Para atender à crescente demanda por profissionais de diversos perfis para atuar na inovação e reinvenção de empresas, a startup Toti aposta na expansão de seu modelo de formação e na interseccionalidade para formar centenas de refugiados para a economia digital em 2021.
A empresa carioca nasceu em 2016 de uma ideia de sete colegas de faculdade, de áreas que vão desde relações internacionais até engenharia mecânica e que, na época, tinham uma média de 18 anos de idade. O acolhimento de refugiados no Brasil atingia níveis recordes, e os cofundadores decidiram focar na criação de empregos de alta qualidade para a diáspora.
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“Vimos que estes imigrantes eram normalmente direcionados para subempregos, e buscamos quebrar esta lógica. Testamos várias áreas de atuação, como gastronomia e empreendedorismo, mas queríamos algo diferente, inovador e que impulsionasse a carreira destas pessoas de fato, e chegamos em tecnologia“, explica Caio Rodrigues, fundador e CEO da Toti, em entrevista à Forbes.
Com a ajuda inicial de pioneiros na educação de tecnologia no Brasil como Camila Achutti, cofundadora da Mastertech, a Toti criou sua metodologia própria, focando em desenvolvimento full-stack. Em parceria com o WeWork no Rio de Janeiro, começou a formar pessoas, e no ano passado, recebeu a chancela de dois órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU). A parceria com estas organizações ajudou a aumentar a visibilidade da startup junto a refugiados, e gerou recursos para comprar computadores e oferecer subsídios de até R$ 600 para os estudantes das turmas.
Além da atuação como um negócio social, o modelo da Toti oferece diferentes possibilidades comerciais. A empresa atende organizações humanitárias, como a Visão Mundial, que contratam a startup para ajudar a qualificar imigrantes de países como Síria, Venezuela e Congo, que na maioria das vezes são obrigados a recomeçar do zero no Brasil. Além disso, a startup conecta empresas aos formandos, e possibilita a criação de turmas personalizadas para atender às demandas da contratante.
Ao passo que o treinamento em tecnologia pode acelerar a recolocação destas pessoas na sociedade e o processo de adaptação no Brasil – o trabalho na área oferece um incremento de 182% na renda dos refugiados, segundo dados da Toti -, os refugiados apresentam um meio interessante de suprir as demandas de empresas por alta qualificação e diversidade, segundo Rodrigues.
“Nos posicionamos como um agente de mudança para somar às estratégias de diversidade das empresas, trazendo o superpoder da interseccionalidade do refugiado, já que sob este guarda-chuva podemos encontrar homens e mulheres negras, da comunidade LGBT, pessoas com deficiência”, diz o cofundador, acrescentando que das mais de 300 pessoas que se inscreveram no processo seletivo da Toti, 73% são graduados ou pós-graduados e 63% são trilingües.
Em seu programa de quatro meses, que é gratuito para os alunos, a startup busca trazer uma formação holística e forma os refugiados em competências técnicas, e aspectos comportamentais com conteúdos focados em auto performance e trabalho em equipe. Isso se soma ao pacote de características que refugiados normalmente apresentam, vistas como bônus por empresas que usam o serviço da Toti, como a VTEX, Volanty e Tecnologia Única.
“Muitas destas pessoas tinham um padrão de vida elevadíssimo em seus países de origem e, por conta de uma guerra civil, como no exemplo do Congo, tiveram que deixá-los. Isso faz com que essas pessoas tenham uma garra para reconquistar o que tinham e um comprometimento muito maior [em relação ao empregador]”, ressalta Bruna Amaral, cofundadora da Toti.
Com a impossibilidade de continuar as aulas na pandemia, que até então aconteciam presencialmente, a Toti precisou digitalizar seu modelo de formação. Mais do que uma simples adaptação, a reinvenção possibilitou um salto de desenvolvimento da empresa, que conseguiu implantar um modelo de formação mais breve e em sua maioria assíncrono – ou seja, o aluno acompanha as aulas em seu próprio ritmo e ganha mais autonomia.
Além disso, a startup agora consegue formar mais pessoas, em qualquer lugar. Para além de suas origens no Rio, a Toti agora treina refugiados que hoje estão em São Paulo, Roraima e Amazonas, e deve expandir a atuação para o sul do país, bem como outros mercados da América Latina, como o Peru. O número previsto de formandos também deve aumentar significativamente: a previsão no formato presencial era de entregar 40 profissionais ao mercado de trabalho. Com o método online, os fundadores antecipam uma meta inicial de 210 desenvolvedores até o final de 2021.
No entanto, esta expectativa do número de formandos diz respeito somente aos cursos de programação e deve ser superada com a expansão da formação oferecida pela Toti para outras áreas. Segundo Bruna, o portfólio de cursos vai aumentar para incluir disciplinas como gestão de transformação digital, experiência do usuário (UX), marketing digital e carreiras relacionadas à computação em nuvem.
Com o amadurecimento do negócio da empresas e as novas possibilidades oferecidas pela atuação junto a organizações humanitárias e também empresas de diversos setores, Bruna diz que a Toti caminha para a sustentabilidade financeira: “Nosso objetivo é atingir o break-even, através deste modelo híbrido”, afirma a empreendedora.
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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