A investidora anjo e empreendedora serial Camila Farani vendeu seu hub de inovação para mulheres empreendedoras Ela Vence para o banco digital e plataforma de investimentos Modalmais. O movimento é parte de uma estratégia do banco para reforçar sua presença junto ao público feminino e ampliar seu escopo de atuação, conforme apurou esta coluna.
Concretizada há cerca de duas semanas, esta é a terceira aquisição do Modalmais em 2021, que comprou a empresa de pesquisa Eleven e escola de formação de profissionais para o mercado financeiro Proseek, depois da plataforma de agentes autônomos Investir Juntos, comprada em dezembro de 2020.
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A compra da Ela Vence foi feita no formato acqui-hire, modelo de aquisição utilizado por empresas como o Nubank, em que a empresa compradora adquire o capital humano da organização a ser absorvida. Como parte da transação, Camila se torna sócia do banco, que tem mais de 1,1 milhão de clientes e fez um pedido de abertura de capital na B3 ontem (24), em que pretende captar recursos para investir em áreas como tecnologia, além de mais aquisições.
A investidora irá presidir um comitê focado em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), que tem como objetivo redefinir e mensurar a estratégia do Modal nesta área. Juntamente com Camila, devem migrar para o banco pessoas-chave da Ela Vence, de funções operacionais, experiência do usuário (UX) e ciência de dados.
A absorção da plataforma de empreendedorismo feminino pelo Modal acontece em menos de três meses após o lançamento da Ela Vence, em novembro de 2020. O hub, formado para estruturar a criação de conteúdo orgânico produzido por Camila desde 2018, foi catapultado com a pandemia e impacta aproximadamente 30 mil mulheres em território nacional com conteúdo e networking focado em empreendedorismo. Entre as áreas de foco para a empresa, estão a implementação de tecnologias como inteligência artificial, aprendizado de máquina e deep learning para fazer a análise avançada de comportamentos e entregar conteúdo de forma mais assertiva.
Desde seu lançamento, a oferta da empresa foi incrementada com uma linha de crédito para empreendedoras do BNDES entregue através da Parciom, fintech que está entre os investimentos de Camila, que entre suas diversas atividades é uma das sócias do fundo early-stage G2 Capital. O portfólio de empresas investidas por Camila inclui outras empresas alinhadas com a proposta da startup vendida para o Modal, como a Wakanda Educação Empreendedora, fundada pela empreendedora soteropolitana Karine Oliveira.
O QUE MAIS ME CHAMOU A ATENÇÃO NESTA SEMANA:
HYPE DO CLUBHOUSE PERDE FORÇA NO BRASIL
Depois de um pico de interesse, o hype da plataforma de conversas por áudio Clubhouse parece estar perdendo força no Brasil – é o que sugere um estudo da empresa de inteligência social e pesquisa Sentimonitor, obtido com exclusividade por esta coluna.
A análise, feita entre os dias 8 e 17 de fevereiro, levou em conta 96.172 postagens publicadas em plataformas como Twitter, Instagram, YouTube, sobre o Clubhouse. A pesquisa notou uma drástica queda em engajamento nas postagens durante o período:
Para efeito de comparação, a repercussão de variações da palavra Clubhouse na internet em certo ponto chegou a ser maior do que a palavra “café”, que é uma das mais populares nas redes sociais.
Porém, no mesmo período, houve um declínio rápido e acentuado no engajamento em relação a plataforma: o número de mensagens sobre o Clubhouse nas redes caiu de 16.779 mensagens no dia 8 de fevereiro para 3.485 no dia 17, totalizando uma queda de 79.2%.
Segundo Luís Felipe Evers, diretor de operações da Sentimonitor, a popularização do aplicativo, que foi lançado nos Estados Unidos em março do ano passado, explodiu no Brasil em função de uma conversa em que o fundador da Tesla e SpaceX, Elon Musk, participou no início de fevereiro, e viralizou.
“A partir de agora, o crescimento pode acontecer com novos picos de sobe e desce. Esse vai e vem pode ter um sentido ascendente,” explica Evers, acrescentando que a dinâmica de crescimento do aplicativo por aqui está diretamente relacionada a boa experiência dos usuários, a geração de conversas com “personalidades-âncora” dentro do app e, no futuro, a liberação da versão para Android.
Enquanto isso, o Clubhouse continua ganhando popularidade na China: trata-se de um dos sites mais populares no país, segundo pesquisa da NordVPN. Acessado através de VPNs – redes virtuais privadas amplamente utilizadas pelos chineses para contornar o bloqueio de sites pelo governo – o aplicativo é a sétima plataforma mais popular no país, depois do Google, YouTube, Facebook, Twitter, Gmail e Snapchat.
