A healthtech Sami acaba de receber um aporte de R$ 86 milhões – a maior rodada Série A já registrada para uma startup de saúde na América Latina – coliderado pelo Valor Capital Group e pela monashees. O montante se soma aos R$ 5 milhões recebidos no ano passado da Redpoint eventures e Canary e vai subsidiar a entrada da startup no mercado dos planos de saúde.
Até então, a healthtech criada em 2018 por Vitor Asseituno e Guilherme Berardo vinha atuando no fornecimento de soluções para resolver gargalos no sistema de saúde, como alto custo, ineficiência e baixa qualidade no atendimento médico. A partir de agora, a startup passará a funcionar também como uma operadora, com atendimento, nesse primeiro momento, a empresas de pequeno e médio portes e profissionais liberais de São Paulo. Para os empreendedores, a recente regularização da telemedicina durante a pandemia fez deste o momento ideal para essa expansão no modelo de negócios.
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“A tecnologia continua sendo nosso core business, o produto final é que está mudando”, explica Asseituno, que também é médico. “O que estamos fazendo agora é aproveitar todo o potencial da telemedicina e o nosso expertise com dados e outras ferramentas para criar um modelo de negócios de seguro saúde mais eficiente e, ao mesmo tempo, com custo menor.”
O presidente da Sami explica que se inspirou nos modelos britânico e californiano do médico de família – profissional que além de ser a porta de entrada do paciente no sistema de saúde, faz um acompanhamento macro de sua jornada e histórico. “Antes da telemedicina era mais difícil ter um modelo como esse em função dos prazos entre uma consulta com o clínico geral e outra, com o especialista. Mas agora, com a agilidade de um primeiro atendimento remoto, onde cerca de 80% dos problemas podem ser resolvidos, e a combinação com a análise de dados, é totalmente possível não só encaminhar o paciente para a especialidade necessária – caso seja realmente o caso – como encaminhá-lo para o melhor profissional daquela modalidade”, diz Asseituno, explicando que o sistema proposto contempla também atendimentos presenciais.
Um dos principais entraves à eficiência dos atuais sistemas de saúde – responsável, inclusive, pelos altos custos e reajustes anuais acima da inflação – é o desperdício. Exames e consultas sem controle, muitas vezes desnecessários ou sem continuidade, encarecem os produtos disponíveis no mercado. “A medicina não é algo barato. Mas a má medicina é ainda mais cara”, diz ele.
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Além da redução de custos pretendida com esse acompanhamento “corpo a corpo” do paciente, a Sami vai oferecer, aos primeiros 1 mil interessados (pessoas jurídicas ou profissionais liberais) que se cadastrarem na fila de espera aberta hoje (20), um ano grátis de Gympass, plataforma de cuidados com a saúde que contempla mais de 55 mil academias e 46 apps diretamente relacionados ao bem-estar – incluindo educação financeira. “O objetivo é focar na saúde e não na doença. A prevenção é parte essencial da nossa operação e, para isso, precisamos analisar a vida do paciente como um todo.”
MODELO DE REMUNERAÇÃO DIFERENCIADO
Para convencer os grandes players de mercado a fazerem parte do negócio – o primeiro parceiro é a BP (Beneficência Portuguesa), um dos mais avançados complexos hospitalares privados da América Latina, e a rede Labi Exames, ambos em São Paulo –, a empresa aposta, em primeiro lugar, nesse relacionamento estreito entre o médico de família e os pacientes. “As pessoas desconfiam quando o médico não pede exames, acham que ele está de má vontade ou economizando recursos do plano de saúde. Mas isso nem sempre é necessário. E, quando o médico é de confiança, não há essa suspeita. Isso otimiza muito os recursos.”
O outro argumento é um modelo de remuneração diferenciado, que quebra o círculo vicioso existente hoje, no qual os médicos recebem pouco por procedimento e, em muitos casos, precisam ganhar no volume – o que gera mais consultas e mais retornos. No caso da Sami, os profissionais da saúde serão pagos independentemente da quantidade de atendimentos e de acordo com sua avaliação periódica de desempenho, garantindo a qualidade da rede.
Asseituno garante que mesmo pagando mais aos médicos e cobrando menos dos pacientes – em média, de 10% a 20% na mensalidade para uma rede equivalente, além do reajuste anual, que será regulado pela inflação ao contrário das correções de dois dígitos da maioria dos contratos – a conta fecha e a operação é sustentável. “A prevenção reduz significativamente os custos médicos, a confiança no profissional evita desperdícios e a tecnologia de dados ajuda a combater fraudes e a otimizar processos”, explica. A Sami conta, ainda, com ferramentas de reconhecimento facial e de documentos e prevê um processo totalmente digitalizado de contratação. “As negociações com as empresas são 100% digitais e levam apenas alguns minutos para serem concluídas, assim como o envio de toda a documentação e o pagamento com cartão de crédito.”
O especialista compara o modelo de saúde proposto pela Sami ao dos bancos digitais. “Quando estes começaram a operar, as taxas caíram significativamente graças ao ganho de eficiência. O mesmo vai acontecer na saúde digital”, diz ele, de olho no segundo maior mercado privado de saúde do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Atualmente, cerca de 180 milhões de brasileiros não possuem um plano de saúde, o que faz com que a empresa – que tem como sócios também Paulo Veras, ex-CEO e fundador da 99 (primeiro unicórnio brasileiro), Sérgio Ricardo dos Santos, ex-CEO da Amil, e Alan Warren, ex-vice-presidente do Google – também já estude produtos para pessoas físicas.
Para Rodrigo Baer, partner da Redpoint eventures, é preciso repensar completamente o setor de saúde no país. “Com os incentivos desalinhados e a falta de gestão, o custo dos planos de saúde tem crescido de maneira insustentável, ou seja, cada vez menos pessoas conseguem pagar. A proposta é redesenhar o sistema, alavancando a disponibilidade de dados e o acompanhamento do paciente, para garantir atendimento de qualidade e custos controlados”, diz.
Por enquanto, as empresas interessadas nos planos da Sami – que contemplam o rol determinado pela ANS (Agência Nacional de Saúde) – devem se inscrever na lista de espera. O início das operações está previsto para novembro em São Paulo. Asseituno não arrisca uma expectativa de vidas contempladas até o fim do ano, mas garante ter condições de escala para suprir um potencial boom na procura. “Durante a pandemia, construímos um modelo de negócios totalmente digital e fundamentado em parcerias que facilita muito a ampliação. Não precisamos construir hospitais para atender um número maior de clientes ou operar em outras cidades. Além disso, o novo aporte nos garante fôlego suficiente para investir em tecnologia, remuneração à altura dos médicos que queremos na nossa rede, marketing e reserva técnica de capital.”
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