O mês de julho traz boas notícias para a imobiliária digital QuintoAndar, cujos negócios estão retornando aos níveis anteriores à pandemia. Com mais de R$ 30 bilhões em ativos sob gestão, a empresa retoma sua agenda de expansão com novos modelos de negócio e contratações.
A startup, que já atraiu mais de R$ 1,5 bilhão em investimentos de grandes fundos como o SoftBank, mira o futuro depois de meses trabalhando para proteger o negócio e reduzir o choque da Covid-19 em seu ecossistema. Ações recentes incluíram o lançamento de um e-commerce gratuito para apoiar pequenos negócios, bem como linhas de crédito de R$ 4,1 milhões com custo subsidiado para ajudar corretores e fotógrafos que operam pela plataforma, em parceria com a startup Mova.
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Outra iniciativa, lançada há mais tempo, mostra-se particularmente relevante nas atuais circunstâncias. Desde 2015, quando implementou uma garantia que assegura o pagamento de aluguéis atrasados a donos de imóveis, a QuintoAndar diz ter pago R$ 200 milhões a quase 20 mil proprietários, um valor que acompanhou a trajetória de crescimento da empresa nos últimos anos. Cerca de R$ 50 milhões deste total foram pagos entre março e junho de 2020.
A garantia, que cobre todos os proprietários que alugam pela plataforma, baseia-se no motor de análise de crédito da startup, que utiliza tecnologias como inteligência artificial e Big Data para atrair clientes mais propensos a pagar. O modelo ressalta o diferencial da startup em tempos desafiadores, segundo o cofundador e CEO da QuintoAndar, Gabriel Braga.
“A crise não era desejada por ninguém, mas tem trazido consequências positivas para nós, no sentido de fazer com que as pessoas entendam e valorizem o que oferecemos como proposta de valor”, diz o empreendedor, em entrevista à Forbes.
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O modelo utilizado pela QuintoAndar também contribui para que a inadimplência não tenha sido tão severa quanto a startup havia antecipado, segundo Braga, mesmo que uma “parcela significativa” dos inquilinos tenha precisado renegociar valores, também através da plataforma.
“De forma geral, acho que o mercado está retomando super bem. Logo nos primeiros dias da crise, fizemos várias simulações esperando pelo pior, e o que a gente observou desde então foi uma retomada muito forte, tanto no mercado de aluguel quanto em compra e venda“, aponta.
Outro trunfo da empresa na pandemia é a digitalização de todas as etapas do processo de aluguel, carro-chefe da empresa, que anunciou a entrada no segmento de compra e venda no fim de 2019. Segundo Braga, proprietários, inquilinos e corretores têm se mostrado mais abertos ao modelo digital, que possibilita a eliminação quase total do contato físico. A exceção é a visita presencial, e até este estágio pode ser precedido de um tour virtual.
“[Com a digitalização, o processo de locação] fica mais conveniente, mais seguro para todo mundo. Observamos um aumento tanto na procura quanto na predisposição para usar o modelo online”, ressalta o fundador.
OPORTUNIDADES NA RETOMADA
Presente em 30 cidades nas nove regiões metropolitanas do país, a QuintoAndar está monitorando as mudanças em curso no setor de habitação, bem como potenciais oportunidades de negócio. Comentando sobre as tendências do momento, Braga observa que as pessoas têm mudado a forma como pensam sobre o local onde moram.
“Todo mundo está trancado em casa e procurando alternativas, às vezes indo para o subúrbio ou para o interior: teremos que ver o quanto isso se sustenta depois que as coisas voltarem ao normal”, constata.
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Entre as possíveis respostas a estas novas necessidades está a oferta de contratos de aluguel mais curtos e flexíveis (a QuintoAndar atualmente trabalha com contratos de 30 meses). A startup também está estudando modelos que combinam o aluguel e a compra e pretende experimentar um deles no Brasil.
“Nos próximos anos, a tendência é ter alguns modelos híbridos: ao invés de ter essa dicotomia 8 ou 80 onde ou você aluga ou compra, ter algo no meio do espectro”, aponta o fundador, referindo-se a modelos onde é possível alugar para depois comprar, ou mesmo o modelo de shared ownership, onde se compra porcentagens de um imóvel ao longo do tempo, e paga-se aluguel sobre a porção que ainda não foi adquirida.
Com a adesão massiva ao trabalho remoto e o crescente interesse por localidades fora das grandes cidades, Braga diz que a expansão para lugares que ainda não estavam no radar da QuintoAndar também está entre as possibilidades para o futuro. Isso poderia se dar em parceria com empresas tradicionais do setor imobiliário, um modelo que a startup já utiliza em sua operação atual.
“Ainda é cedo para falarmos que [o interesse por moradias no interior] viabiliza a nossa expansão em várias outras cidades de médio porte imediatamente. Temos que agir com cautela, não adianta abrir se for uma operação pequena: temos que abrir e ter uma certa atenção na cidade, para ter relevância”, explica.
IMPACTO SOCIAL
Para além das tendências, Braga comenta sobre a função social do negócio. Segundo o fundador, esse impacto positivo é verificado em exemplos como a realocação de pessoas para os centros urbanos, tornada possível através da desburocratização que o modelo digital da QuintoAndar oferece.
“Gradualmente, vamos tratar a questão de affordable housing, ou seja, tornar a moradia mais acessível para camadas da população que hoje são vistas como marginalizadas. Isso é algo que me entusiasma bastante,” aponta.
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Segundo Braga, é possível transformar as cidades através de modelos inovadores de moradia. “Hoje, as cidades ainda são muito segmentadas, existem regiões onde só um determinado tipo de pessoas conseguem morar e, na verdade, uma diversidade de classes sociais é necessária para que bairros existam de forma mais harmônica.”
Uma transformação mais profunda das cidades através de tipos mais baratos de moradia está presente nos planos da empresa, bem como as intenções de expansão internacional, para mercados como o europeu e asiático.
“Este ano resetou todos os planos, mas as demandas e os problemas a serem resolvidos, assim como as oportunidades, vão continuar existindo. Tivemos este parênteses nos últimos meses, mas isso não muda nossa visão de longo prazo”, ressalta.
Segundo Braga, o período inicial da pandemia viu a QuintoAndar “jogando na defesa”: a startup buscou fazer com que proprietários continuassem recebendo, inquilinos morando e corretores operando. Fazer com que a força de trabalho de mais de 1 mil funcionários pudesse operar remotamente e se ajustar às demandas de um mundo que ainda está longe do normal foi outra prioridade.
No ano passado, a proptech consolidou seus diversos escritórios, anteriormente baseados na Avenida Paulista, em um novo endereço no bairro paulistano da Vila Madalena. A startup tinha desacelerado as contratações durante os meses de pandemia, mas agora busca recrutar cerca de 200 profissionais até o fim do ano. O momento atual, segundo Braga, é de virar a chave.
“Não dá para ficar só na lamentação ou na defesa, então estamos retomando os planos de mais agressividade no crescimento nas linhas que já tínhamos definido”, frisa. Para os próximos meses de 2020, o empreendedor espera que os temas predominantes na primeira metade do ano sejam superados.
“No final deste ano, eu ficaria feliz se chegarmos ao patamar que planejamos, de uma forma sustentável. Espero que as coisas continuem na trajetória que estão, mas ainda há muita água para correr quando se trata das consequências de longo prazo da crise.”
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