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MARCO LEGAL DAS STARTUPS FRUSTRA SETOR
A versão do Marco Legal das Startups que foi votada ontem (24) pelo Senado decepcionou os atores do ecossistema. O projeto, que define o conjunto de regras para o funcionamento do setor, foi aprovado por unanimidade e teve mudanças, feitas pelo relator do texto no Senado, Carlos Portinho.
O texto estava na pauta de terça, e chegou a ser lido, mas a falta de consenso sobre alguns pontos – como a participação de startups em licitações para contratos com o poder público – empurraram a votação para ontem, que foi precedida de um intenso lobby por parte dos atores do ecossistema, que buscaram apresentar sugestões ao relator.
A influência não gerou os efeitos esperados. Uma das modificações que frustraram o setor é a remoção da possibilidade de utilização de stock options como remuneração, em que é possível pagar pessoas que trabalham em startups através da participação nos lucros da empresa.
A Federação Assespro, que reúne as associações do setor de tecnologia no Brasil e compõe o Grupo Consultivo Técnico do Comitê Nacional de Iniciativas de Apoio a Startups, disse não ter antecipado que “um projeto tão bom” pudesse ficar “tão ruim a cada dia e a cada movimentação nas casas legislativas”.
“A supressão do capítulo de stock options e dos incentivos de natureza tributária para inovação tecnológica, só demonstra a incapacidade e a incompreensão dos nossos legisladores no tocante ao futuro da inovação”, disse Italo Nogueira, presidente da Assespro, em nota. O grupo pretende tentar emplacar outro projeto posteriormente.
LEIA MAIS: Votação do Marco Legal das Startups no Senado ignora pedidos do setor
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QUANTO, DE OPEN BANKING, ATRAI INTERESSE
A implementação do Open Banking, modelo que visa permitir que consumidores controlem suas próprias informações financeiras e aumentar a competitividade do setor, tem atraído o interesse de empresas estrangeiras e de investidores, de olho nas possibilidades de negócio trazidas pela introdução do modelo no Brasil.
Esta é a visão de Ricardo Taveira, CEO da Quanto, uma das protagonistas no atual movimento de democratização no acesso a serviços financeiros no país. A Quanto oferece uma plataforma baseada em application programming interfaces (APIs), que funcionam a partir da anuência do consumidor para compartilhar seus dados e permitem a distribuição de produtos financeiros, tanto por fintechs quanto por incumbentes do setor, como bancos.
O interesse desse último grupo se reflete na rodada de US$ 15 milhões que a fintech levantou em setembro de 2020, liderada pelo Bradesco e Itaú Unibanco. Taveira, que não revela os nomes de seus clientes mas diz atender os maiores nomes do setor com suas soluções, não descarta uma nova rodada de investimento este ano.
“A reação até agora em termos de adoção [das soluções da Quanto] e o quão rapidamente conseguimos desenvolver este mercado tem sido muito surpreendente”, comenta o fundador, em resposta a questionamentos sobre um possível novo aporte. No entanto, Taveira diz que o foco atual da Quanto é garantir que seus clientes estejam prontos para a segunda fase do Open Banking, que vai envolver o compartilhamento das informações de consumidores, e deve começar em julho deste ano. O Open Banking, que teve início neste mês, será introduzido em quatro fases no Brasil, com conclusão prevista para dezembro.
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CAPGEMINI CONTRATA LÍDER DE INOVAÇÃO DA IBM
A Capgemini reforçou seu foco em inovação aplicada com uma contratação de peso. Sílvio Dantas, que até recentemente estava liderando as iniciativas de inovação disruptiva na IBM, e antes disso liderou a transformação digital de empresas como a Volkswagen, foi contratado pela multinacional de consultoria, como diretor do Applied Innovation Exchange (AIE) no Brasil.
O AIE, que está presente em 21 países e recentemente ganhou uma filial em São Paulo, é um ecossistema de inovação que busca antecipar tendências e adotar abordagens inovadoras e inéditas para responder a desafios práticos de organizações que contratam a consultoria francesa. Dantas deve fazer a ponte entre os centros internacionais e o Brasil para atender os clientes locais, com foco em tecnologias como nuvem, análise de dados, inteligência artificial e experiência do cliente e do colaborador.
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação e comentarista com duas décadas de atuação em redações nacionais e internacionais. Colabora para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros. Escreve para a Forbes Tech às quintas-feiras
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