O que poderia ter sido um ano muito difícil para o avanço das smart cities no país revelou-se uma grande oportunidade. A pandemia de Covid-19 provou que é impossível viver desconectado. “Infelizmente, a conectividade é um recurso que num país com dimensões continentais ainda não é pra todo mundo”, diz Susanna Marchionni, italiana responsável, ao lado de Giovanni Savio, pela fundação da Planet Smart City, com sede em Londres, mas presente no Brasil desde 2015. “Por isso, morar num lugar conectado, com engajamento – e acessível –, significa ter as portas abertas para o mundo e isso é sinônimo de empoderamento.”
A estreia da companhia em São Paulo, a Viva!Smart, teve sua primeira fase, na Bela Vista, anunciada no primeiro semestre do ano. Batizado de Aquarela, o empreendimento, que adotou o modelo vertical – ao contrário das cidades inteligentes de Laguna e Aquiraz, no Ceará, e Natal, no Rio Grande do Norte, que são horizontais –, contou com a parceria da InLoop, empresa com expertise no mercado imobiliário local, e teve todas as 240 unidades residenciais vendidas, com direito a lista de espera. São três modelos de plantas, com tamanhos que variam de 35 a 50 metros quadrados.
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Até o final deste mês, será lançada a segunda fase, na Freguesia do Ó, com outras 505 unidades e entrega prevista em dois anos, e, em 2021, mais dois empreendimentos: um em Itaquera e outro no Jabaquara, zonas leste e sul da capital, totalizando 2.500 unidades, com valores médios estimados de R$ 6 mil o metro quadrado.
Apesar da diferença nos projetos, Susanna diz que os benefícios em termos de conectividade e colaboração são os mesmos. Todas os empreendimentos contam com mais de 50 soluções inteligentes nas áreas de tecnologia, meio ambiente, inovação social e planejamento e arquitetura. São, por exemplo, facilidades como serviço de compartilhamento de bicicletas, academia que gera energia cinética, câmeras de videomonitoramento nas áreas comuns, hub de inovação, iluminação pública inteligente, plantas que não precisam de água e wi-fi, entre outros.
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Para a executiva, no entanto, um dos principais recursos é o aplicativo gratuito, batizado de Planet App, capaz de promover a troca de serviços, produtos e informações entre os moradores, otimizando recursos e até fomentando o empreendedorismo local – algo que também ganhou impulso durante a pandemia. “Mães com filhos na mesma escola podem, por exemplo, combinar um esquema de rodízio. Grupos podem se juntar e fazer compras coletivas, o que gera economia. Isso sem falar na venda de produtos caseiros e na prestação – ou troca – de serviços, de um jeito profissional que vai muito além dos tradicionais grupos de Whatsapp”, diz, explicando que a coordenação dessas iniciativas ficam a cargo do gestor social, que tem um papel que vai muito além do de síndico como conhecemos hoje. Susanna lembra, ainda, que algumas implantações – como lâmpadas de led nas áreas comuns e o reuso de água – contribuem não só para a redução no valor do condomínio como para a preservação do meio ambiente.
PRÓXIMOS PASSOS E INVESTIMENTOS
Com os projetos da capital paulista em andamento, Susanna agora parte para conquistar outras terras. A Smart City Bahia, em Camaçari, está em fase final de aprovação e tem prazo de lançamento estimado no primeiro semestre de 2021. A segunda fase de Aquiraz, município do litoral leste do Ceará, a 35 quilômetros do centro da capital Fortaleza, também já está prevista para o próximo ano.
A vontade recém-adquirida das pessoas, principalmente das grandes metrópoles, de se transferirem para cidades mais tranquilas – também legado da pandemia –, não passou despercebida pela empreendedora. Susanna adianta que está visitando áreas em Campinas e São José dos Campos – cidades do estado de São Paulo com potencial para a construção de smart cities horizontais, nos mesmos moldes das unidades do Nordeste.
Os quatro empreendimentos da capital paulista vão consumir, no total, investimentos de R$ 100 milhões. Já os da região Nordeste custam entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões cada. “São projetos muito grandes. Estamos falando de áreas de 200, 300 hectares, que contemplam 15 mil pessoas”, diz ela, que também trabalha em parceria com desenvolvedores em todo o mundo para revitalizar bairros e cidades por meio da integração de soluções inteligentes.
Na Itália, por exemplo, com o Palladium Group, a Planet transformou o bairro Quartiere Giardino, em Milão, e presta consultoria ao REDO, o primeiro bairro inteligente inclusivo da cidade, financiado pelo Lombardy Real Estate Fund e gerido por REDO SGR. No que diz respeito à expansão internacional, o próximo passo da companhia é a Índia.
INSATISFAÇÃO COM A CONECTIVIDADE
Outro fato que vai impulsionar o desenvolvimento das smart cities no médio prazo é a insatisfação das pessoas com os serviços digitais. Um recente estudo do Instituto de Pesquisa Capgemini revelou que a vida nas cidades atualmente está aquém das altas expectativas dos cidadãos na era digital. O levantamento ouviu 10 mil cidadãos e mais de 300 autoridades municipais em 10 países e 58 cidades – incluindo o Brasil – e descobriu que muitos deles estão frustrados com a atual estrutura das cidades em que vivem e estão prontos para partir para regiões mais avançadas digitalmente. Em média, 40% dos residentes podem deixar suas cidades no futuro devido a uma variedade de questões problemáticas, incluindo frustrações digitais.
Batizado de “Street Smart: Putting the Citizen at the Center of Smart City Initiatives” (ou “Ruas Inteligentes: Colocando o Cidadão no Centro das Iniciativas de Cidades Inteligentes”, em tradução livre) revela que mais da metade das pessoas (58%) considera que as cidades inteligentes são sustentáveis e fornecem uma melhor qualidade dos serviços urbanos (57%). Isso explica por que mais de um terço deles (36%) está disposto a pagar mais por essa experiência urbana enriquecida. No entanto, existem sérios desafios à implementação, principalmente em termos de dados e financiamento.
A Capgemini descobriu que apenas uma em cada dez autoridades municipais diz estar em estágios avançados de implementação de uma visão de cidade inteligente e menos de um quarto (apenas 22%) começou a implementar iniciativas de smart cities – um grande desafio. Prevê-se que um terço da população mundial viva em uma cidade até 2050, com o número de megacidades aumentando de 33 hoje para 43 em 2030. Além disso, existe um desejo global considerável de cidades inteligentes entre os cidadãos, o que significa que uma abordagem acelerada seria bem recebida.
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