carro próprio antes da crise de saúde pública era de 34% e passou para 66% depois do alastramento global do vírus.
As previsões vão na contramão de tendências de consumo para o consumidor final traçadas semanas antes do alastramento do novo coronavírus: a empresa de pesquisa GlobalData previa, por exemplo, que as tendências que dominariam o mercado em 2020 seriam veículos conectados, autônomos, compartilhados ou elétricos (CASE, no acrônimo em inglês).
No mar de eventos ao vivo disponíveis durante a pandemia, a coluna ajuda com uma seleção de conteúdos que valem a pena conferir:
– Líderes do ecossistema de startups de Curitiba estarão presentes em um debate ao vivo sobre como estão lidando com a crise. Organizado pela Honey Island Capital, o painel conta com os CEOs Alphonse Voigt, da EBANX; Tiago Dalvi, da Olist; Daniel Scandian, da Madeira Madeira; Vitor Torres, da Contabilizei; Caio Bonatto, da Tecverde , e Alessio Alionço, da Pipefy. O debate, que será transmitido pelo YouTube e pelo Zoom, acontece amanhã (15), às 18h. O link para o Zoom é https://is.gd/824oCd e para o Youtube é https://is.gd/6RfBov;
– As perspectivas do mercado de venture capital no contexto durante e pós pandemia estarão em pauta em evento promovido pelo escritório TozziniFreire Advogados, em conjunto com a MSW Capital, gestora de corporate venture capital. O grupo de participantes inclui Raphael Braga, superintendente de empreendedorismo e investimento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); Victor Fonseca, gestor do ThinkFuture, programa de inovação da TozziniFreire, Carolina Strobel, sócia operacional da Redpoint eventures, Moisés Swirski, sócio-fundador da MSW Capital, e João Busin e Marcela Ejnisman, sócios da TozziniFreire. O debate acontece na quinta-feira (16), às 17h e o link para o Zoom é https://is.gd/SVt1LW.
A Buser, startup de fretamento colaborativo, está oferecendo viagens gratuitas para o fim da quarentena. Usuários da empresa, que está com operações pausadas durante a pandemia da Covid-19, podem se cadastrar online para pedir a passagem. Os usuários serão contatados quando as operações retornarem, com a disponibilidade para a reserva solicitada.
MAIS
– O Brasil está na lista dos países que mais tem registrado ciberataques relacionados à crise do novo coronavírus. Segundo pesquisa da Trend Micro, mais de 22,7 mil URLs de endereços de web maliciosos que tinham relação com a Covid-19 foram registrados durante o primeiro trimestre do ano. Os principais países identificados como alvos foram Estados Unidos (26,5%), Alemanha (13,3%), Reino Unido (10,4%), França (7,4%), Japão (5,6%) e Brasil (3,8%). As ameaças contidas nesses links incluíram principalmente a prática de phishing, onde ocorre o roubo de dados pessoais, que representa 56,7% dos ataques, segundo a empresa de cibersegurança. Os malwares, que envolvem o “contágio” do computador com softwares nocivos e que provocam danos representam a segunda ameaça mais frequente, com 34,3%. Os esquemas enganosos ou fraudulentos (scams), representam 7,5%;
– O Showlivre anunciou ontem (13) o ShowlivrePlay, uma plataforma de streaming de música ao vivo no formato pay-per-view, a partir de casas de shows e festivais. Os artistas poderão decidir se desejam tornar o conteúdo do show disponível para venda posterior, no formato on demand, assim como precificar as apresentações da forma que preferirem. A novidade estava prevista para ser lançada futuramente, mas foi antecipada por causa da pandemia, que impactou profundamente o show business. A plataforma estreia com a campanha #MúsicaSalva, que permitirá reverter a receita dos webshows não somente para o artista (50%), mas também para o Fundo Emergencial para a Saúde Coronavírus Brasil (50%). Estão previstos, entre outros artistas, Chico César e Ana Cañas. A compra dos “ingressos” será na plataforma. O fã poderá escolher entre três valores a contribuir, além de haver uma opção “sem custo”.
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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